Carta à velhice

Uberlândia-MG, 11 de setembro de 2023

Querida velhice!

Aos poucos estou chegando. Alguns percebem; outros dizem que disfarço.

Venho andando com cuidado para chegar bem, na medida do possível. Sem atropelos e no tempo.

Tenho cuidado das flores; tenho tentado dar o melhor de mim, não me importando com quem seja.

Tenho amado tanto a poesia, mais que antes; ela e as suas verdades nas entrelinhas.

Sei que cada amanhecer é um degrau que galgo, sabendo que você é o meu norte; ainda assim sorrio a cada nascer do sol e agradeço pela dádiva de mais um dia.

Aventuro em me parecer mais elegante, mais alinhada e isso não tem nada a ver com me forçar parecer jovem; ciente disso. É um zelo comigo mesmo; não gasto meu dinheiro com cremes antienvelhecimento, os resultados doem muito mais do que o próprio envelhecer.

Vejo pessoas se atirando nos mares dos procedimentos, tentando lhe evitar; a primeira onda é até legal; as próximas batem com muita força e o que fazem é deformar o que poderia ser bonito; aí sim, as dores na alma são profundas pela decepção da não parada do tempo.

A superfície pode parecer lisa, mas as cicatrizes são bem mais profundas.

O meu bigode chinês, foi inevitável e o meu código de barras perioral indica que a minha validade está em dia. Que é assim o processo.

Espero encontrá-la bem melhor do que vejo e do que me dizem.

Estou chegando e é possível que fique morando com você, até o fim; não sei dizer quanto tempo.

Com carinho!

Raquel Ordones

Raquel Ordones
Enviado por Raquel Ordones em 11/09/2023
Reeditado em 11/09/2023
Código do texto: T7883346
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