Mariazinha Perereca Saltitante
A cidade chamava-se Agnópolis, pois havia sido fundada por um fazendeiro chamado Agnaldo. Havia três botecos na praça e uma sorveteria. As ruas de pedra eram bastante estreitas e irregulares. Havia também a Igreja subindo a ladeira dos botecos. Atrás da igreja tinha a Escola das Freiras.
Nasceu Maria de Araújo, mas seu diminuto tamanho a transformou em Mariazinha logo após a sua chegada ao mundo. Nasceu em uma clínica precária que havia perto da casa da sua mãe. Uma menininha linda e adorada. Calma, não chorava muito, bastante tranqüila. Quando fez quatro anos começou a freqüentar a Escola das Freiras. E começou também a brincar de carrinho. Foi assim até os trezes anos – idade que deixou de brincar.
Aos trezes Mariazinha tinha longos cabelos pretos e olhos azuis. Seu corpo começava a denunciar suas curvas. Admirava-se no espelho todos os dias, acompanhava minuciosamente o desenvolvimento do corpo. Ela subia a ladeira para a escola andando e sempre ficava olhando para os homens do boteco. Tinha uma educação bem religiosa, mas não conseguia tirar os olhos do boteco e dos homens.
Aos quinze Maria já tinha seios formados e bunda grande. Agora não passava mais pelo outro lado da rua. Passava pelo boteco mesmo, entre os homens. E sempre ouvia comentários masculinos. Gostava disso, sentia-se mulher já, desejada, linda. Ficava feliz e excitada.
Maria então começou a fugir de casa durante a noite para a praça, onda havia som e homens dançando. Gostava de ficar ali de sentir uma presença masculina. Fez amizades. Um dia um chegou bem perto dela e começou a falar no seu ouvido. Tocou no seu pescoço e Maria sentiu um arrepio que nunca havia sentido antes. Foi estranho mas teve vontade de beijá-lo. Foi seu primeiro beijo e ela gostou muito. Sentiu um monte de sensação diferente e gostosa. Seu corpo se arrepiava, ficava molhada, ofegante e queria mais. Beijou demais aquele homem a noite toda.
E começou a beijar todos os homens que encostavam. Não sabia o que era, apenas não se segurava. Alguns então começaram a levá-la para o carro e os beijos passaram a ser mais calorosos.
Maria, com 17 anos, começou a sentir uma vontade imensa de tirar a roupa. E quando o homem estava todo nu pronto para penetrá-la, ela saia correndo. Tinha medo. Podia doer, podia não ser bom, podia se arrepender... Como se sentiria no dia seguinte? E sua educação religiosa. Não poderia jamais jogar isso tudo fora...
Quando Maria tinha 18 anos, depois de fugir de muitos homens, um fato totalmente inesperado aconteceu. Maria atravessava a rua com pressa pois iria perder o horário do ônibus. Mas um carro guiado por um bêbado jogou Mariazinha longe e ela, para a tristeza de alguns homens e felicidade de outros, morreu.
Depois disso ela ficou conhecida na cidade como Mariazinha perereca saltitante pois sua perereca sempre pulava fora na melhor hora.
Parceria com Marcelo Soares.