O Mito de Moisés

Olá Amigos

É tradição na minha família sermos contadores de histórias. Isso começou com meu bisavô Felício. Ele nasceu na Letônia. Minha mãe conta que havia uma lenda nessa região que dizia que quem nascesse no dia em que ele nasceu, se tornaria um Rabino ou um Ateu. Seu pai, que era Rabino preocupado com essa profecia, logo cedo o colocou numa Yeshivá (escola de Rabinos) para que não se tornasse ateu. Já na escola, meu bisavô, por não aceitar ou não se satisfazer com as respostas dos Rabinos para suas perguntas, fugiu. Se tornou um andarilho do mundo, fazendo trabalhos simples e variados para poder sobreviver e continuar sua aventura pelo mundo. Chegou no Brasil, já em idade avançada e se casou com minha bisavó. Pouco sei dela, o que sei é que ele ficou cego. Lembro dele muito pouco pois morreu aos 90 anos quando eu tinha apenas uns 5 anos. Ele reunia as crianças da rua, sentava-se num banquinho e ficava contando histórias como um Rabino mas se dizia ateu. Suas histórias eram de suas aventuras pelo mundo. Lembro que ele conhecia cada palmo de sua casa apesar de cego e mesmo assim pedia-me para levar nos lugares. Eu lhe estendia minhas mãozinhas e o levava. Sentia-me muito útil fazendo isso. Lembro que quando ele estava próximo de morrer, ele passava o dia todo rezando a Torá e quando perguntávamos o que ele estava fazendo, ele respondia: Estou pedindo a Deus para me levar embora.

Minha irmã Clarice herdou no seu sangue essa habilidade e hoje ela é uma grande contadora de histórias profissional. Ela diz que todas as histórias fazem parte da alma do mundo e quando a gente conta a história de alguém ou a nossa própria estamos nos identificando.

Já eu me tornei escritora e poeta, o que de certa forma é uma maneira de contar histórias também. Eu me sinto ainda como uma guia, uma pessoa que leva as outras pelos caminhos dessa alma do mundo, o insconciente. E isso eu conheço bem, faço minhas viagens pelo mundo através das letras, da poesia. Por vezes é perturbador pois os caminhos do inconsciente são como achar caminhos pelas águas. Uma vez tive um sonho, eu pulava de piscina em piscina como uma baleia, sentindo-me sufocada e por vezes sem alimento de água, sentindo muita dor até que achei o caminho do mar, da liberdade. E essa liberdade para mim significa poder escrever.

Uma das histórias que me identifico nisso é a de Moisés, que guiou o povo judeu através do deserto e do mar para a liberdade, a Terra Prometida. E é isso que acho que todos nós buscamos, o paraíso em vida.

Uma mão me guia a lhes escrever isso, talvez a do meu bisavô, talvez a de Deus. E para completar essa minha história em aúdios vai a história de Moisés que é contada para crianças nas escolas.

Um dia, espero poder viver a vida de fato, sair dessa escrivaninha e aproveitar a vida, poder viajar para praias e campos, entrar no mar, nadar. Porém, no momento é o que me cabe, escrever.

Beijos a todos

Graciliana

Graciliana Ramos de Oliveira
Enviado por Graciliana Ramos de Oliveira em 08/11/2008
Código do texto: T1272834