Carta II - Máquina do Mundo (?)

Drummond, estava pensando se a máquina do mundo gira, eu estou aqui parada, tal qual observadora.

Observo todos os movimentos e espaços, desde o que é o sorriso para quem sorrir com a sutileza e expressividade tão natural, até o que é o choro para quem chora como numa tormenta que se estende em emotividade.

Observo o que é a poesia para o poeta ao aflorar toda aquela multidão de sensações orgásmicas advindas da palavra. Vejo o que é a música para o músico que absorve da onda sonora o mais prazeroso toque audível ao dedilhar dos dedos.

Observo o que é a maternidade para a mãe, se não a possibilidade de sorrir, chorar, poetizar e musicar pessoas. A mãe sorrir por cada passo ou gesto, em que sua cria se transforma e transforma a roda do mundo. Chora com os fatos de cada etapa dessa pequena vida que se torna grande diante dos seus olhos. Ela é capaz de poetizar durante a gestação e até de criar desejos não menos poéticos, além de ter a capacidade de ser a própria música, orquestrada ao adormecer no ninar dos anjos.

É Drummond, a máquina do mundo gira e a minha é bem menos louvável. Mas, digo que lá dentro do útero há a possibilidade de ser tudo o que se quer e sonha no inconsciente.

Enquanto, a máquina se move, eu aqui na passividade e na passionalidade de quem já esteve lá, e quer fazer do mundo uma máquina a girar pela vida uterina, a qual se pode amar.