HOJE ELE ME FEZ CHORAR

Não pensei que voltaria aqui visitar a dor, até mesmo porque é plural. E não direi que não entendo os questionamentos dele, pois já percebi que são recorrentes há anos. Há sete anos para ser mais precisa. Meu Deus, um ciclo completo!

Ele nunca conseguiu sair da roda, mesmo eu avisando que um dia ele seria atropelado por ela. A mesma roda que ele não consegue parar de girar. Hoje vejo que de fato ele não consegue. Aliás, faz tempo que vi, mas é que hoje, ele me fez chorar.

Não recordo a última vez que peguei neste note para escrever cartas (minha modalidade preferida aqui no recanto), para ele ou para desabafar acerca de qualquer evento. Pego apenas para escrever meu livro que será publicado em outubro.

Eu disse que não iria parar a roda e sim quebrá-la sobre vários aspectos e diversificadas áreas da minha vida. Essas memórias e questionamentos internos que todos têm. Entendi que é um moinho fixado numa lagoa que move as mesmas águas. Sim, se faz necessário para o habitat da lagoa, mas chega uma hora que movimentar as águas de um mesmo lugar por muito tempo é desgastante. Determinei-me a movimentar um rio.

Hoje ele me fez chorar porque mexeu com tudo o que poderíamos ter vivido, sido e realmente sentido. Na pele, no tato, no olfato, no paladar, no olhar e até de maneiras transcendentais. Mas ele insiste em apenas rememorar. Isso me dói. Traz a dor de volta, para ele e desta vez trouxe para mim de novo. Não é a primeira que ele faz isso de ficar costurando pano velho em tecido novo.

Ele não entendeu nada até hoje! Diz que as fichas ainda caem. Ele ainda está na época das fichas, meu Deus! O pior é que de tanto insistir em desistir, hoje sem querer ele me arrastou. Ele se devasta e me arrasta. E vai pedir desculpas e depois vai fingir que está tudo bem ou dizer que não está tudo bem. Ou dizer que vai virar a página, mas não irá. Ou que irá lutar por nós, mas também não irá. Ele vai morrer assim e isso é triste demais!

Ele me fez chorar porque escreve coisas lindas e eu o culpo. Fui “vagabunda” por três vezes, sendo que todas sem ser. A única vez que fui foi para ele, no melhor e no pior sentido da palavra. Meu corpo era dele, minha mente, meus sonhos eram para ele. Meu filho escolheu ele.

Fui vagabunda para o tio do falecido pai do meu filho em Magé. Ele sabe por que fui tratada daquele jeito e que tinha a ver com ele também. Assumi meu amor por ele nas redes sociais. Corri o risco de expor a nossa felicidade e abri a brecha perfeita. E mesmo assim não me chamou para morar com ele.

Então, foi a primeira vez em que pisei numa delegacia por causa da mesquinhez e da pequenez da alma humana. E foi dentro deste contexto que mencionei em um dos episódios das minhas chagas: “Pro inferno eu fui pela primeira vez.” A queixa teve de ser retirada, tendo em vista que a Lei Maria da Penha havia sido indeferida, não por falta de provas, mas pela curta distância entre as casas em que viviam o agressor e eu. Pelo menos foi a explicação dada na época.

Até hoje ele fala daquele maldito coma que ele teve e que a família dele teria de enterrá-lo pouco tempo depois de ter enterrado o seu pai. Ele não entendeu que se aquele meu portão estivesse aberto, hoje eu poderia estar morta e meu filho órfão de pai e de mãe? Que também poderia enterrar a mãe sem mesmo ter ido ao enterro do próprio pai? E que meu filho com sete anos de idade pediu para chamá-lo de pai, coisa que não fez com mais ninguém? Que de forma espontânea e carinhosa chamou o pai dele de avô, antes do seu falecimento? Eu, nós demos nosso tudo, nosso mundo para ele e por causa disso também perdemos tudo!

Fui vagabunda no Sul, porque ele não me deixou deixá-lo por completo e quando retornei continuou sem me convidar para estabelecer uma união com ele. E que por conta disso novamente fui parar em uma delegacia e “pro inferno eu fui pela segunda vez.” A queixa novamente eu retirei, mesmo com o aconselhamento da delegada para que não o fizesse. Tive pena do infeliz e certamente depois me arrependi de não ter dado prosseguimento.

De novo ele fala do maldito coma e novamente ele não entendeu que ao chegar no Sul, minha primeira parada foi num hospital por estar tendo um ataque de ansiedade e pânico? Tive que ser estabilizada com batimentos cardíacos altos. Cada quilômetro que eu ficava mais longe do meu filho, meu coração apertava. As únicas imagens que me vinham deitada naquela maca com todos aqueles aparelhos e eletrodos eram a dele e a do meu filho. Ele não entendeu que foi o maior de tempo que fiquei longe do meu filho em sete anos, sendo um total de 15 dias?

Em sequência, pela terceira vez fui vagabunda no Norte para aquele que era para socorrer e que só fez correr. Consegui superar ‘Faroeste Caboclo’, parando pela terceira vez em uma delegacia, indo para o inferno pela terceira vez. Meu Deus! Quantas almas pequenas, quanta gente ingênua, quanta gente covarde! Umas por agirem em excessos e outras porque não agem!!!

Esse o desfecho está em aberto, mas espero que pague!

Aprendi a gostar de humor, Stand Up e piadas de humor negro. Sou fã de muitos, mas aprendi com a experiência do comediante Leandro Lino, mais conhecido como Léo Lins. Quem conhece a sua história vai entender. Ele se reinventou após seus cancelamentos e disse: “Antes não era de propósito, agora é!” O cara que foi cancelado por fazer piadas com doenças e pessoas deficientes, hoje é aclamado pelos próprios deficientes. Já são assim e se não dá para mudar, por que não rir? Eu entendi o Léo. As pessoas são hipócritas demais!!!

Se no primeiro “sua vagabunda” que eu ouvi na minha vida, ele tivesse me tirado daquela lagoa, já estaríamos no mar há sete anos, tendo vivido rios de amores. Fui três vezes vagabunda sem ser. Teria evitado a segunda e a terceira vez. Teria evitado minhas três idas ao inferno.

Estou terminando meu primeiro livro de cunho sensual. Será meu primeiro e último trabalho neste estilo. Disse para o meu revisor que não é algo que desejo levar para meus futuros trabalhos. Não ficarei colando meus cacos, mas não aceitarei que nenhum pedaço do que já fez parte de mim, fique caído infrutífero no caminho.

De uma única frase marcante na qual ele me disse naquela rodoviária a noite, consegui fazer uma poesia. Ficou controversa por conta do sentimento que vivemos ali, mas eu precisava adaptar para apimentar e enquadrar na proposta do livro. É inédita, mas faço questão que ele saiba que foi inspirado nele.

Ao despedirmos numa noite na rodoviária, nos beijamos longamente e ele disse: “Nossas bocas fizeram amor com os lábios e todo o restante do nosso corpo sentiu inveja.” Ele tinha dessas de me abraçar com as palavras também. Transformei essa frase de amor em uma poesia para o meu livro. A poesia chama-se: Gozo de Puta. Pois é, nunca foi de propósito, agora é!

Se for para me tornar vagabunda por uma quarta vez, pare de escrever sobre nós. Pare de ficar parado! Juro que se eu for pela quarta vez ao inferno, ficarei lá! E é exatamente isso que aquele que 'só corre' quer. Seria uma forma dele se vingar de mim? Ou se vingar dele mesmo por ter sido tão fraco esses anos todos? É assim que ele quer que eu termine por tudo de bom que ele alega que eu fui e fiz para ele e por ele?

Peço! Se não sente a capacidade de desaguar, não fique tentando me arrastar para a sua lagoa.

Acabo de secar as lágrimas...