A Rosa Púrpura - Mais uma carta ao Amor

E ontem enquanto te esperava sentada no banco da praça daquele Recanto, via as pombinhas esperando pelo gesto de algum poeta em alimentá-la com migalhas de pão, vi mais além idosos, que sentados em outros bancos, olhavam despretensiosos para além de algum horizonte em busca de um sentimento futuro ou quem sabe de um passado.
Vi também casais que caminhavam de mãos dadas em sua descoberta de amor, no parque próximo à praça, crianças brincavam com seus baldinhos de areia, meninos empinavam suas pipas coloridas pelo céu azul acinzentado da tarde, e você não chegava.
Pensava sobre trens que poderia ter perdido, bondinhos que tivessem travado por algum caminho, bicicletas de pneus furados ou até com falta de óleo nas correias.
Mas lá no poente do sol, quando os raios de sol se tornam violetas e o céu avermelhado, quando podemos enxergar mercúrio pequenino em sua brilhante luz carmim, um sorriso de menino maroto vinha até mim, boné pra trás, felicidade evidente e o cansaço de um dia de caminhadas.
Caminhadas essas que são nosso futuro.
A saudade saciada em breve momento em que nosso tempo simplesmente pára em prol desse amor.
O encontro de lábios em beijo terno, o abraço saudoso, o silêncio que canta a paixão.
A voz esperada o dia inteiro que ecoa pelo ar, vibra no coração, entorpece-nos a alma.
Mas a vida nos pede mais um momento de afastamento.
Precisei ir, mas meu coração deixei contigo e carreguei o teu comigo.
Noite bandida, madrugada de saudades, de recordações, das vozes, dos gemidos, dos sussurros em nossos ouvidos. Saudades do toque de suas mãos em meus cabelos, de seus afagos, do colo.
Saudades de olharmos para um mesmo lugar, para o nascente do sol como o temos feito estes dias, honrado nascente, esperado poente.
Mas amor, acordei sonâmbula pela casa, olhando o céu lá fora, repleto de estrelas e ausente da que mais me importa, você.
Pensei, sonhei, pensei e mais uma vez sonhei.
O dia amanheceu, e você onde está?
Cheguei em casa com o vazio nessa falta que você me faz.
Tomei café, foram todos embora, grande viagem que os espera.
Continuo sentindo saudades suas.
Escuto uma música deixada pra mim, por você. A ouço repetidas vezes.
Sinto sua falta...
Estou esperando a rosa, a mesma púrpura que deixou em meu travesseiro.
E mando nessa carta, meu cheiro, de lírio em perfume já conhecido por ti.
Que a fragrância não seja toda consumida pelo papel, e que a lembrança o traga mais rápido para os braços meus.
Amo você!

Mêchubed Ve Joseph

Assinado: Shelah
SP, 05 de Janeiro de 2005.