A PROMESSA

A noite estava escura e fria. Tudo parecida calmo e morto, como os habitantes do campo santo, em frente ao qual, os dois amigos travavam um diálogo sussurrante e medroso:

—Mas você em Jojoca! Me tira da aconchegante cama quente e convidativa, para me trazer aqui. Que programa mais fúnebre!

—Ora Nestor! Não reclame! Você só esta me quebrando um galho. Quantas vezes eu já te acompanhei em aventuras bem piores?

—Igual a essa? Nenhuma! Só um doido como você é capaz de fazer uma promessa tão absurda.

—Pode até ser. Mas foi graça a ela, que eu conseguir curar minha erisipela.

—Jojoca, rezar um terço, a gente reza em qualquer igreja. Afinal, não é para a oração que elas foram feitas?

—É verdade Nestor.Mas quanto mais difícil for o sacrifício, melhor é o resultado.

A prosa se alongava. Oração mesmo que é bom, havia sido esquecida. O frio da noite se tornava cada vez mais intenso. A apreensão de Nestor, já estava no limite. O vento açoitando a copa dos eucalípteros, produzindo um murmúrio de sons ininteligíveis que atormentava ainda mais o pobre do Nestor. O amedrontado caipira perscrutava o lugar com olhar agudo e forçado; pois a noite estava bastante fechada. Para tornar o ambiente ainda mais lúgubre, uma densa neblina deslizava mansamente, envolvendo os dois personagens como um manto tênue e gélido. De repente, um ruído maior e horripilante, cortou o ar, indo parar direto no ouvido afinado de Nestor. Com um tremendo medo, mais que depressa, ele olhou atento a copa do eucalíptero que ficava à sua esquerda. Numa palidez cadavérica e, com a voz vacilante, balbuciou para Jojoca:

—Olhe Jojoca! Lá no meio da árvore. Aquilo parece uma alma penada.

—Que nada Nestor! São seus nervos. Vamos rezar que seu medo logo passa.

—Jo-jo-ca! Não é só visão...Olhe!

Jojoca, depois da insistência do amigo, resolveu olhar na direção indicada. Foi com um terrível espanto, que ele viu...Lá no alto, com os braços abertos, balançando e vibrando, estava uma criatura branca, demoníaca. De um salto só, os dois saíram em desabalada correria, com os cabelos em pé.

—Bem que eu te avisei! — exclamou Nestor ofegante —Vir ao cemitério à noite é procurar confusão. As almas penadas não gostam de visitantes.

E sem olhar para trás, eles sumiram pela rua. Se esperassem mais um pouco, veriam que o motivo de seu medo, não passava de um velho saco plástico que, tocado pelo vento, foi parar nos galhos da árvore e agora caía lentamente sobre a rua, com um flutuar manso feito pluma de algodão solta ao vento.

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Gilberto Feliciano de Oliveira
Enviado por Gilberto Feliciano de Oliveira em 08/04/2006
Código do texto: T135933