Quando perguntarem por mim...

Quando perguntarem por mim, diga que eu fui embora!

Talvez eu esteja só lá fora esperando que a chuva que cai na minha cabeça se transforme em uma gripe, muito forte, pra que eu fique de cama e assim você venha me visitar só pra saber como eu me sinto.

Pode ser também que eu esteja só na casa da minha amiga mais próxima, falando pra ela sobre todas as vezes que eu escrevi cartas pra você e arquivei em um chat privado que eu tenho com o teu antigo contato do Telegram, e que você nunca mais vai recuperar o número porque fui eu quem te pedi pra não fazer.

Ou até talvez, eu só esteja por aí andando sem rumo esperando que minhas pernas comecem a doer de tanto caminhar pra cima e pra baixo do meu bairro silencioso e monótono, até que eu tenha que voltar pra casa só pra saber que a última mensagem que mandei, falando que amava você, só foi lida e ignorada e que vai ser respondida com uma carinha feliz e um joinha e vai ficar por isso mesmo porque não vai fazer a mínima diferença.

Então eu vou só esperar que toda bola de neve volte a crescer, enquanto deixo que meus sentimentos caóticos façam algum sentido pra mim, enquanto eles se consomem em uma batalha interminável de vontades que nunca vão ser ditas de novo, porque essa já é a vigésima vez que eu te digo e você diz ser frio e não ter sentimento nenhum, então pra que teria importância de tentar dizer de novo? Mas eu vou dizer de novo, não por você, mas porque eu sou teimoso e incompreendido comigo mesmo, e talvez eu nunca tenha tido afeto suficiente quando criança, e por isso procuro suprir a ausência de qualquer outra coisa, em você, porque foi a única pessoa que ficou aqui depois de tantas outras que me tiveram pela metade e me descartaram por completo sem sequer se perguntarem se eu as amava ou só estava ali servindo de bode expiatório pra o ciúmes de outro alguém.

É, mas lembra disso, quando perguntarem de mim pode dizer que eu morri!

Morri de temores e amores que eu nunca realmente direcionei a ninguém, era só a minha vontade insaciável de me fazer atendido com a importância de gente que nunca se deu ao trabalho de saber meu sobrenome do meio, que eu não digo muito porque tenho raiva dos traumas que minha família me deu, ou até mesmo nunca se prestou a perguntar porque eu odeio tanto meu aniversário, que é pelo único motivo de que tantas e tantas pessoas só lembravam de mim nele, enquanto que no restante dos outros 364 dias do ano sequer sabiam como eu estava ou o que eu estava sentindo enquanto descobria pouco a pouco os deleites e defeitos dessa vida conturbada.

É, quando perguntarem de mim, pode dizer que eu tô no quarto lendo a última postagem que fiz, fala que tinha um texto bonito nela que eu escrevi chorando pra ninguém ler, mas que eu queria deixar registrado pro caso de um dia eu me tornar famoso e ela servir pra dizer como eu tava naquele dia.

E se não precisarem de mim, pode dizer só que eu fui dormir...

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 19/03/2023
Reeditado em 06/07/2023
Código do texto: T7743892
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