Ao meu opíparo confessor F. G. B

Rio de Janeiro, 13 de dezembro do ano de Nosso Senhor de 1810.

Estimado confessor, espero que esta carta vos encontre em paz e bem.

Do lado de cá não tenho boas novas se não os novos tormentos que meus pecados causam dia e noite.

O homem a quem eu confessei amor apenas queria-me como a uma meretriz por uma noite, juntamente com mais uma senhora de índole duvidosa.

Como isso me feriu meu senhor. Desde então, vejo-me a caminhar sob uma corda de saltimbanco de onde um lado impera um desgosto nojoso e do outro subjulga-me a insalubre obsessão pelo devasso.

Oh Deus perdoe-me pois outro dia o vi de meu jardim a beijar uma despudorada. Como desejei serem os meus lábios a tocarem os dele... Como desejei arrancar o coração dos dois... Como desejei tê-lo embalsamado em meus aposentos por toda a minha vida.

Oh senhor confessor, ore por minha alma se ainda houver tempo, pois a todo momento sou tomada por ímpetos e desejos sanguinolentos contra ele e a meretriz que com ele está... Para salvaguardar-me do inferno tenho rezado rosários ajoelhada em caroços de milho... Mas sei que não estou salva.

Portanto, salvai-me homem de Deus.

Estou vos enviando uma quantia para as causas de caridade. Não me alongarei nesta carta. Aguardarei fervorosamente a vossa carta com minha penitência.

Rubra Venéfica.

Rubra Venéfica
Enviado por Rubra Venéfica em 10/12/2023
Código do texto: T7950757
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