UMA CARTINHA PARA O PAPAI E A MAMÃE...ME CORRIJAM E ME DIGAM UM "NÃO"...

"Papai e mamãe, vocês me dão tantas coisas, mas no fundo sinto que não preciso de tudo isso.

Estou escrevendo esta cartinha e dizer que estou me sentindo sufocada por tantos excessos.

Às vezes, sinto uma angústia, um vazio dentro de mim, não sei como falar isso para vocês.

A noite quando estamos todos juntos, eu queria dizer tudo isso, mas as conversas são poucas dentro de casa.

Quando fico triste, logo vocês me perguntam o que eu quero " ganhar de presente"; não consigo falar dos meus sentimentos.

E quando eu quero chorar, vocês abafam as minhas lágrimas, como se eu não pudesse sentir tristeza .

Sei que vocês me amam; vocês trabalham muito e talvez tentem compensar esse tempo que não ficam comigo "me presenteando".

E quando fico com muita raiva por algum motivo, vocês logo tentam conter isso me distraindo com outras novidades .E fico vulnerável às minhas reações, pois sou uma criança ainda.

E quando estou na escola e alguém me chama atenção, eu não sei lidar bem com isso.

Em casa, vocês nunca me repreenderam , mas sei que faço muitas coisas erradas. Talvez eu precise que vocês me ajudem a entender o que são "limites".

Tenho medo lá na frente quando estiver sozinha, e eu não souber lidar com o "não"; sei que a vida vai me reservar muitos "nãos".

Papai e mamãe, eu gostaria apenas que vocês demonstrassem mais o amor e o afeto que vocês sentem por mim de outras formas.

Sabe, mesmo tendo tanto, eu não estou feliz, vocês vão conseguir enxergar isso?

Da próxima vez, me corrijam também para eu não confundir o certo do errado , não abafem as minhas dores e digam um "Não" para mim!.

Com carinho, desta filha que ama muito vocês"!

"Nas famílias é muito comum pais que trabalham muito, compensarem as suas ausências no "dar" coisas aos filhos, no que acabam se excedendo.

Não conseguem falar sobre os próprios sentimentos; dessa forma, não abrem espaços para que os filhos falem o que estão sentindo.

Não conseguem também lidar com as reações inesperadas dos mesmos, sentimentos como a tristeza, raiva, melancolia, não são reconhecidos pela criança, que acabam não vivendo as suas dores e esse "abafar" acaba trazendo muito sofrimento ; as crianças precisam dar vazão às suas emoções.

Penso que a família está ficando adoecida pelos "excessos" , pois é mais fácil "dar" do que "educar" , pois educar é realmente muito trabalhoso.

As famílias também ao não conseguirem impor regras e limites aos filhos, acabam formando jovens e crianças com dificuldades de lidar com o "Não", não reagem assertivamente às suas frustrações, pois a eles tudo é dado e permitido.

Junto a isso, o modelo de sociedade, a cultura, o padrão familiar está favorecendo a formação de jovens e crianças para um comportamento "narcísico" não saudável, com baixo limiar às dores e às frustrações.

Aos pais cabem o papel de reconhecerem o padrão familiar que está sendo imposto aos seus filhos e tentarem, quando necessário, alterar o modelo para não penalizarem os mesmos quando eles estiverem caminhando sozinhos em sociedade.

Para isso é preciso que os próprios pais "se olhem" e estejam abertos para reverem as suas próprias carências, para então poder alterar essa dinâmica familiar, se necessário".

Para Kohut, a constituição do narcisismo saudável junto com uma frustração ideal põe o indivíduo no rumo da capacidade de ver o mundo como ele é, aceitar a realidade da sua morte, confiar na própria intuição e empatia, encontrar fontes de criatividade e humor e, no fim, conquistar alguma sabedoria.

Conceitos de Psicanálise.

Narcisismo.