Ao vestido branco

Caro vestido,

passei esta manhã por uma vitrine e lá te encontravas. Estranhamente, nunca havia notado que tipo de loja era aquela e nunca havia pensado em parar para observar o que era exposto nela. Passei inúmeras vezes naquela rua em direção à agência bancária, local mais importante que qualquer loja, principalmente esse tipo de loja na qual estavas.

Sabe, vou te falar um pouco sobre mim, não me entendas mal: me orgulho muito de ser uma mulher moderna, meu romantismo está mais preso aos textos, livros e filmes do que propriamente à minha vida. Sou dona do meu nariz, troco pneu, chuveiro e faço sozinha a maioria das coisas para as quais a mulheres, em geral, dependem de alguma figura do sexo masculino.

Lembro-me que, quando criança, meu sonho era ser uma mulher independente dessas de seriado de TV, que são bem sucedidas e se recusam a dividir a vida com um parceiro. Digo isso para que entendas o fato de que não haveria espaço para você em minha vida, isso justifica plenamente eu nunca ter te notado.

E, esta manhã, parei. Olhei, e você parecia simplesmente deslumbrante! Até aí imaginei que estava tudo normal, afinal de contas, tenho bom gosto e não há problema algum admirar a beleza. Foi o que ocorreu depois, que me deixou intrigada e me motivou a te escrever.

Vou te contar porque diz respeito a você, mas deve me prometer que jamais dirá isso a alguém. Também, se disser, nego até a morte! Mesmo que apresente essa carta como prova. Portanto, conto com sua inteira discrição.

Me peguei a imaginar que te usava, e que estava andando por um tapete vermelho ao som daquela música do Mendelsson (coisa mais cafona!!). A parte boa foi que era a manhã de um domingo ensolarado e estávamos no campo. Bem, tudo isso passando pela minha cabeça e eu parada em frente à vitrine com um sorriso idiota nos lábios, juro que quase entrei para te experimentar, mas achei que não teria como me sair da situação quando me perguntassem a data.

Desisti e imaginei que todo mundo que passava observava aquela mulher idiota babando na vitrine. Meu rosto ruborizou-se e tentei seguir em frente, mas alguma coisa dentro de mim mudou. Talvez tenha relação com um sorriso... Diga-me sinceramente: acha minha atitude muito ridícula? Acha que o tempo passou para mim? Eu nunca confessaria isso a ninguém, mas você, a partir de hoje, passou a fazer parte dos meus planos.

Até breve