FALANDO COM A NATUREZA

FALANDO COM A NATUREZA

Á algum tempo atrás todos os anos no mês de setembro eu retornava a casa do Mano Veio em Cuiabá para novamente estarmos juntos na beira do rio.

Saímos para fazer compras ás 19:00 horas porquê íamos sair bem cedo no outro dia. Ás 22:00 horas já estávamos amarrando o barco no carro com toda a tralha já arrumada. Não esquecemos nada. Iscas, anzóis, quirera de milho, gelo etc. Depois de um “bate papo” familiar com Nice e Róbson, esposa e filho de Edmar Mano Veio, fomos dormir, pedi ao Criador para abençoar nossas pescaria. Ás 05:00 horas da manhã estávamos saindo após tomarmos um reforçado café. Ás 07:00 já estávamos na beira do rio próximo a cidade de Santo Antonio de Leverger. Começava meu diálogo com a natureza.

- Como vai meu rei? Hoje você está muito iluminado tenho certeza que vai abrilhantar nossa pescaria. E você rio Cuiabá, sempre viajando para o Pantanal? Como estão os peixes por aqui? Você sabe que sempre te respeitei e todos os seus habitantes. Um cardume de piavuçú está se aproximando? Certo, vou pegar alguns, talvez eu pegue um dourado ou um pintado.

Mano Veio não podia ficar, era quinta-feira e tinha muito serviço para terminar, sábado de manhã ele estaria de volta. Eu ia ficar sozinho? Não!

Com tantas vidas em minha volta. Acampamos próximo a um laranjal de um amigo seu, ele também estava de saída para a cidade. Mês de setembro, época de flores e amores. Para mim não estava bem havia separado da mulher que amava, comecei a chorar e logo uma fina chuva me molhava e acalmava.

- Chuva, você veio em boa hora.

Minhas lágrimas misturavam com suas gotas e desciam para o rio.

- Já está indo embora? Ficou pouco, volte quando quiser.

- E você Sol, que horas você vai? Á tardinha e volta amanhã bem cedinho? Ta bom, te aguardo então.

Preparei a tralha, joguei o trato de quirera e fubá de milho e logo os sauás e as sardinhas começava a atacar, mas minha intenção era pegar piavuçús, dizem que tem até de cinco quilos, nunca vi deste tamanho para comprovar e acreditar. Peguei algumas sardinhas para fritar no almoço. Meio dia e não havia pegado nenhum piavuçú. Preocupado em não pegar, fiz uma promessa a Mãe Natureza que o primeiro que eu pegasse seria liberado. Acabei de falar e um violento puxão fez a linha chiar, fisguei de susto, gastei uns cinco minutos para botar as mãos nele, acho que tinha três quilos. Cumpri minha promessa, com todo cuidado ele voltou para a água, o próximo iria para o viveiro e logo já estava com seis. Que vou fazer com tantos peixes? O que fiz foi fisgá-los e soltá-los, estava praticando o pesque e solte, só que naquela época não se falava nisto, ou pelo menos não tinha ouvido falar. Estava me sentindo bem com esta prática.

Você também vai voltar para água senhor piavuçú, muito obrigado.

O sol já estava colorindo o horizonte, tinha que parar descer para a prainha, tomar um banho limpar um peixe para fazer assado, quando estava abrindo e tirando as vísceras, apareceu um filhotinho de jacaré que atacou uma sardinha que passava próximo a sua boca, mastigou e voltou a ficar quietinho esperando o próximo.

Cara como você é espertinho, quer mais um pedaço do meu peixe? Sua mãe deve estar por aqui também não é? Acho que vou voltar para o acampamento antes que ela se aproxime. Joguei mais um pedaço e subi. Temperei o peixe acendi o lampião pois a noite havia chegado acompanhada de milhões de estrelas.

-Caramba senhor Céu, hoje você veio acompanhado de grandes astros, ontem elas não vieram porquê estava nublado e chovendo. Fique a vontade e boa noite.

Fazia alguns minutos que estava tentando acender o fogo da churrasqueira quando de repente veio uma rajada de vento que levantou faísca pelo ar.

-Obrigado senhor vento, estava quase desistindo. Se despediu com mais um sopro e embrenhou-se na floresta.

- Senhor fogo, agora que já acendeu as brasas da uma “maneirada” para que eu possa assar o meu peixe.

A fumaça se exalava pelo ar e os moradores da floresta começava a fazer sons que parecia estar sentindo o cheiro. Urros de bugios, urros de lobos, grunhidos de jacarés e rosnado da onça pintada. Talvez meu medo fazia imaginar tudo isto. Aí comecei a falar comigo mesmo.

- Que medo é este cara? Os sons que você está ouvindo são normais as outras noites também foram assim. Termine de assar o seu peixe vá jantar e dormir para preparar para o dia de amanhã.

Depois de me “autobronquear”’ tomei uma latinha e fui comer o meu peixe com um arroz soltinho. Fiquei alguns minutos olhando as estrelas, de vez em quando um meteorito riscava o céu. Alguns chamam de estrela cadente, no momento pode-se fazer um pedido que será realizado. Não custa nada acreditar e fiz um: Saúde, paz e muitas pescarias. Entrei na barraca, orei e embarquei para o mundo dos sonhos.

Uma bela aurora com o sol com um sorriso estampado igual desenho de criança.

-Como vai senhor sol, dormiu bem? Nada! Foi iluminar o outro lado do planeta, esta é sua missão desde a criação do universo. E você floresta? Parece que dormiu bem, pois os pássaros e os animais acordaram com muita alegria. Rio Cuiabá, agorinha vou aí pra gente “pruziar”. Espero que esteja tão bom quanto ontem.

-olhei de lado e vi o laranjal cheinho de flores brancas, com laranjas verdes e maduras e as abelhas se deliciando com o néctar que irá se transformar em um delicioso mel.

-Mais um dia e mais uma noite se passou. Pescarias, diálogos com a natureza.

-Sábado de manhã, Mano Veio se aproximava para iniciarmos mais um maravilhoso dia de pescaria. Agora tinha um ser humano para falar comigo também, Não é para me gabar, mas falamos e conhecemos um pouco de todos os assuntos, fico feliz quando estou junto com ele. Trouxe consigo iscas, gelo, refrigerante, cerveja, doce e biscoitos, falou-me como foi a semana de trabalho na cidade e eu falei sobre a pescaria e o ocorrido naqueles dias e sobre o diálogo que tive com a Natureza. Agora tenho certeza que solidão não existe, com tantas vidas animais, vegetais e espirituais em nossa volta e principalmente Deus, Criador de todas as coisas.

Edson

29/05/2008.

Edson Pintor
Enviado por Edson Pintor em 06/12/2008
Código do texto: T1322613
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