Diálogo interno: algo do amor que não deveria ser novidade alguma

Por esses dias li que dormir ao lado de quem a gente ama garante um sono reparador devido ao contato físico que eleva os níveis de oxitocina. Essa substância estimula sentimentos de empatia, relaxamento e redução da ansiedade.

Admito que não aprofundei a pesquisa sobre a oxitocina e não posso afirmar se a informação está completa.

Mas ao ler que dormir ao lado de quem a gente ama me fez pensar.

Sempre acordo com dores nas costas, as vezes pescoço também. Já estava me acostumando a isso e já não tenho noção de quantos comprimidos de dipirona devo ter tomado no último mês. A dor nas costas leva a uma dor de cabeça, as vezes enxaqueca. É terrível. No passado, quando era uma criança, minhas dores de cabeça atravessavam o dia, as vezes durando até o dia seguinte. Com o passar do tempo e a frequência a Novalgina nem fazia mais efeito. 

Eu já tinha feito exames que nada apontaram. Tudo aparentemente em ordem. Foi um médico de um hospital público do Centro da cidade do Rio de Janeiro que receitou Neosaldina. 

A partir daquele dia eu vencia todas as enxaquecas. 

O tempo passou, eu cresci, as dores de cabeça quase sessaram. Eram episódios pontuais, mas não raros, que ela me atacava.

Cheguei a fase adulta. A vida turbulenta me trouxe além das dores de cabeça a dor nas costas.

Troquei recentemente meu colchão porque achei que estaria ali o problema, mas mesmo com o novo a melhora foi pequena.

Após ler os benefícios de dormir ao lado de quem se ama fui rapidamente levado a uma memória.

Nunca escondi de ninguém que tive um grande amor na minha vida e não posso fugir de admitir que o sinto vivo em mim até hoje.

Naquele tempo, juntos, eu dormi na casa dos pais dela. Foi algo que só aconteceu uma vez. Mas a lembrança ficou marcada.

A cama era dura - o que é uma benção para as costas. 

Eu e ela passamos a noite juntos. Estar ao seu lado me fazia sentir uma sensação incrível que até hoje tenho dificuldades de explicar. Era como dormir e dormir com ela fossem coisas de universos diferentes.

Pela manhã me lembro de sentir sua mão deslizando pelas minhas costas. Minha mente eternizou vários momentos ao seu lado. Alguns mais simples e outros mais emocionalmente intensos, mas todos ótimos momentos.

Esse foi um momento simples mas até hoje ele vive em mim. A lembrança daquela mão pequena quase me faz reviver aquele momento tão simples, mas tão importante pra mim.

De lá fui para o meu trabalho. E devo dizer que meu dia rendeu demais. Eu me sentia renovado, feliz e muito bem disposto.

Pensei que aquela cama poderia ser a razão de toda essa energia. Cheguei a pensar em comprar um colchão desses para mim. 

E aqui a informação da oxitocina se encaixa.

Recentemente troquei meu colchão por um de maior densidade. Seria duro se fosse um modelo antigo. 

Dormi as primeiras noites achando que acordaria com aquela disposição de seis anos atrás. Os dias passaram e eu parei de esperar por isso.

Nunca foi o colchão, óbvio, era ela. Nenhuma noite minha repetiu aquele dia ou chegou perto de parecer os dias que dormimos juntos.

Nosso amor me revigorava. Estar ao seu lado melhorava a minha saúde...

Penso nisso agora. Mais uma coisa que ela fez por mim que se somam as várias outras.

Eu a amava consciente e inconscientemente. 

Mas fui ridículo ao não viver esse amor que pulsa aqui dentro até hoje.

Todas as noites que passamos juntos só tinham um problema, o Sol nascia e mais um dia começava. Compromissos e obrigações formaram um oceano em torno de mim. Primeiro me senti uma ilha, depois senti que afundava nesse mar.

Nunca deixei de amá-la e sinto que nunca vou deixar. Sim, tentei viver novos relacionamentos, mas não importaram. Sempre foi ao lado dela que me senti bem, que senti que podia desmoronar e ela estaria ali com sua mão estendida para me ajudar a levantar. Ao lado dela eu podia ser eu.

Sinto muitas saudades dela.

Me envergonho porque após seis anos eu ainda tenho fichas caindo na minha cabeça. Sinto que eu mesmo desconheço toda a dimensão do que eu sinto por ela. Talvez seja de outras vidas.

Mas essa consciência continua emergindo e com ela o desejo de reparar-me.

A Lua, meu narizinho de batata...

Por que diabos estou aqui se ela está lá? O passado foi duro com nós dois. Coisas aconteceram mas podemos sim estar ao lado um do outro! Para que carregar essa dor se está a poucos passos de mim - literalmente alguns milhares de quilômetros- o bálsamo que pode mudar essa realidade?

Por que a gente sente que o mundo acaba quando tudo dói?

Não! Isso está errado! Por que me prender as ótimas memórias dos momentos que vivemos se podemos construir o nosso futuro? Por que diabos me acorrentei ao passado? Estúpido!

Não! Está tudo errado! Para que vivermos no passado se podemos construir um futuro? Mais explicitamente, por que eu estou me sujeitando a isso? A vida não acabou para nós. 

Não! E mais uma vez, não! 

Todo mundo merece ser feliz e eu estou aqui me flagelando sem razão alguma pra isso. Se quem eu amo, quero na cama ao meu lado, também me quer.

Quero meu mozão comigo.

Fui ridículo, fui estúpido, mas nem de longe significa que seja o fim. Será se eu quiser que seja.

Eu quero um futuro ao lado dela. Quero ela ao meu ladinho na cama. E não quero mais viver no passado quando se tem tanto pela frente!

Porra! Eu dou um duro danado, no mínimo tocar quem eu amo todos os dias eu devo merecer já que ser milionário, pelo jeito, não está no meu destino.

Desculpe se o texto não está bom, mas é que minha ficha foi caindo enquanto eu o escrevia.

Ninguém precisa se prender. Todos merecemos ser felizes e isso inclui estar com quem a gente ama se essa pessoa também sente o mesmo por nós. 

Vou encerrar com uma frase que escrevi muito tempo atrás num conto que fiz para ela, a pedido da própria, e que hoje percebo que foi uma orientação da minha própria consciência sobre tudo que viria a seguir... ou nesse momento a frase se encaixa perfeitamente.

E se for muito mais do que eu imagino?

Cientificamente falando agora: quero mais oxitocina.

John Raskólnikov
Enviado por John Raskólnikov em 03/05/2024
Reeditado em 04/05/2024
Código do texto: T8055249
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