Guarda-chuva

Gastei de mim todas as forças que tinha pra fazer par com tua expressão de querer, no fundo, eu achava que se tentasse muito eu te faria ter a coragem de entrar no meio da tempestade que é amar alguém fora do teu padrão.

Só que eu me enganei, e com isso eu desrespeitei a tua posição e a tua existência, mais do que isso, eu não considerei que você respeitou a minha, e por isso te pedi perdão.

Te desejar me fez querer remontar em você como eu via o mundo, como eu interagia com a realidade e como eu gostava de contemplar a chuva e ficar no meio da tempestade, eu achei que você, assim como me levou pra brincar no mar em meio a chuva, também conseguiria me permitir te puxar pra um beijo em meio a cachoeira que eram meus sentimentos, só que não é assim que funciona, pra você o mar é teu alento, pra mim, é um pedaço de sobrevivência, você pode até nadar comigo na chuva, mas nunca conseguiria afundar no mar comigo, teus olhos não foram feitos pra água salgada, e mesmo que usasse meus óculos, uma hora te faltaria oxigênio pra respirar.

Eu queria te fazer respirar o máximo que pudesse embaixo d'água, queria poder compartilhar meu fôlego quando nossos lábios se tocassem no fundo, queria que contemplasse a infinidade da sensação que é ter a mim como mais que amigo, e olha só, eu te prometi ser teu amigo, e talvez eu não tenha respeitado a posição que eu mesmo teimei em dizer que aceitaria ficar, e sim, é por essa posição que eu me quebrei, mas tuas palavras enfim me tomaram uma nova realidade, um caminho que não é nem meu nem teu, o caminho que não te faz ceder e nem me faz me desgastar mais, como disse.

Como canta a letra sobre tempestades acima do guarda-chuva, eu te prometi ficar, prometi ser teu amigo independente de tudo que tivesse que passar, só que a partir de agora também serei egoísta, se a chuva cair, eu não vou compartilhar essa proteção tola de pano e metais torcidos, eu só quero me divertir dançando na chuva enquanto aquele item de metal coleciona água virado de ponta a cabeça.

E se minha tempestade não é o que você quer pra vida, bom, isso não vai me impedir de festejar em pleno mar, porque acima de tudo, eu sei dançar no meio do caos, eu sei compreender que, como um ser que nasceu pra habitar na água, eu preciso me manter nela, e procurar alguém que habite nela, não seria justo contigo te levar pra sobreviver respirando puramente o ar que eu te desse, quero que se sinta bem, então aproveite o teu ar, aproveite a tua forma de respirar, nossos caminhos estarão a um passo de distância, porque eu consigo sair do mar pra te visitar, mas não te pedirei mais pra tentar visitar minhas águas, elas não iriam ser gentis em te manter vivo, porque você nunca foi feito pra viver na minha profundidade.

Meu abraço agora escorrega pela pele molhada, não espere minha guarda, ou dança na chuva comigo ou se esconda sobre alguma árvore que lhe restar, mas tema os raios, tema o vento que possa derruba-la, e me tema, eu serei inundação junto com a chuva, eu serei o tsunami breve que em um único instante afoga casas, carros, prédios e pessoas, mas não se preocupe, eu nunca te afogaria, eu farei com que o meu mar passe através de você como o partir das águas que nunca foram escarlate, eu não quero teu sangue pra manchar meu maremoto, mas estarei do teu lado quando precisar sentir como é a força desse mar em meio a tempestade.

E por isso, repito que ainda deve me temer, porque é esse temor que te fará ficar, se recuares, nunca mais terá coragem de entrar nas águas, e se o risco te convidar, fará com que se afogue, então me teme, me teme e me observa, como os mortais temem a divindade enquanto não se arriscam em sair de sua linha de submissão, eu sou a tempestade, eu sou a chuva, eu sou as águas mais malucas que poderia ter conhecido um dia... e sabe o guarda-chuva que mantive em mãos até agora, bem, ele agora afunda mar adentro, e nenhum de nós agora o procura pra guardar.

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 10/11/2023
Reeditado em 10/11/2023
Código do texto: T7929212
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