A CADERNETA DE ADRIANO


Ele mantinha uma caderneta com anotações. Gostava de ler suas peripécias sexuais. Dizia que nascera para curtir o que a vida tinha de melhor. Homossexual assumindo, pensava em sexo a maior parte do tempo. Colecionava cuecas dos parceiros que tinha mantido algum tipo de intercurso. Contava já com mais de duas centenas. Então resolvera anotar com quantos saía por dia. Assim colocava também como foram às relações, os tamanhos dos órgãos, espessura e o gosto dos semens. Tornara-se um especialista em degustar sabores. Na rua sempre media as genitálias e ficava imaginando como seria com esse ou aquele. Sua lista contava com pintores, pedreiros, carteiros, motoristas, gerentes de supermercados, padeiros, donos de estabelecimentos, religiosos, policiais, executivos, estudantes, doutores, casados, noivos, solteiros... Anotava também de onde eram: americanos, italianos, baianos, pernambucanos, manauaras, paulistas, mineiros, ingleses, cariocas, paulistanos, paranaenses, cearenses, gaúchos. Adorava urinar em mictórios públicos, pois lá funcionava o mercado de pênis, e o ponto de encontro para junções carnais. Alguns eram violentos, outros afoitos, uns mais dóceis. Ele só não gostava das escandalosas. Algumas mulheres o achavam um homem atraente, porém, mas ele dizia não gostar da mexerica, preferia a banana. Uma ainda insistiu, insistiu, ele tentou, porém ao ver a talho no meio das pernas da mulher correu para o banheiro e vomitou. Desculpa amiga, foi o que disse. Continuou em sua vida luxuriosa. Gostava de muito de mordidas e chupões. Era-lhe tamanha alegria ver as caras de satisfação de seus parceiros. Vê-los em plenos êxtases. Achava-se superior ou quase igual às mulheres. Quando chegava em casa, tirava roupa, e qual Narciso, admirava as marcas do amor selvagem. Nossa! Esse pegou forte! Olhe quantas chupadas! Você é demais! E assim foi por algum tempo – era meados dos anos oitenta. Até – e ele que era tão metódico com suas anotações, essa lhe passou despercebida –, quando lhe apareceu aquela mancha...


20-21/03/09


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Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 23/03/2009
Código do texto: T1501158
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