Ao Cabral - resposta a comentário

Ao Cabral

Nada me tira da cabeça (quase uso dissuade/dissuadir, justamente por causa do teu elogio a minha escrita) que o melhor combustível para o ser humano é o elogiar, o conquistar e o dizer ou pedir com ‘jeitinho’. Quando nos pedem com carinho/amizade/jeitinho, se negamos, este não soa quase sim. Ou seja, negamos também educadamente por mais esdrúxulo que pareça a proposta/solicitação. Quantas vezes o amigo ‘sartou’ de banda? É natural... O que mais nos corrompe, enquanto humano, não é o dinheiro: é a amizade, o respeito e a tal confiança. Quando um amigo te faz importante, te trata bem, e sentes esta importância e bem, este amigo sabe teu preço. Conhece a moeda capaz de te corromper, capaz de te fazer abrir concessões.

E, então, pergunto: isto é bom ou é ruim? Estou convencido de que (estou apaixonado pela lítera lulística) o único modo de responder, sem triscar na leviandade, é esta: não é boa, nem ruim, é humano. Recorrendo ou não à pragmática fundamentalista, somos seres pensantes, humanos, abarrotados de vaidade (esta, no bom sentido, já que até os animais mais verozes rendem-se ao afeto). É isto que nos faz grandes, bonitos, importantes aos olhos de Deus e dos símiles. Se assim não é, é pena! Deveria ser. Seríamos bem mais felizes, leves e amigos...

Mas, isto é uma lição de moral, melada, hipócrita, dissimulada?

Não. Isto é uma proposta: vem comigo! Esqueçamos a corrupção via grana e vamos nos corromper pelo aplauso! Vamos dar sentido ao que não faz sentido... Vamos seguir o poeta: ‘sorri, e irão supor que és feliz’.

Obrigado, amigo, pelo texto bom (o que fizeram com nosso idioma?) e vamos elogiar os abnegados que, mesmo no chiqueiro, conseguem fugir da lama grossa. Quem sabe um dia consigam a proeza de Davi... O que não acho justo é desmotivá-los, achata-los a fé, ainda que nitidamente quixotesca. Pois, há que se viver dia a dia até o fim. O que, à primeira vista, nos parece real pode ser o ilusório e vice-versa. Lembra-te da historia da caverna?

Vem, vamos!