O COMETA,A MULHER EO CANGACEIRO

Esta é uma das muitas estórias que rolam por aí sobre Lampião e seu bando.Não sei se verdadeira,contou-me um amigo de meu tio que foi prefeito de Queimadas,um dos lugares  onde o bando passava com freqüência.

Narra a estória que,um fazendeiro coiteiro e fiel amigo do Virgulino,tinha uma mulher muito bonita,mulata com uma “abundancia” cantada em prosa e verso pelos homens da região,porém,com muito cuidado,pois,se o coronel soubesse o sujeito se arriscaria a perder muito mais do que a língua.

Num sábado qualquer,chegou nesta cidadezinha,um cometa,vendedor da Singer,metido a galã e com fama de ousado e corajoso.Ousado,porque,mexia com todas as mulheres bonitas,fossem elas casadas ou não,filhas- família ou raparigas.O rapaz era novo na região,e,passando na feira avistou a mulher do coronel,num vestido vermelho e justo,que fazia jus á todas as suas prendas.Veio,sorrateiro e,devagarinho,passou a mão no trazeiro da moça,soltando uma piada de mau gosto.Ela parou,encarou-o e seguiu prá casa,ali mesmo,na praça.Os transeuntes,estarrecidos,trataram de se afastar do cabra,já prevendo o fuzuê.Mas,um senhor compassivo disse a êle quem era a dama ofendida e o que provavelmente lhe esperava.O moço riu,disse que não iria embora antes de terminar seu serviço,agradeceu o aviso,mas,mostrou a pistola,escondida no cós da calça,coberta pelo paletó xadrez e disse estar pronto prá qualquer eventualidade.O que avisou evaporou-se e o cometa voltou prá pensão,onde estava hospedado.Todos o olharam com compaixão e trataram de evitar contato com êle.

Dia seguinte,ainda escuro,o rapaz encilhou seu cavalo,arrumou a mala de amostras no alforge e seguiu viagem;ia prá perto,Santa Luz,aonde pegaria o trem.Na saída da cidade,um camarada saído do nada,agarrou  o cavalo pelo sedén,jogando-o no chão,cavaleiro,junto;apareceram mais dois,um com chapéu de cangaceiro e espingarda de dois canos,um facão,na cintura.Sujegaram o cara,que ajoelhou,assustado;tiraram-lhe a arma e a mulher apareceu,de braço com um velho,de compleição forte e boa aparência.Apontou o cabra,que tremia feito vara verde e perguntou á mulher:

-Foi este o cabra que te destratou na praça?

-Foi esse,sim,meu marido.Foi esse desgraçado,mesmo.

Os capangas mais o cangaceiro deitaram o cara no meio da lama da estrada,o cangaceiro apanhou o facão,mas,pareceu indeciso,sobre o que fazer.O coronel entendeu e consultou a mulher?-Êle te passou a mão dereita ou isquierda,mulé?

-Foi a esquerda,marido.

Então,o cangaceiro pegou o facão e,num golpe certeiro,decepou a mão do vendedor,que deu um grito,capaz de enternecer as onças.Ficou lá,jogado na lama,até que um vivente o encontrou e foi correndo chamar o médico,que tratou dele,e disse que a lama evitou que a hemorragia o matasse,ajudando a estancar o sangue.

Após o lauto almoço na sede da fazenda,o cabra de Lampião se despediu do anfitrião,que lhe agradeceu os préstimos e foi cuidar dos “aperparos”,para hospedar o bando que chegaria daí a dois dias.

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 29/07/2008
Código do texto: T1102373
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