A terrível experiência de congelamento

E a aventura continua...

Sai hoje de casa como de costume, as 13.30, para ir a aula de inglês.

Andei dois quarteirões até o ponto de ônibus debaixo de meio metrô de neve. Tudo bem caminhei devagar, mas cheguei a estação de metro. Peguei dois metrôs e caminhei cinco quarteirões até o local da aula, também debaixo de muita neve.

Durante a aula, via pela janela a neve cair intensamente. Lindo, pensei, como a natureza é maravilhosa!

Terminada a aula andei de volta os cinco quarteirões até o metrô. A neve já havia subido para uns 70 centímetros, a temperatura naquele momento era de 25 negativos. Fiquei como um urso polar, coberta de neve da cabeça aos pés.

Na estação do metrô dei uma sacudidela e fiquei livre da camada de gelo que me envolvia.

Peguei de volta os dois metrôs, cheguei no terminal de ônibus. Nada mal já que este percurso é feito no subterrâneo e fico então protegida das intempéries.

Achei estranho que o terminal estava lotado de gente, não é assim normalmente. O ônibus levou 40 minutos para chegar, em geral leva de 2 a 3 minutos. Pensei, será greve como no Brasil?

O ônibus saiu da estação e ganhou as avenidas de Toronto. Tudo Parado! A neve estava a uma altura de um metro, a temperatura estava em 30 negativos, tudo ao redor estava literalmente congelado.

Para quem estava dentro do ônibus aquecido nada mal. Olhei pelas janelas cobertas por uma lâmina de gelo e nada pude ver, todo o ônibus estava coberto de gelo.

Fiquei sentada neste ônibus por 2 horas, o percurso geralmente leva de 10 a 15 minutos. Ao descer do ônibus em um ponto anterior ao de costume porque toda a avenida estava bloqueada com montanhas de neve, comecei a caminhar de volta ao lar.

Meus pés afundavam em 80 cm de neve, toda minha perna era coberta pela neve, fui ficando apavorada. O caminho de cinco quarteirões debaixo da nevasca foi ficando pesado e a sensação era de que eu não conseguiria terminá-lo.

Meu rosto, congelado pela neve que caia de toda direção, foi ficando petrificado, minhas mãos perderam a mobilidade. Comecei então a sentir uma dor nas mãos e no rosto como se fossem queimaduras. Meus pés estavam protegidos por galochas e nada sofreram.

Finalmente depois de infindáveis minutos, os mais longos até hoje na minha vida, eu cheguei em casa. A dor nas mãos, principalmente nos dedos, era insuportável e indescritível, como se tivesse colocado as mãos no fogo.

Lilia levou-me direto para o banheiro e abriu a torneira de água quente deixando escorrer sobre minhas mãos. Eu estava em prantos, aos gritos de dor.

Aos poucos minha circulação foi voltando nas extremidades dos dedos. A dor foi diminuindo e o meu corpo voltando ao normal.

Jamais senti isso na vida. Meu rosto e minhas mãos estavam vermelhos como se fossem queimaduras de fogo.

No dia seguinte mais um espanto, ao ver meu rosto no espelho meus dois olhos eram duas bolas vermelhas. Percebi que havia tido derrame em ambos. Corri ao médico. Diagnóstico: efeito do congelamento no dia anterior. Menos mal porque não perdi a vista.

Levou 20 dias para os olhos voltarem a cor natural.

Sempre brinco que estou congelando, desta vez não foi brincadeira, foi real.

Estou neste momento me refazendo desta terrível experiência. Ainda sob o efeito da emoção e da lembrança de tamanha dor.

Hoje é isso, amanhã tem mais.

Beijos

Mummy

Nerah
Enviado por Nerah em 13/02/2008
Reeditado em 31/10/2009
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