O Relato de uma Atleta

O relato de uma atleta

Ao atingir a meia idade, comecei a sentir o mundo flutuar à minha volta. O desespero tomou conta da minha alma e entrei em depressão profunda, sentia-me horrível.

A morte me parecia a única solução. Perdi o ânimo de viver. Meu marido ficava muito preocupado, ligava-me de seu trabalho, de hora em hora, para saber se eu estava bem. Eu tinha duas filhas, boa casa, carro e o amor da família, mas não me bastava. Sentia-me tão só, perdida. Precisava urgente de ajuda.

Uma amiga convidou-me a praticar esportes pra descarregar a tensão nervosa. Fui à sede do Paraná Clube, era sócia e fui encaminhada à professora e fisioterapeuta Iara, uma jovem alegre e dinâmica, que me contagiou com seu bom astral. Conversamos por um longo tempo sobre meus problemas. Neste dia, convidou-me a participar dos exercícios físicos e de uma pequena corrida pelas escadas do ginásio. Aquilo me fez um bem incrível.

Voltei para casa com uma nova perspectiva de vida. Participava das brincadeiras com as amigas, vi que o mundo voltou a ser cor-de-rosa. Os problemas foram diminuindo e a vida voltou a ter outro sentido. Vendo minha determinação, a professora Iara incentivou-me a participar de um percurso maior. Do ginásio, fui para a praça ao lado do clube, para aumentar a minha resistência física.

Então, comecei a me preparar para a minha primeira corrida rústica, sem saber se conseguiria percorrer um trecho de dez quilômetros. Iniciei aos poucos, com dificuldade, sem instrutor. Em dez dias, meus pés estavam cheios de calos. Queria provar a mim mesma, que seria capaz de tal façanha e praticava todos os dias pela manhã e à tarde. Cheguei a um ponto de equilíbrio, superava o treinamento sem aquele cansaço inicial. Correr parecia fácil, mas sem persistência não há vitória. A chuva e o frio não eram empecilhos para mim. Pensava comigo mesma, que com coragem e esforço chegaria lá e uma daquelas medalhas seria minha. Achava que estava preparada e, toda orgulhosa, fui me inscrever. Cheia de confiança, a esperança era não decepcionar, queria fazer bonito perante aquela gente que ali se encontrava.

No dia da prova, levantei cedo, às sete horas da manhã. Encontrava-me na linha da largada, fazendo aquecimento. Ao meu lado estava um moço com problemas físicos que, muito alegre e falante, desejou-me sorte. Todos o conheciam como Amendoim. Olhei fixamente para ele, agradeci e desejei-lhe sorte também.

Disse para meu marido: - Desse aí, eu ganho!

Percorridos uns três quilômetros, escutei um “toc-toc” ao meu lado. Dei uma olhada rápida e, para meu desespero, era ele. Passou por mim e gritou: - Não desista!!

Fiquei decepcionada e envergonhada por meu pensamento em relação à capacidade física daquele atleta. Segui adiante por mais uns quilômetros, mas acabei desistindo. O fracasso me deixou triste, peguei uma carona e fui até o ponto de chegada, no SESC do bairro Portão. Para minha surpresa, o Amendoim terminou o percurso e comemorava a sua vitória. Ao ver-me desconsolada, não teve dúvidas, veio aplaudir-me e encorajar-me a não desistir. Aconselhou-me a treinar e ter perseverança. Aquelas palavras me deram ânimo e comecei a pensar com determinação que, um dia, conseguiria me tornar uma atleta.

Deixo meu testemunho, tornei-me umas das melhores atletas de minha categoria e, por oito anos consecutivos, fui vice-campeã da categoria veterana e convidada a participar da corrida de São Silvestre no pelotão de elite.

A depressão estava curada, voltei a viver intensamente, e, sem dúvida, a benevolência daquele moço me ensinou o caminho do esporte e a valorizar a vida.

Ilario Ieteka
Enviado por Ilario Ieteka em 11/10/2008
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