Um ano em Pereirópolis X - "A santa de Pereirópolis"

Pesquisando as origens do nome da cidade, descobri essa história aqui, e achei-a fascinante. Sabiam que Pereirópolis era para se chamar “Santa Terezinha das Missões”, por causa da igreja de mesmo nome? Pois é. A igreja ainda existe. E dentro dela, existe algo mais.

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Irmã Guilhermina era irmã – de sangue – e secretária do Padre Eurico, o pároco da Capela de Santa Teresinha das Missões. Quando não estava ocupada com os afazeres da paróquia, ouvia o programa de rádio do irmão sacerdote, e intercalava a reza do terço entre as casas das carolas. Moça de família tradicional, recatada, educada e diligente, desde a tenra infância sabia ter nascido para a ordenação, até mais que Eurico. É dito que jamais cometeu um só pecado em vida. Não obstante, era detentora de todas as virtudes possíveis, teologais e cardinais. Se fosse considerado que tivesse um defeito, este seria a contumácia em identificar nas pessoas uma lista de pecados, a qual não se acanhava em relatar ao padre. Não era preciso que ninguém lembrasse das próprias faltas, já que a boa freira sabia de todas as tentações em que os paroquianos haviam caído. Como não encontrava máculas em si – e como era imaculada! – aplicava a máxima cristã do “orai e vigiai” a tantos conterrâneos quantos podia. Orava por eles e os vigiava incansavelmente.

Veio a falecer em idade avançada, muitos anos depois do bom Padre Eurico. Exerceu a mesma função de secretária paroquial para o sucessor, Padre Anísio, e para o sucessor deste, Padre Onofre. Era a defunta de aparência mais serena que já se viu. Por causa de sua mania de observar – e sugerir corretivos – para as faltas alheias, acabou atraindo a antipatia de muita gente. Mas, na mesma medida, havia quem muito a admirasse pela persistência inabalável de sua fé. Mas, entre gregos e troianos, ou ainda, entre católicos e protestantes, muitos foram ao velório para ter certeza de que estava realmente morta.

Os anos passaram sobre Pereirópolis, e outros padres vieram e passaram pela paróquia. A cidade cresceu, o rebanho também, e a igreja precisou de uma reforma. Os mortos do cemitério, dentre os quais estavam os irmãos Eurico e Guilhermina, seriam removidos para um outro, maior, em lugar mais apropriado. Quando chegou a vez do túmulo da freira, qual não foi a surpresa e o susto dos coveiros: o caixão, as roupas e o corpo sofreram a ação inevitável da natureza, mas os olhos, as orelhas e a língua de Irmã Guilhermina estavam intactos – ou incorruptos, como é correto dizer. Foi o bastante para que a antiga fama da “Santa de Pereirópolis” fosse – com o perdão da palavra – desenterrada. A notícia correu a cidade, e naquele mesmo dia começaram a aparecer aqui e ali os milagres atribuídos à santinha, coisa que acontece até hoje.

As relíquias, conservadas na Igreja de Santa Terezinha das Missões, ainda não foram solicitadas pelo Vaticano, nem houve resposta ao pedido de beatificação. Enquanto isso, as pessoas em Pereirópolis continuam levando suas vidas. Algumas alegam que se sentem observadas de vez em quando.