Causo de pescador

Em conversas de pescador há sempre exageros. Mas fui quase “obrigada” a ouvi-las. Afinal, numa casa de sete pescadores tinha de ter sempre uma conversa de exagero! Esta aconteceu com meu pai. O velho não dispensava uma pescaria...

Tímida e amorosa minha santa mãe murmurou um: “Que Deus te acompanhe!”, ao tempo em que o velho enlaçando-a pela cintura, ainda um pouco delineada, beijava-a nos lábios (de selinho, pois nunca os vi em arroubos de paixão!).

Era alto, tez de um homem conservado em seus cinqüenta anos. O olhar realçava no rosto masculino. Esses olhos eram faceiros e eu em minha ingenuidade de meus quinze anos achava meu pai o homem mais charmoso da cidade.

Razões tenho muitas para lembrá-lo em algumas linhas. Deve ser saudade paterna!

Mas as coisas que relato a partir de agora são verdadeiras. Deixo os pescadores à parte.

Existem, em minha cidade, vários locais apropriados a uma boa pescaria à noite. Às margens do rio Piracuruca, há frondosas árvores e grandes pedras de arenito. Por ocasião dessas noitadas em busca de peixes que sobem e descem o rio antes da piracema... lá saiu o velho, tarrafa à mão, redes de pesca em um saco de nylon e outra rede para dormir.

No caminho, pedalando sua bicicleta Monark , farol aceso... fez um desvio do percurso natural. Foi à casa de (...). O nome não vem ao causo! Não se remexe na memória tanto! Há um local de lembranças intocáveis! Espere! Recordei de um tipo de manga que eu costumava “pegar” na casa de um vizinho - peito de moça! Pronto! Darei esse nome à mulher de minha história.

Redes de pesca estendidas no sentido transversal ao curso do rio... uma fogueira acesa... peixe assado na brasa... um gostoso banho nas águas mornas do rio com Peito de Moça ... Nus... os dois... foram deitar na rede armada de uma árvore à outra.

Imaginem um homem cinqüentão dentro de uma rede com uma mulher chamada Peito de Moça! Sugestivo, hem? Pareciam ter saído de um braseiro. Chamas entre os corpos! Imaginem agora peito de Moça por cima de meu pai e os gemidos dele! (...) As cordas da rede a balançar... A ranger no tronco das árvores! E então, ouve-se um grito rasgando a noite.

Escondidos atrás de umas árvores, na noite semiescura, outros pescadores da região sem bem entender (?) o sucedido, deixaram o local de observação (não tão passiva!).

Meu pai, ao chão, gritando de dor, enquanto Peito de Moça não sabia o que cobrir com as mãos. Mulher, às vezes, fica na dúvida se cobre a parte de cima ou a de baixo!

E o velho no chão!

_ Também, Seu Batista, armar uma rede tão alta e não verificar se tinha pedra embaixo!!

Oh! Benzinha! Agora vai cuidar das costelas quebradas de seu marido! Quase ouvi o pensamento de um dos pescadores tão cheio desses causos quanto meu pai!

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 21/11/2008
Reeditado em 12/01/2010
Código do texto: T1296660
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