Vó Severina, suas cartas, suas memórias

Guarabira, 6 de Outubro de 2023.

Minha querida avó, Severina

É com muito saudosismo que neste instante, não pego na minha caneta, mas sob o toque dos meus dedos sobre a tela do celular (os tempos mudaram, minha vó!), escrevo essas poucas linhas para lhe falar da saudade que sinto das tantas vezes que escrevi suas cartas, todas ditadas, com tanta paciência e sob a suavidade da sua voz.

Sempre atenciosa para comigo, a senhora chegava lá em casa. E me pedia para que escrevesse uma ou mais cartas. Tão logo eu pegava o papel e o lápis e os colocava sobre a mesa, o tema vinha à tona e o assunto direcionado, sempre ligado aos familiares, principalmente aos seus filhos, no caso, meus tios.

A senhora, mesmo sendo considerada analfabeta, para mim sempre foi letrada, pois tinha uma sabedoria infinita, comandava e exercia influência sobre as palavras, ditando-as com pausas, que não me deixava dúvida onde colocar um ponto ou uma vírgula.

A cada carta aprendia muito. A cada emoção, palavras de saudades, lágrimas que rolavam pela sua face e seu olhar mirando um ponto qualquer da sala, eu me envolvia com o texto e o contexto, suspirava profundamente e acreditava em cada uma das afirmações, interrogações e vontade de estar ao lado de seus filhos, em especial, tio José, que morava no Rio de Janeiro, e era um dos seus preferidos.

Minha querida avó, Severina, muito obrigado por ter confiado em mim, por ter me proporcionado a experiência de escrever cada uma das suas cartas. Pelo carinho e amor que me dedicou e ofertou-me presencialmente. Muito obrigado por tudo.

Com muito afeto e respeito, despeço-me neste instante, na certeza de que a senhora está descansando nos braços de Deus.

Com carinho,

seu neto,

André, que, carinhosamente, a senhora chamava de Zezinho.

André Filho Guarabira
Enviado por André Filho Guarabira em 06/10/2023
Reeditado em 06/10/2023
Código do texto: T7902357
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