DEUS POR TESTEMUNHA!

O calor sufocante do dia 8 de dezembro de 1974, irritava até o vendedor de sorvetes em frente ao MASP, na Avenida Paulista. McGregor deixara sua mulher na Rua Augusta, especificamente na maternidade de São Paulo.. Ela iria dar à luz a sua primeira filha... Naquele dia nasceriam 200 crianças naquela fábrica de bebês. No outro dia, McGregor foi visitar a mulher. Assim que chegou na maternidade uma amiga de quarto , disse-lhe que a menina não estava muito bem. E pediu que não contasse para a mãe, temendo uma recaída. A criança havia se afogado com a água da bolsa. McGregor viu a mulher mas não pode ver a filha. Voltou para casa pensando no que iria fazer para não deixar que sua filha morresse. Ele teve uma brilhante idéia. Ainda tinha o terno novo do casamento. Vestiu-se bem e naquela mesma noite voltou para a maternidade. Aqui cabe uma explicação. Essa maternidade tinha duas alas. A dos ricos, particulares. E a dos pobres, INPS, etc. McGregor escolheu a dos ricos. Tomou o elevador como se fosse um médico de plantão. Foi até o sétimo andar sem que ninguém impedisse o seu intento. Chegando lá havia uma porta que separava as duas alas. Havia uma servente cuidando dessa porta. Ele, empostou a voz e ordenou para a servente:

- Abra essa porta, por favor!

A mulher imediatamente abriu a porta. Ele atravessou o corredor e foi parar no berçário, onde uma criança tossia. Ele já tinha os dados da mãe. Não foi difícil encontrá-la. E a criança que tossia era a sua filha. Até que enfim estava vendo sua filhinha pela primeira vez. Achou o bebê muito lindo. Imediatamente chamou a plantonista e pediu que a criança fosse socorrida. Ela foi colocada na incubadora.

A preocupação, agora, era a de arrumar dinheiro para vir buscar a mulher e a filha no dia seguinte. Ele estava desempregado. Uma asma o impedia de se locomover naquela cidade. Não queria pedir para parentes. Os amigos haviam se afastado. “Quem mandou casar!”. Uma luz veio à tona. Jairo um subgerente das Casas Pernambucanas da Lapa. Havia ajudado muitos colegas vindos do interior para Sampa. Ele seria a vítima.

No meio daquela pompa de tecidos que davam um colorido à loja no centro da Lapa surgia o seu amigo Jairo. Chamado pelo interfone:

- Oi McGregor, tudo bem?

- Tudo bem, Jairo. Acabei de levar Ângela para dar à luz. Acontece que estou sem nenhum puto para tirá-la de lá! Você pode me emprestar alguma coisa?

Jairo sabia que aquela ajuda não teria retorno. Mas, espontaneamente, enfiou a mão no bolso e tirou trinta cruzeiros.

- É o que tenho no momento, McGregor, serve? – perguntou.

- Serve, Jairo, depois eu lhe devolvo!

McGregor voltou para a maternidade e pode levar a mulher e a filhinha, Dorothy, para a sua pequena casa, no bairro de Pirituba.

Theo Padilha, 26 de agosto de 2008

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 26/08/2008
Reeditado em 28/08/2008
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