O MAIS SEVERO JUIZ É A NOSSA CONSCIÊNCIA

ESTE FATO, VERÍDICO OU NÃO, ERA CONTADO NA MINHA REGIÃO.

DIZIAM QUE HAVIA UM FAZENDEIRO MUITO RICO. POSSUIA UMA VASTA EXTENSÃO DE TERRA, VÁRIAS CABEÇAS DE GADO E AS NEGOCIAVA, COMO ERA COMUM ANTIGAMENTE LEVAR BOIADAS PARA LONGAS DISTÂNCIAS COM A AJUDA DOS FILHOS E EMPREGADOS.

DIZIAM SER UM HOMEM HONESTO, BONDOSO, TRABALHADOR, BOM CHEFE DE FAMÍLIA E UMA PESSOA MUITO QUERIDA NA REGIÃO. TINHA UMA LINDA MULHER, QUE AMAVAVA MUITO E SE ORGULHAVA DA MULHER E DOS FILHOS QUE TINHA. ENFIM, ERA UM HOMEM RESPEITADO PELOS SEUS PRINCÍPIOS E PELOS SEUS ATOS E UMA VIDA DEDICADA À FAMÍLIA E AOS NEGÓCIOS...

SEGUNDO SE CONTAVA UM BELO DIA AO SAIR COM SUA BOIADA PARA VENDÊ-LA NOUTRA LOCALIDADE, ESQUECEU CERTA DOCUMENTAÇÃO QUE PRECISAVA PARA CONCLUIR NOVOS NEGÓCIOS. DEIXOU OS PEÕES E FILHOS TOCANDO O GADO E VOLTOU À FAZENDA.

PAROU O CAVALO PERTO DA PORTEIRA, CONTINUANDO O TRAJETO ATÉ A VELHA E GRANDE CASA A PÉ. NO TRAJETO PENSAVA FAZER UMA SURPRESA À SUA MULHER, QUE HAVIA FICADO SOZINHA NA SEDE DA FAZENDA, DAR UM BEIJO NELA E AMÁ-LA...

CAMINHOU PELA CASA SEM VÊ-LA. OUVIU MURMÚRIOS NUM DOS QUARTOS. HAVIA MAIS ALGUÉM NA CASA. TIROU DA CINTURA SEU REVÓLVER E ADENTROU-SE PELO QUARTO. NÃO ACREDITOU NO QUE VIA... SUA ESPOSA ESTAVA COM OUTRO NA SUA CAMA!

O AMANTE, UM JOVEM FILHO DE UM VIZINHO DE CERCA DE SUA PROPRIEDADE, QUE AO VER A ARMA APONTADA PARA ELE, IMPLOROU QUE NÃO O MATASSE.

— EU NÃO VOU MATÁ-LO. PODE SE VESTIR! — AMEDRONTADO E APRESSADO O JOVEM SE VESTIU. A ESPOSA ESTAVA COMO UMA ESTÁTUA NA CAMA.

O FAZENDEIRO CONTINUOU:

— PAGUE PELO SERVIÇO!

O JOVEM ABRIU A CARTEIRA E JOGOU PELA CAMA UM MONTE DE DINHEIRO, JOGOU TUDO QUE TINHA NOS BOLSOS. ERA UMA BOA SOMA.

— NÃO. ISSO É MUITO! — DISSE O FAZENDEIRO.

O JOVEM RETIROU DE VOLTA ALGUMAS NOTAS.

— AINDA É MUITO! PODE RETIRAR MAIS...

O JOVEM APANHOU MAIS ALGUMAS NOTAS.

— AINDA É MUITO! DEIXE SOMENTE ESTA PEQUENA PRATINHA AÍ — DISSE O FAZENDEIRO, APONTANDO COM O CANO DO REVÓLVER A MOEDA DE MENOR VALOR DA ÉPOCA.

O JOVEM OBEDECEU. E AO ENTREGAR A MULHER A PEQUENA PRATINHA OUVIU DO FAZENDEIRO A SEGUINTE ORDEM:

— NÃO. ESSA PRATINHA É MINHA. ELA É MINHA ESPOSA, EU TRATO DELA A VIDA INTEIRA, DOU DE TUDO A ELA E NÃO FALTA A ELA NADA NESTA CASA. ELA TEM UMA VIDA DE RAINHA, ERA POBRE QUANDO SE CASOU COMIGO. HOJE É A MULHER MAIS RESPEITADA DA REGIÃO, NUNCA FALTOU A ELA NADA, NEM AMOR E RESPEITO DE MINHA PARTE NEM DOS FILHOS. EU SEMPRE DEI UM GRANDE VALOR A ELA TODOS ESSES ANOS. PODE IR EMBORA!

O JOVEM SUMIU COMO UMA RAJADA DE VENTO.

O FAZENDEIRO GUARDOU A PRATINHA NO BOLSO. PROCUROU O QUE HAVIA IDO BUSCAR E FOI SE ENCONTRAR COM OS BOIADEIROS.

RETORNANDO NO OUTRO DIA, SENTOU-SE À MESA COM A FAMÍLIA PARA O ALMOÇO. RETIROU A PRATINHA DO BOLSO E A COLOCOU AO SEU LADO NA MESA. OS FILHOS PERGUNTARAM O QUE ERA AQUILO. ELE DISSE QUE A HAVIA ACHADO E QUE ERA PARA DAR SORTE. ERA UMA PRATINHA SEM VALOR...

TODOS OS DIAS NA HORA DO ALMOÇO E DO JANTAR ERA A MESMA COISA. RETIRAVA DO BOLSO A PRATINHA E A COLOCAVA AO SEU LADO NA MESA SOB A VISTA DA ESPOSA E DOS FILHOS. NUNCA DIZIA O MOTIVO REAL DAQUELE ATO NEM COMENTAVA SOBRE O QUE HAVIA ACONTENCIDO.

TODOS OS DIAS SUA ESPOSA PRESENCIAVA A MESMA CENA E AQUELE SILÊNCIO SEPULCRAL DO MARIDO QUE NUNCA LHE PEDIA EXPLICAÇÕES NEM DIZIA UMA SÓ PALAVRAS SOBRE O QUE HAVIA ACONTENCIDO. SEMPRE QUE A FAMILIA SE REUNIA À MESA OU MESMO SOMENTE OS DOIS, ELE RETIRAVA A PRATINHA REPETINDO O MESMO GESTO. NUNCA A MALTRATAVA. NUNCA DEIXAVA TRANSPARECER NADA DE ERRADO ENTRE ELE E A ESPOSA PARA OS FILHOS OU PARA QUEM QUER QUE FOSSE.

AO DORMIR, DORMIAM NO MESMO QUARTO, SEM DIRIGIR A ELA UMA SÓ PALAVRA. VIRAVA PARA O SEU CANTO E DORMIA. NO OUTRO DIA, TUDO SE REPETIA NOVAMENTE. A ESPOSA SEMPRE MUITO BEM TRATADA E A PEQUENA PRATINHA SOBRE A MESA NA HORA DO ALMOÇO E DO JANTAR...

ALGUM TEMPO DEPOIS SUA ESPOSA ARRUMOU A MALA E SUMIU! DESAPARECEU! NUNCA MAIS NINGUÉM TEVE NOTÍCIAS DELA. O REMORSO A HAVIA CORROÍDO!

MORAL DA HISTÓRIA: NÃO SE PRECISA AGREDIR COM PALAVRAS OU BATER PARA FERIR ALGUÉM. O SILÊNCIO É A MAIS TERRIVEL DAS RESPOSTAS! O MAIS SEVERO JUIZ É A NOSSA CONSCIÊNCIA!

FIM.