BEIJO-TE NA SAUDADE

Pai, eu queria te beijar.

Pegar tua mão e segurar.

Queria te abraçar fortemente.

Como antigamente.

Queria teu olhar, tuas palavras.

Queria conversar.

Como naquele tempo.

Sob as murtas quanto dialogamos!

Estou lembrando um dia que ficamos acompanhando o desenvolver de um cacho de marimbondos.

De binóculo nas mãos ficávamos a olhar, a olhar, a olhar...

Meu querido, em certas horas eu gostaria de voar.

De ir ao infinito e voltar.

Aqui duas criaturas tão amadas precisam de mim.

Não precisam tanto assim.

Mas eu gosto de com elas estar.

Sabes de quem estou falando.

Pai, eu segui nesta vida amando.

Tu viste meu sofrer?

Viste como ficou insuportável meu viver?

E como eu consegui superar?

Viste, meu querido, que agora estou mais valente?

Será que isto te deixa mais contente?

Eu sempre fui tua filha querida.

E o amor segue depois desta vida?

Eu queria entender o que existe além da porta da morte.

Mas aqui é silêncio... aqui é só para viver e aguardar as respostas depois que morrer.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 22/12/2007
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T788228
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