Meu tio Hercílio e a cobra venenosa...

Meu tio Hercílio e a cobra venenosa...

Morávamos em Coronel Freitas, uma cidade pequena na região serrana de Santa Catarina, nome dado em homenagem a um coronel famoso, desbravador destemido que lutou por aquelas bandas. Por ser uma região muito fria, o inverno rigoroso castigava os pastos, destinados à alimentação animal, meu tio como os demais fazendeiros da região, costumava atear fogo ao pasto ressecado para que dessa forma brotasse mais rapidamente, aliás, essa prática é adotada até hoje em muitas regiões do país.

Ele teve apenas um filho a quem chamou de Elói, mas em sua bondade acabou criando mais três rapazes, Aloir, Sebastião e Valdemir, o que também era prática comum na época, para ter auxílio na lida de campo, no trato com o gado e nos afazeres da fazenda, eu costumava ir cotidianamente a sua casa que ficava a uns três mil metros da minha e acompanhava de perto o convívio familiar, minha tia fazia deliciosas broas de milho que eu generosamente cobria cada fatia, com o requeijão que ela mesma produzia, sendo assim um referencial para mim em minha vida sem muitas regalias na época.

Pois bem, em determinado dia meu tio chamou dois de seus filhos para acompanharem uma queimada no pasto já muito ressecado pelo frio, ele ia em uma das extremidades, controlando as chamas e os dois meninos mais adiante, evitando assim que o fogo saísse do controle, mas a determinada altura os meninos pararam de executar suas funções pois haviam se deparado com uma cobra, que havia sido espantada de seu ninho pelas chamas, meu tio logo começou a gritar de onde estava, exigindo que os dois voltassem ao combate ao fogo e nada deles cumprirem as ordens. Não demorou muito e lá veio meu tio bufando para cima dos meninos e perguntando com a severidade que só ele sabia como determinar o porque da recusa.

Pois quando falaram que a cobra estava ali, pertinho e pronta para dar o bote em quem se aproximasse meu tio não titubeou e disse: vamos lá que eu resolvo isso, os meninos assustado nem acreditaram quando meu tio pegou a serpente pela cabeça e estirou-a com a outra mão e esbravejando com os dois disse: era essa a cobra que vocês estavam com medo? Pra completar ainda levou-a a boca e lascou uma mordida na serpente separando-a em dois pedaços que atirou aos pés dos dois meninos apavorados.

Saiu cuspindo pedaços de cobra da boca e disse: se era esse o problema, está resolvido agora, vamos atender o fogo antes que passe para o pasto do vizinho, e ele sim é bravo, muito mais que essa cobrinha aí que vocês estavam com tanto medo...os dois meninos voltaram imediatamente ao trabalho enquanto as duas metades de cobra ainda se retorciam no meio das cinzas do pasto queimado...coisas de meu tio Hercílio...

Adilson R. Peppes.

Adilson R Peppes
Enviado por Adilson R Peppes em 22/09/2008
Reeditado em 25/08/2016
Código do texto: T1191399
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