Querida Mãe

Beijo-te a alma com carinho,

Até porque me ensinaste que a alma é eterna e somente nela, quando dormindo, posso tocar-te com a mesma ternura com que me dedicaste toda a vida e que transcende a qualquer sensação física.

Sabe, mãe, há muitas noites não vens me visitar nos sonhos, estou carente e inundada de saudades tuas. Sei que és muito ocupada nessa freqüência onde habitas, pois com certeza te tornaste um anjo e voas planeta adentro espalhando eflúvios de bondade e perseverança a todos. Por conta disso não é fácil ser tua filha. E isso vejo nos olhos dos meus filhos quando tenho que me despedir deles e partir para todas as labutas que acabei buscando nesta existência.

É difícil, querida progenitora, ser mãe quando se é uma figura cheia de inquietudes como eu. Acho que herdei de ti este espírito de lâmpada incandescente, que não para de gerar energia e não me deixa desacelerar nunca. É sim, mãe, herdei de ti. Vês? Carga genética metafísica, e dizem que isso não existe.

Mas prometi a mim mesma que neste ano que se iniciou irei buscar mais paz na vida, inventarei menos coisas, tentarei dar conta e bem do que já me propus a desempenhar, mas nada de aumentar a rotina e isso te prometo também. Estava louca pra te contar isso, mãezinha, afinal és minha melhor amiga e como não tens vindo me ver em sonhos eu estou traçando esta simples missiva.

Por falar em me ver, olha que hilário! No dia 2 de novembro disseram-me que era o teu dia e queriam que eu fosse até aquele lugar frio onde supostamente estarias.

Ora, sei muito bem onde estás e de todas as tuas ocupações. Sei que jamais estiveste naquele lugar porque tu és mais que o templo que um dia te aprisionou. Estás em cada semente plantada no coração dos teus entes, teus filhos, teus alunos, todos, todos, todas as pessoas que tiveram a honra de te conhecer, e dentre elas, privilegiadamente, eu.

E sei que até nestas limitadas linhas e entrelinhas que ouso caligrafar tu estás, porque poesia, poesia não é o que escrevo, poesia foi a tua vida, verdadeira mensagem publicada em letras garrafais neste meu coração insaciável. E a tua poesia está em mim e dela não me solto, podes ter certeza, pois enquanto eu viver neste pequeno planeta, viverás também, porque a tua vida eu carregarei pra sempre atrelada à minha.

Mãe, aqui vou terminando estes dizeres emocionados, porque lágrimas já me vêm absurdamente e quando isso ocorre sei que é porque já estás lendo e chorando também, por mim e pelo mundo que não tivestes tempo de consertar.

Não me respondas agora, quero que venhas me abraçar, quando cansada eu me entregar ao peso da noite e puder dedicar todo o meu tempo a ti e a tudo o que puderes me ensinar ainda.

Amo-te muito, mamãe e me despeço mais uma vez, com o olhar úmido, direcionado ao horizonte que tanto admiras.

Beijos sentidos e tua bênção.

Nalva
Enviado por Nalva em 03/01/2008
Reeditado em 07/03/2014
Código do texto: T801768
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