SENTIMENTO DE CULPA

Estávamos meu primo Pedro e eu à procura de trabalho em um novo país; Portugal, apesar das igualdades interpessoais, estávamos com muitos problemas numa mesma época e, é sempre complicado estar com a vida baralhada; se bem que coisas desse tipo apenas acontece na vida de quem acredita na mudança de comportamento, atitudes e novos desafios.

Depois de várias idas e vindas, enfim encontramos uma oportunidade, chegamos naquela cidade litorânea felizes e confiantes, não tínhamos muito dinheiro, mas estávamos dispostos a fazer qualquer coisa pra sairmos daquela situação, situação esta que jamais deveríamos ter entrado, não pela mudança, mas pela falta de informações necessárias, ou experiências diria eu, tudo bem, isso já é outra outra história.

Chegando nosso primeiro patrão à porta da pensão onde passamos à noite, Pedro, eu e mais quatro brasileiros, que também estavam a procura de trabalho e de novos horizontes,se apresentou, conversamos algumas coisas, acreditando em tudo, sem darmos importância a detalhes, numa situação em que podendo chamar de normal, questionaríamos com certeza, mas naquele momento apenas com nossas malas e uma demasiada confiança, seguimos para uma casa que estaria sendo alugada para morarmos enquanto alí estivéssemos, já que foi dito que poderíamos mudar, na medida em que mudasse o local de trabalho, oque não nos assustou, tampouco nos preocupamos, isso sim era um detalhe, não o patrão ficar com o aluguel de uma casa que sequer à vimos, nos levou pra uma outra, dizendo ele, que seria provisória, pois teve problemas com à qual íriamos ficar.

Oque também não contávamos era com a presença de quatro romenos que já residiam nesta e que já à algum tempo estavam à trabalhar na lenha com essa mesma pessoa.

Nunca sequer havia chegado perto de uma serra eléctrica industrial, mas acreditava que poderia vir à ser um grande lenhador, se o destino assim o quisesse, também acreditava que as coisas melhorariam em todos os aspectos, inclusive em empregos melhores, mas pra já era oque tínhamos em mãos, ficamos então morando todos nessa casa, usando uma mesma cozinha, banheiro, enfim, era pequenina, na verdade nem se tratava de uma casa, era uma oficina de carros que ficava na auto estrada que liga Figueira da Foz à Mira, tratava-se de uma escritório abandonado, muito pequeno por sinal, com apenas um banheiro, dois quartos, e uma cozinha, tudo muito mal improvisado, contudo estávamos confiantes, pois estávamos a quase trinta dias naquele novo mundo, onde não conhecíamos ninguém que nos pudesse orientar ou nos dizer algo que mudasse aquela situação, já não tínhamos muitas opções, estava claro, portanto decidimos ver oque alí nos reservava.

Todos os dias, chegávamos muito cansados, cortar a lenha, descasca-la, juntar vários montes, era uma coisa que não estava no script, não sei por quanto tempo iria aguentar, mas por hora não tinha muito oque fazer, chegávamos pregados, meu primo, como era folgado, desmaiava, eu me prontificava a fazer o jantar e preparar a tal quentinha, que na verdade era bem geladinha,pois não tinha isopor que segurasse temperatura naquele clima gelado, na cozinha revezávamos, os romenos, eu e a outra turma de brasileiros, com apenas um fogão, uma ou duas panelas,improvisávamos copos, pratos e tudo mais, uma coisa era certa, deixávamos sempre a cozinha limpa para a outra equipe, como não havia clima de amizade, nem mesmo entre nós e os brasileiros, que vim a saber depois que o problema era o fato de que achavam meu primo muito folgado e preguiçoso, eu até poderia concordar em partes, mas nunca me queixei, acho que o problema maior não era aquela situação, sabia que na hora certa, eu mesmo daria o choque pra que ele caisse na real, como estávamos no mesmo barco, tínhamos que nos ajudar mutuamente, oque não acontecia, os rapazes então ignoravam meu primo, eu me distanciava por respeito,isso também não durou muito tempo, antes mesmo de sairmos dalí em definitivo já tínhamos alguma afinidade.

Em um daqueles dias normais,chegamos, como sempre,fui direto para cozinha, fiz o jantar, depois de um mal banho,apesar que o banheiro era o único lugar naquele horário em que não havia muito trânsito de pessoas já que os romenos só tomavam banho aos sábados, por vezes, os encontrava com os pés dentro do lavatório. Fui para o colchão ao chão, eu sempre ia primeiro para poder ler e escrever um pouco, antes que a boiada viesse dormir, Pedro já lá estava como sempre, depois de tudo pronto e após a sua soneca é que ele levantaria para comer qualquer coisa, tudo tranquilo, não fosse uma voz estridente à porta à chamar:

_ Ei amigo, anda cá!

_ Quem? eu?_ perguntou meu primo

_ Sí, sí, anda cá _ voltou a repetir

Eu estava lendo e alí continue, não sabia do que se tratava e sabia que Pedro resolveria a situação da melhor maneira, já que se tratava de um grande lenhador, muito sério por sinal, apesar do pouco tempo juntos, já aceitávamos as diferenças dos grupos, apenas esse mantinha distância.

Já quase dormindo mas sem exitar, Pedro se levanta e vai ao encontro do grande homem, eu apesar da curiosidade permaneci estagnado, me perguntando apenas oque estaria acontecendo na cozinha, já que Pedro demorava vir e ouvia -se dalí muito barulho, depois de um longo tempo, Pedro retorna com um grandíssimo ar de alívio em seu semblante, deitando-se me diz baixinho:

_ Ufa! ainda bem que foi apenas para limpar a cozinha que deixamos suja!!!

_ Mas não deixamos a cozinha suja - disse eu.

_ Ah! tudo bem, como já lá estava, aproveitei, limpei o fogão e passei um paninho no chão.

vanderleu
Enviado por vanderleu em 29/11/2008
Reeditado em 17/12/2008
Código do texto: T1310404
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