O Caminhão e o Fordinho

Essa é mais uma daquelas inúmeras histórias, que aconteciam numa cidade do interior de Minas Gerais, sobre a qual, as más línguas diziam: - "Se cobrir vira um circo, se cercar vira hospício", tal era a incidência de gente desajustada e, porque não dizer: Desparafusada.

Havia por lá um homem, que, por incrível que possa parecer, pensava ser um Caminhão.

Era um caso típico de dupla personalidade, pois ele era o Caminhão e, ao mesmo tempo, era ele mesmo: Fordinho, apelido que ganhara por motivos óbvios...

Fordinho andava ou -melhor dizendo- rodava pela cidade, como fosse um perfeito Caminhão, ora reduzindo a marcha, ora freando nas esquinas; buzinando quando algum carro não lhe dava passagem, dando seta quando pretendia virar numa esquina e, estacionando antes de descer do veículo, com direito a todos os movimentos necessários, desde de o abrir até o fechar da porta.

Quando ele voltava, se alguém tivesse estacionado no lugar que ele ocupara, Fordinho tinha verdadeiras crises de ódio.

As pessoas, cruéis como são, e, sabedoras do ódio que Fordinho demonstrava nessas ocasiões, esperavam que ele estacionasse o seu "veículo", para, em seguida, estacionarem sobre o mesmo.

Certa vez, alguns estudantes que faziam hora, sentados num banco da praça principal da cidade, tiveram -ao ver Fordinho passar à toda- a brilhante idéia de equipá-lo, convenientemente.

Ele, quando soube, ficou super entusiasmado com a idéia de ganhar um par de setas, dois faróis de milha, um toca fitas com duas caixas de som, uma buzina de FNM, mais conhecido como Fenemê -que era um caminhão muito popular à época- e, o mais importante, uma placa.

Claro que tudo aquilo seria adaptado numa capa, que ele colocaria antes de sair de sua casa, tendo, por falta de espaço, a bela placa colocada só na parte de trás.

Fordinho rodou feliz da vida, durante um bom tempo, com os equipamentos que ganhara e, que, de certa forma, haviam facilitado tremendamente a sua vida, muito embora, o peso daquela capa comprometesse significativamente o seu rendimento, como veículo...

Naquela ocasião, as ruas da cidade estavam recebendo uma camada de asfalto sobre o paralelepípedo que já existia, sendo que a empresa responsável pela obra, era da capital do Estado.

Naturalmente, seus funcionários não conheciam e, nem tinham a obrigação de conhecer, as figuras exóticas que circulavam por ali.

Um dia, estava Fordinho rodando, na frente de um daqueles tratores, equipado com um rolo compressor que compactava o asfalto, cujo tratorista buzinava, desesperadamente, para que Fordinho saísse do caminho, mas, entretido com a sua parafernália, Fordinho fazia sinal para o trator passar.

O coitado do tratorista deve ter imaginado, com certeza, que Fordinho estava tirando uma com a sua cara e foi pra cima, esperando que ele saísse no momento certo, mas, Fordinho, que jamais poderia subir na calçada, enquanto estivesse na pele do Caminhão, morreu -por obedecer às leis de trânsito- tragicamente atropelado.

Talvez, do ponto de vista de Fordinho, sua morte tenha sido consequência de uma violenta colisão traseira...

Mais uma prova de que o cômico e o trágico estão sempre juntos,

mostrando-nos, o tempo todo, que talvez devamos levar a vida menos à sério, sem tantas certezas...

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 22/09/2008
Reeditado em 02/10/2008
Código do texto: T1190929
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