Tantas lágrimas te amaram

 

Sabes que o amor que te sinto é puro, sem mácula, é tão sublime e forte. Resistiu ao tempo, as horas sem cais, aos rios em transbordos de noites insones e caladas.

 

Tantos silêncios se passaram, tantas lágrimas que escorreram caladas e doloridas e se transformaram em pérolas de uma palavra escrita.

 

E a tristeza e a dor fizeram poemas que os outros leram como fossem tesouros construídos do cimos de felicidades. E o sofrimento teceu cartas que encantaram o mundo e desvelaram sentimentos que, ao seu tempo, soavam inacreditáveis.

 

E costurei minha vida à tua numa usina de palavras. Juntei trapos aqui e ali e cozinhei sandálias para vestir minha ampulheta do tempo da cor da sua. Acertei nossos relógios, mas depois descobri que eras atemporal, não te prendias aos calendário da parede.

 

Revesti meu corpo de cores e vestidos das mulheres que amastes para que me visses, para que me percebesses e teu espírito se enganasse e me amasse como eu te amava. Estudei, corri atrás de filósofos para que me identificasses como alguém que te compreendia e que tinha um mínimo de sabedoria.

 

Tentei, por anos e anos ser quem eu não era porque achava que podia te agradar e você me achar em alguma linha de tua vida. Desejei tanto ser Manuela, Rosinha, Helena e tua Maria. Quis ler lua, céu, estrela, desejei ser mar, rio, terra. Em tudo busquei ser um grãozinho para que pudesse merecer uma gota de teu amor, um só olhar teu em minha direção.

 

Quis rasgar o silêncio, quis que ele deixasse de ser, para que eu não precisasse mais carregar o seu peso, assim como o peso de uma lágrima que beirava meus olhos em cada noite, em cada manhã em que acordava e não te encontrava no teu jardim de flor e poesia.

 

Escrevia sem parar com a esperança de encontrar uma letra, uma poesia que pudesse tocar você a ponto de se voltar e me reconhecer como quando as almas e tocam...

 

Eu quis você, com todo o sentido que a palavra fala. Eu desejei ser borboleta para adentrar teu quarto e perambular por tua face. E chorava fogo de dor pelos olhos porque tua alma não se sensibilizava as minhas cartas de julho nos tempos de silêncio, pelas que voltaram me dizendo que não eram recebidas, pelas que acreditavam quando dizias que nunca mais haveria silêncio e que nunca mais seria a dor que havia sido...

 

E naveguei céus e mares em busca de teus olhos, à procura de tuas mãos, Adentrei espinhos desejando ouvir tua voz. Foram tantos silêncios bebidos, tantas lágrimas mastigadas... Foram tantas lágrimas que te amaram, tantas lágrimas que te adoraram, tantas lágrimas que escreviam e desenhavam o meu amor...

 

Trilhei poemas para encontrar a palavra mágica, a senha que abrisse as três portas de teu coração... E o dia em que, trêmula e timidamente, disse teu nome... as asas se abriram e voaram até você... planei os céus em busca de tua nuvem, subi escadas como uma águia para alcançar as portas de tua torre.... entrei como um vento... para te abraçar, sentir tua lágrima...

 

Te espero? perguntei... Não! me respondeste... Hoje eu sei: eu o encontrei. Fui eu! Desde a primeira vez... fui eu... no jardim de primeira página, nos corredores da vida, em nosso espaço de amor... onde estou... com você... sempre junto, perto, dentro...