Uma Carta para André

Querido André,

Na tarde quente de verão, do dia 30 de dezembro de 2007, domingo de céu nublado, assisti ao "seu" belíssimo filme: Uma Carta de Amor...

e as palavras se foram, mil pensamentos e lembranças me vieram assim, como o vento que toca a face e despenteia longos cabelos, e inundaram minha mente... meus olhos... e escorreram suavemente quentes pelo rosto...

mergulhei nas personagens, me vi em Robin Wright Penn, me senti um pouco Garret e também um pouco Catherine... a história, a fotografia, a música e a sensibilidade dos diálogos, de tudo...

compreendi perfeitamente porque é o "seu" filme, e também o escolhi para chamá-lo de "meu"...

Trechos das cartas do filme expressam, de forma incrivelmente fiel, o que gostaria de dizer-lhe, e por isso resolvi transcrevê-los em muitos momentos desta carta: (1ª carta de Garret para Catherine) ..."Eu ainda acho que cometemos alguns erros...

e espero que Deus os repare... sinto por muitas coisas. Sinto por não ter cuidado melhor de você... sinto por não ter buscado com afinco palavras para expressar o que eu sentia. Sinto por não ter brigado com você. Por não ter pedido mais desculpas. Eu era muito orgulhoso(a). Sinto por não ter feito mais elogios... sinto por não tê-la(lo) abraçado com tanta força... que nem Deus poderia tirá-la(lo)"

(3ª carta de Catherine para Garret)"... Esta é uma mensagem e uma prece. A mensagem é que minhas viagens (minha vida) me ensinaram uma grande verdade. Eu já tinha o que todos procuram... e poucos encontram: A única pessoa no mundo... que nasci para amar eternamente... uma pessoa rica de pequenos tesouros...

A prece é para que todos possam conhecer esse amor e que todos possam ser curados por ele.

(aqui abro um parêntese para dizer-lhe o que talvez você não sabe: assim como, na história do filme, Garret foi para Catherine, você foi meu porto, meu norte...)

Se minha prece for ouvida, será apagada toda a culpa... e todo o arrependimento. E o ódio terá fim. Por favor Deus. Amém."

A cada cena, a cada diálogo, a cada acontecimento, sentia como se o autor do enredo tivesse invadido minha alma e tivesse retirado dela todos os sentimentos, inclusive aqueles mais íntimos, mais bem guardados...

Existem segredos que vou lhe revelar agora:

Guardei a folinha de papel em que escreveu seu telefone e endereço, lá em Aracati, naquele fantástico carnaval em que conheci você, onde nossa história começou...(lembro-me dos nossos rostos cobertos por uma máscara branca de maisena, é uma imagem deliciosamente engraçada),guardei também algumas cartas que me escreveu, fotos... todo o resto ficou gravado na minha memória, na minha alma...(como por exemplo, aquele belo pôr-do-sol que assistimos juntos, na ponte metálica)

O enredo do filme tem muito a ver com a nossa história.

Lembra de um dos diálogos em que Garret conta para Theresa que a família de Catherine achava que ele seria âncora na vida dela... que coincidência, acho que já fui também considerada "âncora", pela sua família, em sua vida...

Foi o melhor filme que assisti nos últimos tempos. Passou outro filme também maravilhoso em minha mente enquanto o assistia.

(2ª carta de Garret para Catherine) "...Você está em todas as minhas horas... e todo o tempo as memórias chegam como as marés."

Você me fez sentir vida em meu coração, lembrar de como é amar alguém... sentir-se apaixonado...

imagino, que ao assistir a este filme, tenha experimentado algumas sensações idênticas às minhas. Eis algumas minhas: Perdi o grande amor da minha vida; o verdadeiro amor é único, imutável e eterno; e não sei se foi o caso, mas achei também que você quis me dizer através do filme que encontrou outro amor em sua vida.

Se assim o foi, fico triste por mim, por não ser eu quem esteja hoje ao seu lado, mas, mais feliz por você, por estar vivendo novamente o amor... eu não tive tanta sorte...

Aqui, peço emprestadas as palavras do escritor do enredo do filme: "Talvez a maioria de nós escreve a sua própria história... à medida que o tempo passa. Mas outras parecem ter vidas já moldadas e planejadas... inevitáveis... perfeitas como um círculo.

Se algumas vidas formam um círculo perfeito, outras são modeladas de modos nem sempre compreensíveis. A perda faz parte da minha jornada, mas também me mostrou o que é precioso. Assim como um amor, ao qual só posso ser grata."

Desculpe-me se um dia não fiz a coisa certa... não disse as palavras certas...

Lembrei-me agora de Drumond: "Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam de amor se não fossem ridículas..."

Não pense porque lembrei deste verso de Drumond, acho esta carta ridícula...

Obrigada por este maravilhoso presente de fim de ano(o filme e tudo o que ele me trouxe, assim como uma carícia de brisa no rosto). Neste dia 30, choveu em nosso sertão, o que não acontecia há um bom tempo. Para mim, foi um sinal de esperença de vida nova. Lembrei-me agora destes lindos versos de uma música de Maria Betânia: "...é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz para poder sorrir, é preciso chuva para florir..."

Contudo, há uma certeza: você permanecerá sempre em meu coração, nas minhas mais doces lembranças e na minha maior saudade...

Com Amor,

Françoise.