Cartinha a Alessandra Espínola

Cara Alê,

Que esta te encontre gozando de boa saúde e de outras coisas boas da vida na doce terra pernambucana.

Na última leitura que fiz de seus poemas, apreciei especialmente a imagem do amante que esculpe o (ou no) corpo da amada. Fiquei a imaginá-los, artista e obra, na penumbra da alcova...Primeiro ele esculpe a anca sinuosa; depois a leve curvatura do torso. Esculpe o rosto, o delicado pescoço e a boca entreaberta sem esforço, como se puxada pelo fio invisível de tremor que nasce do abdômen sôfrego e teso. Esculpe a nádega que espera uma decisa afirmação de posse e a rosa entreaberta entre as coxas. Ah! todos os mínimos espaços, na imprecisa geometria que brota das mãos desse escultor do gozo, vão surgindo, e ele esturge, desajuizado, diz palavras que não existem e, por fim, exclama em desvario: Teria paz se esculpisse em pedra.

Tanta imaginação me deixou até um pouco desorientado, como o suposto artista, mas para isso é que também serve a poesia. Acho que a loucura dele é que, no caso da mulher, a escultura interage com o escultor, e compartilha da modelagem, o que desafia seu desejo de controle da situação. Isto nos leva ao conflito que por vezes assalta o artista entre a “vida real” e seu mundo de criação.

Tua poesia me encanta. Teus comentários me enriquecem e teu riso carinhoso me faz me sentir um vencedor, pois de choro e cenho transido já temos o bastante. Fico por aqui, te desejando muito amor. Como o seu é de graça, isso te faz ainda mais cara.

Beijo Grande.

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 12/01/2006
Reeditado em 14/01/2006
Código do texto: T97831