Amor, livre amor

“Ah, como eu te amo! Não tem noção...”

“Ora não me venha com essa... – Os olhos se cruzam – uma foda boa não quer dizer amor...”

“Você sabe que não é isso...”

“Eu sei exatamente o que você quer de mim...”

O olhar congelante dela o fez levantar-se da cama imediatamente. Ela continuou sentada, na mesma posição.

“Acho que agora é momento de comemorar. Que tal uma espumante italiana?”

“Em sua companhia?”

Ele balançou a cabeça. Ela levantou-se da cama e foi até um espelho na parede. Ajeita os cabelos.

“Aceito!”

Ele serve as duas taças. Eles brindam sem muito alarde, os olhares se cruzam novamente.

“Olha que obra de arte fabulosa. Só você mesmo. Mulher fantástica”

“Me fala desse sorriso lindo no seu rosto?”

“E da paz que me trará daqui para frente. Isso é impagável.”

Outro brinde de leve, vira-se de costas para ele e de frente para o espelho. Ajeita os cabelos. Olha o corpo através do espelho. Ele a abraça por trás:

“E você quer o que de mim? Meu pau?”

“Não só isso... o amor... o amor verdadeiro...”

“Mas tem meu orgulho, meu imenso orgulho”

“Orgulho do que qualquer outra mulher poderia fazer? Muito pouco para mim!”

Ele a vira de frente. Dá-lhe um beijo rápido e quase forçado. Segura-a pelos braços.

“Muito pouco?! Então por que fez?”

“Por que por enquanto meu amor por você está aceitando esmolas. – engole em seco – Mas daqui a um tempo serei mais exigente...”

“Pois saiba que não seria qualquer mulher a fazer o que você me fez. Você me trouxe paz, tranqüilidade e liberdade.”

Senta-se na cama.

“E por fazer o homem que mais amo no mundo sentir-se o homem mais livre do mundo eu posso perder a minha liberdade... será que vale mesmo?”

“Por amor tudo é válido...”

“Quando é recíproco...”

“...Não... Basta ser verdadeiro...”

O peito dela fica gelado. De repente, um calafrio. Pensa no que ele disse. Olha de novo seus olhos, são frios e sedutores. Ela respira fundo. De repente aquele homem ali na frente não era mais o que ela estava apaixonada. Aquele que fazia seu peito disparar. Ele fazia seu corpo ter sensações de nojo. Não o queria mais ali, não queria mais vê-lo.

Sentia-se uma criminosa, suja e nojenta.

“Limpe sua merda. Vou embora, são 3:30 da manhã, preciso sair ainda na escuridão. Eu tomei absolutamente todos os cuidados, mas olha lá. O apartamento é seu mesmo...”

Ela trocou de roupa rapidamente e deu mais um suspiro. Saiu na certeza de alguns dias estar na prisão, mas também saiu no alivio de saber que não sentiria, nunca mais, aquela dor pesada no peito. Nunca mais, seu espírito e sua alma agora estavam finalmente livres para sempre.

Ele tirou todos os lençóis que envolviam o corpo do morto e o encarou. Ali estava o filho da puta que comia sua mulher todas as noites. Mas agora morto, a arapuca da menininha nova atraindo dera certo e o crime fora perfeito.

Ligou para a polícia e sabia que poderia ir para a prisão. Mas ficou na certeza de que estava livre para sempre. Livre de um encosto em sua vida, livre do homem que estava enlouquecendo a cabeça dele e de sua mulher.

Seu amor por ela estava agora mais livre para ser feliz.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 23/10/2008
Código do texto: T1244560
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