Ouvi esta estória de uma grande amiga, a mesma que me contou o causo do Boi Rajá.

“Foi assim, nóis tudo combinemo um cuzido para o domingo.
-Cozido, daqueles com verdura?
-Craro! E tem cuzido sem verdura, carne de sertão, costela, e lingüiça? Pois é. O terreiro tava cheio de gente, Só nóis da famia, muito minino, e aí foi chegano muita moça e rapaiz.
- E a comida ia dar para todo mundo?
- Craro que ia, a gente sempre cuzinhava nas panela de barro, das maió.
Fui na cuzinha fazê carquer coisa e na vorta, vi uma cobra patrona
- Onde? As outras pessoas não viram?
- Não, a gente tava no meio da prantação de mandioca, tinha pé de abobra, pé de araçá, ela se escondeu, na prantação de mio,mai eu vi.
Avisei logo pra todo mundo e fui logo dizeno: - Voceis não mexe nela, nem vai bater pra querer matar, pruque não vão consegui e vai ser pior.
- Como assim?
- Eles tudo ia assanhá a cobra e ela vorta para esperá quem bateu nela, Mais num me ouviram, bateram nela, num cunseguiram matar e, ela correu.
- E voltou no outro dia? Perguntei, desacreditando.
- A sinhora nun credita, mais vortou sim. De manhã cedin nóis foi prá fonte pegar água, eu e outras moça. Quano espio invorta o que vejo?
- O que? conta!!
- A cobra patrona...
- O que é cobra patrona? esqueci de perguntar...
- Adispois eu digo, deixa eu continuá... debaixo dum pé de manga, no meio das fôia, lá tava ela: fez uma rudia e se cortou em treis pedaço.
- Rudia, o que é isso?
- Uma rudia, ora, a sinhora nun sabe? Cumo aquela de pano que nóis põe na cabeça prumode carregar lata d água.
- Ah! Sei... a cobra mesma se cortou? Ela quis se matar, é isso?
- É sim senhora, ela fica cum raiva, se corta cum os dente, fica ali e morre.
- Tadinha da cobra...
Apois é, nun é bom presegui cobra. Se ela nun acha quem bateu nela ela se mata.
Ah! Cobra patrona é uma cobra véia, antiga, de famia, sacumé?
- Sei. Obrigada, você conta coisas que só vendo para acreditar...
- A sinhora qui sabe...


Causo contado por Iraildes , adaptado e escrito por Yara Cilin Lima Oliveira

Imagem: Casa  Fazenda na Serra da Canastra ( que me perdoe o autor, não sei seu nome para citar, achei na NET)