UMA CONVERSA AMIGA

de

CHE QUEVARA

e a

Transformação da sociedade

FLÁVIO MARTINS PINTO

Fundação BIBLIOTECA NACIONAL/MEC

Escritório de Direitos Autorais

Nº de registro: 332.524-Livro:590-Folha:184

Protocolo de registro-2004RS_332

A todos que se indignam contra aqueles que manipulam a mente humana para fins escusos e os que tentam justificá-la alardeando que é para a salvação do homem.

O autor

Esta é uma obra de ficção e os aspectos apresentados são mera coincidência.

UMA CONVERSA AMIGA

Após as refregas, na Academia e na Sociedade, e outras tantas na rua, Quevara foi procurar seu amigo fiel. João estava lá tomando café.

D.Calú tinha passado o dia inteiro enrolado no seu cobertor de lã uruguaia, ganho num jogo de Tava , lá na fronteira, quando fazia suas estripulias.

Era um tipo quieto, mas impressionantemente vivo quando andava ou desandava a falar. Era um intelectual. Dizia que era o Sócrates reencarnado. Sempre de preto, gravata borboleta preta ou bordô, um panamá amarelecido e com uma impecável camisa clara, era o ombro que Quevara se encostava quando tinha sofrido um revés.

- D. Calú, estoy acá para lhe entregar meu pescueço.

- Mas que pescueço, Quevara. Isso é coisa daqueles que pensam que sabem espanhol e falam Cueca-Cuela e sorviete de moriango. Mas que côsa. É pescoço, el cuello, nada más, Quevara. Cuello, cuello.

- Ah, bom, então....

- O que te fizeram para estares tão triste, Quevara? Mas vamos sentar, pois não ganhamos nada em pé e siquer cresceremos mais.

- È, D. Calú, descobri que a turma da Academia é a mesma do João. Os da Sociedade , alguns, mas....

- Tu não sabias disso, oh , índio veio? Mas considere que o João está mudado.

- Si, si, si, D. Calú. Pero são mais radicales que imaginava. Até parecem que são da milícia do Fidel. En la palestra se mostraram muy atentos, pero después, atiçaram até periodistas contra mí.

- Bueno, acho que te ajudei ou não durante a minha intervenção?

- Si, si, si.

- E tu, João, que achaste?

- Bueno, aqueles caras consideraram a tua tese igual a uma caixa de morangos ?

- Bonita por fora, mas ...................

- D.Calú, não lhe falei nada, mas marquei una entrevista com los periodistas aqui no seu apartamento, diz Quevara.

- Será um prazer receber jornalistas aqui, mas podias ter me avisado antes e prepararia algo melhor do que esse carreteiro, não achas? Mas para quando?

- Daqui a alguns dias, depois aviso.

- E daí?

- Quero que o senhor me oriente e .....

- Sim, Quevara, entendi. Te lembras quando nos conhecemos?

- Sí, sí, si....

- Pois é, naquele dia estavas indignado com o rumo das coisas no Rio Grande. É claro, e entendo, mal chegado ao país e estando baixado num hospital mais de três meses, tudo desconhecido e te deparaste com um tipo de gente que bem conheces. É um tipo especial de gente movida a conflitos. Não conseguem viver em paz com ninguém nem com eles mesmos. Vivem através da geração do ódio por ódio, rusga por rusga. E depois vem nos dizer “.. não ter vergonha de ser feliz...” Sim, feliz sob o tacão deles, é claro. Depois de tudo ter sido tragado pelo seu partido. Diversas vezes disse que eles enxergam política em tudo, embora, como bem sabes, o homem é um ser político. Mas tudo tem um limite e essa turma não tem enquanto não atinge seus objetivos, e mesmo quando atingem não se dão por satisfeitos inventando novas coisas. É da sua natureza polemizar e agir com dupla personalidade.

Quem, como eles, gera ódio político só podem ter uma deturpação na sua consciência. Uma cisão nos seus neurônios que deturpa tudo a seu favor e acomoda os mais diversos conceitos á luz dos seus conceitos e não os universalmente conhecidos.

A verdade dói, Quevara e o que transmitiste choca com o método de passagem de informações daquela gente. O que fazem diuturnamente é incutir palavras de ordem e conceitos até a massificação e imposição de sua vontade. Na realidade é uma lavagem cerebral muito bem montada. E para isso necessitam daquele público que bem falaste: pessoas anestesiadas por conceitos mentirosos repetidos á exaustão. Mentir, mentir, mentir faz parte da sua doutrina como bem conheces. Mudar de opinião para atingir seus objetivos sem o menor escrúpulo é uma prática corriqueira e não coram ao serem questionados sobre tal incoerência.

Seguidamente nos contas como funcionam as coisas no teu país e, pelo que vejo, essa gente não pensa diferente dos de lá e querem fazer aqui o que os seus parceiros doutrinários fizeram lá. Por isso a insistência em favorecer o regime cubano em tudo. Veja que não são pessoas de pouca cultura ou menos viajadas que falam em transformar o Brasil em socialista modelo cubano, com tudo o que tem direito até fuzilamentos.

- Si, si, si. Isto conheço mui bien.

- Veja bem, como poderemos confiar em gente movida a ódio? O ódio que movimenta consciências só pode ser um ódio sociopático e esse é o ponto de partida da ideologia e modus operandi deles. Um ódio que, muitas vezes começa na família, renegando-a. E o problema é que acham que a família deles é um microcosmo de toda a sociedade. Acompanhe suas propostas, nas quais a maioria procura quebrar a espinha dorsal da família, em todos os parlamentos do país e terás uma idéia da insanidade inconseqüente dessa turma. Parecem seguir a risca aquela famosa decisão do PCUS , na qual mandava seus seguidores através da infiltração total, subverter o Ocidente, particularmente a América, para fazê-la ruir ou implodir seus costumes mais tradicionais e mais caros. Na realidade, sabes bem o que aconteceu: eles ruíram antes do Ocidente e do modo capitalista de viver, devido ao modo policialesco, totalitário, desumano e cruel com que impunham a doutrina. A verdade parece não se preocupar com o tempo, mas ela surge infalível quando sua capacidade de convencer se esgota. Por mais sufocado que seja uma população, chega o momento de se libertar. Não havia fronteiras para o comunismo internacional, muito menos respeito para com a autodeterminação e soberania dos países: bastava não ser comunista e pronto, logo era alvo de infiltração e subversão.

- Si, si, si.

- Pois é, Quevara, é a cultura de uma intervenção política e diabólica que levou inúmeros países á,aventura socialista e a débâcle total da suas instituições, levando a nação de roldão. Os movimentos que nessa doutrina se inspiram se consideram acima da lei. Veja rusga entre MST e Brigada Militar em Livramento, em janeiro de 2004. A côsa estava feia, não é? disse

- É, D.Calú, mas tomar partido de quem?

- Amigo, é fácil: basta seguir o que Osório( o grande Gen Osório-Marques do Herval- orgulho da história militar e política gaúcha e brasileira) disse certa vez- “ É fácil comandar homens livres: basta mostrar-lhes o caminho do dever”.

- Sim, D. Calú, e daí?

- Meu caro amigo, prosseguiu, o dever é algo intrínseco ao caráter do homem de bem. Ele sempre vai pautar a busca de seus objetivos pelo estrito caminho da lei e dentro dela. Sempre. Ou você acredita na boa intenção de um mentiroso contumaz ou na inocência das ações de alguém que vai á sua casa discutir um assunto de armas na mão? O dever é algo muito maior do que a obrigação. Ele é aceito de modo consciente e voluntário, mais como um meio de fortalecimento interior contra as intempéries temporais de valores modificados, que volta e meia surgem. Sabes bem que, hoje, inúmeras pessoas só pensam nos seus direitos , jamais nos deveres e obrigações para se sentirem verdadeiramente cidadãos. Atitudes, meu caro, em o que me refiro, sem sombra de dúvidas. Não se pode aceitar que pessoas ou grupos se assenhorem de uma postulação, que, embora justa, a reivindique com violência. A violência é monopólio do Estado para defender a aplicação de suas leis , patrimônio e tudo o que é de sua responsabilidade, jamais deve ser exercida por pessoas ou grupos ,organizados ou não, sem que se perca a legitimidade do pleito. E ainda por cima, e como hoje é de praxe, causar desconforto moral e físico a outrem ao desrespeitar seus direitos, começando pelo de ir e vir. Quanto mais violento, mais sem razão, entendo. Assim como também ao se tentar inverter o juízo: de agressor a agredido pela simples retórica aplicada, considerando apenas o depois do fato, nunca o fato em si. Aceitar a violência como modo de reivindicação é a inversão da cidadania. Sim, ao desrespeitar os mais elementares direitos de outrem sobrepondo os seus, o homem se rebaixa á situação de não civilizado e, como sabes, o civilizado resolve suas pendências de modo civilizado. Parece uma redundância, não é? Mas é isso mesmo. Não quero, de antemão, generalizando, taxar de não civilizados aqueles que agem movidos por seus impulsos animais. Uma coisa é a agressão verbal e outra a física. Uma, tal como uma ofensa, ou até um presente que não se aceita, fica com o agressor caso o agredido não a aceite e pronto. Outra coisa é a agressão física, torpe e vil, ainda mais quando cerceia movimentos e ações de quem legitimamente os quer fazer uso. Então, se a reivindicação for justa, existem modos justos e civilizados de buscá-la, sem violência de qualquer espécie. Mas não podemos esquecer, e isso é muito importante, que apóia-la ou patrociná-la (a reivindicação mesmo com violência), mesmo dizendo que não concorda com a violência, mas a aceita, é um ato pleno de violência declarada, não podendo o autor se imiscuir das responsabilidades.

- Mas, D. Calú, e daí? De que lado afinal?

- É, tantos interesses em jogo, mas a lei é uma só e deve servir para todos. Mas não podemos esquecer que o MST é um movimento articulado e que quer, na realidade e seus líderes não escondem, destruir o Estado de Direito. Aquele mesmo Estado que lhe dá guarida democrática para agir e sobreviver. Sim, eles só sobrevivem com dinheiro do contribuinte. Isto é um fato incontestável.

- E o Estado tem ou deve se defender quando agredido?

- Claro, e como já disse, a lei serve para todos numa sociedade democrática e deve ser aplicada e fiscalizada pelos agentes da lei em todos os escalões e nas mais diversas áreas. Eles estão ali para isso, afinal ganham exatamente para isso. A pergunta, então, deve ser dirigida para saber de que lado e como agem os agentes da lei. Se sempre agirem para que a lei seja cumprida, o modo dissassório certamente será sentido por aqueles que, com absoluta certeza, pensarão duas vezes em colocar o Estado e suas instituições em cheque. Mas não nos enganemos ao aceitar os homens da lei como os corretos sempre.

- Si, si, si, D.Calú.

- Um homem livre, mas não dentro dessa concepção errônea que hoje vigora transmitida por certas correntes religiosas, sabe o caminho correto para onde tem de ir e pautar suas ações.

- Si, si, si, D.Calú.

- Já cansei de falar sobre as vantagens da virtude sobre os vícios e não vou mais me estender sobre isso.

- Então, D.Calú, vamos embora.

- É, João, estou um pouco cansado. Até mais tarde.