Uma História de Amor, sem fim:

Uma História de Amor, sem fim:

“Isso não é uma história de amor, mas é uma história sobre o amor. Sobre aqueles que se entregam a ele, e o preço que pagam; e aqueles que fogem dele porque tem medo, ou porque não acreditam ser dignos dele.”

O Antes

O ano era 2005, estava desocupado; sem aula, sem emprego, simplesmente nada; era só mais um jovem, solto nos prazeres que a noite carioca poderia me oferecer. Esse era o lado que o resto das pessoas poderiam ver e comentar; mas havia o lado fraternal; este também não andava bem, noites de crise e manhãs de paixão, sempre num baile de máscaras, por mais que eu não quisesse usar máscaras.

À noite, importante parte de meu ser, era dividida pelo meu lado sexual (que possui dois gumes) e meu lado caótico, cada tipo de noite com diferentes grupos de amigos, mas também diferentes curtições. Poderia dizer que era mais um daqueles tarados urbanos que estão cansados de se esconder, e buscam ser o que não são para poder esconder o que são, sempre usando máscaras. Por conta disso, se sente num vazio indescritível, procura alguém para compartilhar seus problemas e anseios. Passa uma madrugada nas boites e outra no Garage. Porém, nos dias de semana, se afunda numa depressão, que logo some ao surgir um sorriso, mas este sorriso era sarcástico sem nem mesmo eu perceber, mas eu sabia e sempre soube, que depois de sorrir, iria doer alguma coisa.

Meus caminhos andavam tortos, buscava outros meios de me descobrir, entender tudo o que passa as coisas não estavam possuindo algum sentido, mas no fundo e na superfície estava bem, no sentido de estar me divertindo e tal, mas sabia que faltava outra coisa. As coisas foram mudando aos poucos, apareceram algumas pessoas, mas nada, entretanto, fora dessas pessoas que surgiam, havia um alguém, este eu não conhecia, mas que fisgava meu olhar, um pingo de mistério que alimentava a minha vontade de conhecer ele por completo, entrando em suas entranhas e descobrir todo o mundo perfeito e confuso que ele poderia me dar. Mas ele sempre esteve ali, distante, seus olhos nunca observavam o mundo afora, estava à parte dele, ele sempre soube que poderia estar do lado de fora, pois estaria bem assim, e não faria nenhum sentido se entregar a ninguém, pois ele se auto-sustentava. Mas estava errado.

Estávamos sempre distantes, ele estava em sua fortaleza, e se negava a sair, por medo. Nas primeiras vezes que o vi, ele só era uma imagem, mas agora ele era esperança dentre outras fracassadas, mas eu nunca me cansava de tentar, já havia tentado com meninos do Recreio ou Jacarepaguá, Ipanema ou Bonsucesso... Todos me despertaram algo, algo que ele também me despertou não custava nada tentar.

O tempo passava, os meses iam e sua imagem me perturbava na noite, qualquer lugar que tivesse algum rockeiro ou algum bêbado, como a Lapa ou Garage, ele me perseguia, já era um fato, fato que o destino me fazia te olhar, meu olhar cheio de desejo e loucura, loucura inspiradas nos prazeres e qualidades humanas, esta que me fez ser o que sou, esta que me faz chorar... Esta simplesmente esta que está em todos nós que ama, pois os loucos amam, e sem limites. E eu adorava isso, ser torturado por uma imagem de mistério, sempre estava onde eu estava, mas nunca havia me percebido, era engraçado, mas me excitava. Poder destruir todo aquele mistério iria me fazer bem, e era isso que eu queria experimentar.

Mas tal futuro não me feria mudar por completo, ainda faria parte da vida boêmia, mesmo que na manhã seguinte eu tivesse prova ainda estaria nos centros ideais para se beber, a noite inteira passava. Beberia, fumaria, beijaria, dançaria, conheceria mais um, mas era só mais um... Eu estaria de saco cheio dessa vida vazia. Queria algo, algo que ele poderia me dar.

Até que no fim de uma noite, quando os espíritos negros da noite eram queimados pelo sol, meus amigos vomitavam ou jogavam uma sinuca bebendo Itaipava e fumando Hollywood, ele aparece.

Eu já havia me cansado daquela imagem superficial, queria saber o que ela me escondia, então pronunciei minhas primeiras palavras, reclamei dele sempre estar por perto, mas ele não sabia o que ocorria ali, nem nunca soube. Nem imaginava o quanto eu estava indignado com aquela situação, não sabia o quanto me perturbava. Sua resposta foi boa, foi simpática, me conquistou.

A semana o tinha nela, sua imagem não só me perturbava nas noites que eu o via, agora era a todo o tempo, achei como falar com ele pela internet, pelo celular, ele me alimentava, não queria saber se eu te alimentava se era tudo mútuo, não queria saber se a confusão sentida por mim era mútua, contava os dias e horas passando para ir aos locais que sempre o via, aos locais armados pela força do destino, armados pelas queridas Parcas dele.

Sai com os amigos, ele não estava lá, cadê ele? Porque não veio hoje? Destino cruel porque me castiga desta maneira? A noite passava, consegui me diverti, mas sabe quando você quer muito encontrar alguém e você vê o rosto ou cabelo dela em todo mundo, então... Isso acontecia. Porém, passei no teste do destino, o encontrei no fim da noite, bêbado e empolgado, pensei que tivesse me roubado o gummy, mas fiquei lá para conversar com ele, e conhecê-lo. Ele afirmava e reafirmava querer nada sério com ninguém, dizia ser contra o namoro e o amor, falava isso com tanta freqüência e ingenuamente que me dava a certeza que eu poderia mudar isso. Então fui embora, pensando nele, e orgulhoso de não ter sido fácil.

A semana passou, aulas de apoio para história e ele na minha mente, como sempre, cada vez me conquistando mais, me mostrado sem perceber o quanto minha vida era vazia, o quanto eu queria ele nela, o quanto ele me transpassava força e completude, tudo num único ser, tudo neste ser que eu desejava como nunca havia desejado ninguém. A semana passava cada dia como uma stigma, todas perfurando meus Chacras, os sete deles, só faltava um, ele foi perfurado, não agüentava mais ficar sem vê-lo, ficava confuso com isso, não poderia aceitar o fato de estar apaixonado por alguém, mas queria ir a fundo, no fundo de mim, eu queria amar, e ele me permitia isso.

A semana passou e fui ao encontro do destino, não, não o vi desta vez, a noite não era mais pela boêmia e amigos, era, por mais escroto que pareça, pela boêmia e por ele; meus amigos nesses momentos não serviam, pois tudo o que eu procurava era ele. Eu saia na noite para vê-lo, meus amigos, eu já via quase todos os dias, eu reservava meu egoísmo para a noite, era pra ele, me reservava para ele, assim como o dia é a comemoração do surgimento da noite.

Foram duas tortuosas semanas sem ele, porém o destino nos reservou boas emoções, sai como de costume, novamente a noite underground, ele me fez abandonar as boites GLS, pois elas não tinham ele, e sem meu amor não havia graça.

Sai novamente, ao garage como de praxe, e lá estava ele, neste local com aquele freqüente imagem, disse um oi, tentei fazer contato, queria beijá-lo de forma louca e cheia de tesão, sem nenhum pecado ou luxúria... As horas iam passando, e nada, meu orgulho não permitia, conversa pouco e voltava a meus amigos, até que novamente o álcool me impulsionou para o encontro dele, as palavras não me lembram, mas o resultado delas me lembro muito bem, entramos em um bar, eu ele e a parede éramos um só, aquele local não mais nos satisfazia, fomos a um local esdrúxulo que havia conhecido uma semana antes, oposto a tudo o que sentia, local feio e decrépito, porém com estilo.

Lá nos beijamos, estava ficando quente, o local era apertado, era “obrigado” a tocar-lhe de forma mais íntima, os lábios eram perfeitos, sentia toda a doçura daquele beijo quente e amargo, doce, não sabia o sabor existente lá, não conseguia deixar de tocar-lhe, teria que ter mais que aquilo, fui para baixo, o conheci acima do que esperava. Os sons que ele soltava me excitavam cada vez mais, não conseguia mais me controlar, preferi subir, ele quis descer quis me conhecer também, aquilo me fez feliz, sentia um sentimento mútuo ali, minha esperança reacendia. Ele me roubou o brinco sem perceber, mais uma obra do destino para lhe procurar, bom que você sempre esquecia em casa.

Chegamos ao meio da semana seguinte, e eu só pensava nele, até que alimentei a esperança de vê-lo no local onde o destino só te reservou a mim uma vez das várias, era uma rua, com gente feia, algumas bonitas, porém a maior parte afetada, local que não me agradava, mas, com a sua presença, todas se tornaram personagens figurantes de uma novela das 8, fiquei encantado, passamos o noite como casal, abraçados e nos conhecendo, foi perfeito, o céu nublado tinha estrelas, eu adorava ir pra escola na greve, agüentava as broncas da minha mãe, era tudo maravilhoso, tudo perfeito.

Pena que não nos veríamos na semana seguinte, era por um motivo irrelevante, afinal, nem me lembro dele. Mas já aceitava o que estava sentindo, era você que eu queria, larguei todos os outros, só queria você, larguei a vida de “piranha”. Era tu que eu queria.

Que ironia, dessa vez não por obra do destina, e sim por obra da tecnologia, marcamos de nos encontrar naquela mesma rua; esta que nos aguardou muitas surpresas; ele se atrasou, mas ok ficamos juntos a noite toda, nossas bocas não se cansavam de se beijar, não me cansava de olhar para ele, até que por uma grande chama que ardia dentro de mim, até que por um grande sentimento que veio dentro de mim querendo berrar para os sete ventos e mares deste mundo sua natureza, até que a loucura que me possuía despertou e me fez proferir as palavras que iriam me abençoar, “namora comigo?” Parecia frase feita, mas seus sentidos eram tão amplos e complexos, que nem mesmo eu conseguia explicar toda a paixão que existia dentro delas, houve um momento de silêncio, até que ele falou, primeiro saiu um não, mas não era uma negação, era o desejo dele de me pedir isso, isso era um sim, ele aceitou, naquele momento eu sabia que havia passado por uma grande etapa da mina vida, que eu poderia ser complementado ao lado dele.

Não queríamos ficar mais ali, fomos a casa dele, os atos proibidos não foram realizados, mas selamos nossos sentimentos, passamos a noite juntos, um ao lado do outro, sem fome, só nos alimentando de nosso amor. Ele do nada se transformou numa outra pessoa, extremamente dócil, carinhosa e atenciosa, ele era mais perfeito a cada palavra proferida.

Passamos desde então por perfeitos momentos, me realizava, sorria sozinho na rua, era tudo iluminado, durante três semanas estava tudo perfeito, tivemos nossa primeira briga, eu queria atenção, ele não me dava ela em toda a quantidade que eu queria, depois tivemos outra briguinha, pelo mesmo motivo. Eu deveria ter entendido que aquilo era tudo novo pra ele, uma paixão tão grande e nova era novidade pra ele.

Depois de tempos passarem, tive meu primeiro erro, vi algum ser, que nada significa pra mim em seu lugar, o problema pra mim havia passado, mas não para ti, foi nossa primeira separação, foi a pior das torturas, não agüentava ficar mais um segundo sem ser seu namorado, ainda bem que só foi por três dias. Mas isso deve ter deixado chagas, uma grande pena, um grande erro.

Meu amor por ele sempre foi incondicional, sempre cheio de glamour e fantasia, alimentado por todo o prazer que ele me dava em nossos momentos mais íntimos. Ao lado dele, eu era seguro, indigno de erros humanos, não havia pecado no meu amor, ao lado dele, eu era mais eu e ele, ao lado dele sempre fui belo.

Nossa tempestade havia passado, e como se percebe minha vida não possuía quase mais nada, tudo era ele, ele estava em tudo, nas raves que ele na ia, ou nas festas industriais. A vida dele mudava também, eu fazia parte dela como ninguém nunca fez, mesmo sem eu ter feito nada de grande coisa para fazer isso, era algo natural, que escondemos dentro de nós mesmos, e que somente a grande força de uma paixão poderia acordar.

Discutíamos diversas vezes, eram coisas bobas, tão bobas que terminavam sempre num beijo que botaria fogo num quarteirão, lutávamos contra os preconceitos e contra nós mesmo, nos revirávamos por todos os cantos, nos dobrávamos para poder manter essa história em pé, éramos perfeitos, e ninguém poderia negar que eu o complementava e que ele me complementava.

O Durante

Até que houve um dia, cheio de amor, porém de discórdia, que eu percebi que ele não me conhecia como eu achava que me conhecia, percebi nele o preconceito que não imaginava nele, algo que me pegou de surpresa, e isso deu um reflexo que ele não imaginava, o pior dos pecados contra o amor; a traição.

No mesmo local, na mesma rua que firmamos nosso laço, com a mesma força destilada que me fez te conhecer, por todos os pensamentos tortos que passara por mim, pelos olhares que tentavam me seduzir feitas cobras, a luxúria predominando naquele local, a raiva me consumindo, ele que não aparecia, a falta que me fazia, o meu desespero, não, eu não agüentava aquilo, sofri um momento de fraqueza tão grande que não me fez pensar, beijei uma outra pessoa, aquilo me queimava por dentro, não conseguia me ver beijando outra pessoa, o via, e eu me consumia por dentro, não agüentava aquilo, decidi parar, os beijos me perseguiam, não, aquilo não era certo.

Fugi ao encontro do meu amor embriagado pela cachaça em meu sangue, passava pela vala que em chamava para me afogar, sua imagem chorando pelo que fiz me torturava. Fui ao encontro, manter o que sempre mantive em nosso namoro, a sinceridade, contei tudo, e mesmo assim ele tomou conta de mim, estava mal, ele ainda assim se preocupava comigo... Depois de horas e de uma noite de pesadelos fui para casa, bronca de meus pais, pesadelos e a imagem dele chorando em minha cabeça... Pensava em lâminas para me cortar, pensava em prédios para saltar... Ele era a razão de minha existência, pequei contra ele e aquilo me torturava por dias.

Mesmo assim não conseguíamos parar de se beijar, era a prova de nosso amor, abandonei locais e pessoas por ela, me parecia que ele não reconhecia meus erros, dizia me perdoar, mas isso sempre foi uma mentira. Eu queria ser tocado por ele, queria sentir-lo dentro de mim novamente, não agüentava ficar olhando para outras pessoas, pois eu o via em tudo, e estas ilusões me torturavam, queria-o, ele era meu elixir da vida, ele, somente ele poderia me fazer feliz.

Chegou o reveillon naquela mesma semana, queria passar a virada com ele, e eu havia lhe dito que se for pra continuarmos juntos o destino nos uniria novamente; então foi ali, meio a multidão de Copacabana, eu o vi, corri ao seu encontro, estava mais belo que o próprio Apolo, queria poder beijar-lhe, mas ele me negava, isso era mais tortuoso que as stigmas de Jesus, queria poder tê-lo. Depois fomos para a areia, ficamos sentados um ao lado do outro, parecíamos um casal, ele me deu um anel no momento mais belo de explosões piro gráficas da noite, achei ser pedido de casamento, mas não era, era uma prova de amor sua. Mas eu queria mais, queria ter ele pra mim, mas não, nosso belo momento se resumiu a um belo momento cheio de paixão por dois amantes em Copacabana, foi o momento mais feliz pra mim, pelo menos estava ao seu lado.

Ainda sentia sua falta, ainda queria ele, quero, e insisto nisso, nossas semanas seguintes foram de paz, mas ainda me sentia insatisfeito, ele nunca tinha uma resposta, ele só enrolava, e eu me sentia enrolado, usado, escarrado, imaginava que ele não mais me queria, eu não poderia entender mais aquilo, não fazia idéia do que ocorria na cabeça dura dele. Tentei fazer o doce, mas não consegui, a presença dele me seduzia, sua voz, tudo nele era mais que perfeito, era o ideal, maravilhoso, a razão da existência de várias pessoas, ele era tudo o que pedi pra Deus.

Ainda estou passando por tudo isso, ainda dói meu coração, estamos na terceira semana do ano, e ele ainda conclui coisas absurdas, se pergunta se serei mais feliz ao lado de outras pessoas, sua pergunta é idiota, não faz sentido, ele me deseja o melhor, ele me deseja a felicidade. Mas veja o inferno que eu tinha antes, veja como era antes, mais um no meio da multidão, comum em busca do amor perdido, não desejo ser mais um deste. Nossas vidas e almas estão juntas, nossos corpos se relacionam, ele e eu criamos uma dependência mútua, não quero que ele me imagine mais feliz com outro, quero que ele retire estes pensamentos de cabeça dele, não mais ingênuo como fora quando pensou isso.

Agora, estou sozinho. Espero a voz dos anjos proferindo a sua volta, ele é meu profeta e seria infeliz sem ele, já sou infeliz por não ser dele, ele não deve retirar a única pequena fonte de felicidade que é a esperança de ter ele, não faça coisas que lhe farão chorar, e me farão chorar também.

Essa história é sem fim, é a história de mim e dele, é a história que ocorre nos contos de fadas, com personagem e locais inusitados, idealizada pela minha paixão, tornada santa e perfeito pelo nosso amor, não questionada pelo Papa ou por todo do Clero. Não permita que palavras vãs soltadas pela sua boa ponham um ponto final em tudo isso.

Agora, estou caminhando numa estrada sem fim, não quero saber o fim dela, sem ele eu sei qual serão o seu fim, e qual a graça de saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada? Este nada que nos faz ser felizes, este nada que me faz lhe desejar, este nada que me fez te amar.

O Esperado...

“Ninguém pode fugir do amor”

Obs. Essa historia é verídica, porém esta incompleta, como o título diz, é uma história sem fim.

Renan Reis
Enviado por Renan Reis em 20/01/2006
Reeditado em 02/03/2006
Código do texto: T101566