CARTA PARA INÁCIO

Querido Inácio

Não sou pessimista, tão pouco, um otimista tolo. Devo lhe dizer, que acredito piamente que podemos construir um país melhor, mas reconheço que isso é trabalho para décadas e que deverá ser erigido a partir de uma base sólida que tenha os pilares da educação e trabalho como principais vigas de sustentação.

Certamente não é fácil governar um país como o nosso, e estamos nesse momento em suas extremidades. Você no leme, e eu, na casa de máquinas, que aqui, se você me permite, simbolizarei pela azáfama das ruas, que são as artérias dessa pátria amada, que cada um de nós, a nosso modo, amamos, ou nos enganamos pensando amar. Tenho ouvido suas afirmações com ênfase para o crescimento. Por aqui também vi crescer o preço do pão, do feijão, carne, leite e outros insumos básicos dessa sexta já tremendamente básica.

Querido capitão dessa imensa nau chamada Brasil, minha compreensão sobre economia é muito pouca, mas percebo, esquadrinhando e apalpando as ruas, que por aqui há uma brisa contraria a vosso discurso, materializada no célere aumento do comércio informal e de pontos comerciais com a placa de aluga-se. Toda via devo admitir, que há crescimento sim, de instituições de crédito que pululam de uma maneira extraordinária e transformaram-se em verdadeiras armadilhas, principalmente para incautos aposentados. Essa saraivada de dinheiro fácil faz a festa do comércio e da indústria, mas isso é um crescimento aparente, que mais do que comemorado, deve ser refletido e analisado com cuidado, porque o caminho para honrar a dívida certamente será demorado e penoso para milhões de tripulantes de sua nau.

Como já deu para perceber, não sou muito bom de carta, alias, não sei se bom em gênero literário algum, mas garanto, este é apenas um esforço, cuja pretensão é fazê-lo ver que a coisa não está tão boa como dizem esses discursos bem bolados que lhe fazem ler, e que você nos quer fazer acreditar. As ruas meu caro, estão em fogo, os assaltos se repetem e aumentam em proporções absurdas. A polícia, que deveria garantir a segurança, virou uma polícia conselheira, ensinando a população como se comportar diante de um assalto. Os presídios estão abarrotados, a saúde, na UTI.

Sabe meu caro, outro dia fui até uma lotérica pagar contas. Contas, claro, recheadas de tributos: ICMS,PIS,COFINS, etc,etc. O sujeito que estava à minha frente, bem vestido por sinal, fez vários jogos e na hora de pagar sacou um cartão do bolsa-família entregou para o caixa que retirou a quantia devida e lhe entregou o restante. Sabe como me senti? Um trouxa.

Mas agora, nesse exato momento me ocorreu uma dúvida que julgo necessário esclarecer e só depois, quem sabe, continuar com essa carta. Se é que posso chamar a isso de carta. Será que você em seu discurso, e eu, em minha pretensa carta estamos falando do mesmo país?