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PERDIDO NUMA TARDE ENSOLARADA EM IPANEMA

Fui à praia pouco à vontade , com camisetão branco , bermuda florida , tênis e meia . Os brothers todos de sunga , sarados , com pranchas , e inúmeros casais jogando frescobol . Não sei como uma daquelas bolas não foi direto pra minha cabeça , aliás algumas foram , sorte minha que a dor não era tanta e o sotaque delas pedindo desculpas para mim aliviava imediatamente qualquer sintoma psicopático de ódio . Vendedores de biscoitos de polvilho , mate com limão , bugigangas , artesanatos , empadinhas de procedência meio suspeita , até que avisto uma morena jambo que não imaginava nem em sonhos : perfeita , perfeita , corpo mais que bronzeado , tanguinha minúscula , piercing , toda em forma , cinturinha curvilínea , brincos discretos , seios salientes e SEM silicone - posso estar enganado , mas quando elas usam silicone os dois peitos ficam bem separados um do outro , parecem duas bolas de pele - , empinados , naturais . E não é que a princesa me convida para um show de axé que está rolando ali perto , no Posto 9 ? Eu tenho horror ao estilo , mas por ela eu subiria até no palco de uma banda sertaneja , e cantava , com direito a chuva de ovo podre e tudo . O show começa , acho que eram uns covers do Calypso , sei lá , mas aí a gente começa a dançar lambada , ela se esfregando em mim , como dança aquela maluca !!! E vai por trás , rebola , me joga um sorriso , balança o cabelo para a direita , para a esquerda , vem pra minha frente e se gruda , entrelaçando suas mãos macias nas minhas . Um olhar malicioso , córneas médias , uma mulher com ocultas intenções , eu imagino . Suada , começa a lamber o lábio . Eu , já excitado , compro um copinho de água mineral pra ela . Subitamente , ela se vira de frente , se agarra em mim , e inicia outra dança sinuosa , quando acabo percebendo uma loira atrás , me fazendo de sanduíche , aliás a outra não menos maravilhosa . Aí minha timidez vai pro espaço . Danço na praia , na frente de todo mundo , como se estivesse em Olinda no meio de um frevo , e só ouço as risadas da rapaziada com caipirinha na mão . Aquela areia fofa , a vista do morro Dois Irmãos , os bares do outro lado da Av . Vieira Souto bem lotados , e um senhor me olha com cara de desdém . Não entendi , mas sigo alegre . Até que pinta na praia um outro sujeito , ainda mais branquelo e esquisitão que eu , falando inglês . As duas , a morena e a loira , me abandonam e vão atrás dele correndo , me deixando a ver windsurfers como se eu fosse um troço descartável . Mataram a charada ? É exatamente isso : são meninas com taxímetro acoplado , namoradas de hora marcada . E eu , com jeito de turista , acreditei que estava agradando . Doce ilusão . Mesmo com esse corpo ridículo , vou ver se pego um sol , visto uma sunga e sigo no meu caminho , um gaúcho tentando se passar por carioca . Impossível , mas tentar talvez valha a pena . Tem mulher bacana , sincera e espontânea aqui , ah tem sim , eu é que ainda não achei . Lindas , lindas de doer , só que elas não me dão bola , ao contrário de três trombadinhas , me secando e loucos para me dar um bote e brincar de arrastão comigo . Ai , ai , atravesso a avenida e vou beber um chope bem gelado , no meio da muvuca , pensando em tudo o que me aconteceu . Que saudade das gaúchas , as mais maravilhosas do mundo , pena que por lá elas não são tão desinibidas e quase nunca tem praia boa . Mas um dia eu volto pra cá e aprendo a lição ...

Um Mané Desavisado

Rodrigo Germano
Enviado por Rodrigo Germano em 17/01/2008
Reeditado em 17/01/2008
Código do texto: T820732