Foi como nascer de novo.

A mãe gritou e em seguida desmaiou, foi amparada por alguns estranhos...

... O pai estava preso pelo suporte na cadeira do brinquedo e não conseguiu ser rápido o bastante para fazer coisa alguma...

... Todos no parque estavam em pânico quando viram a roda gigante parar em meio ao seu movimento tradicional, fazendo um ruído estridente e submetendo todos que nela estavam a um solavanco impressionante.

_ Deus do céu! Vai partir!_ Pessoas no solo olhavam para cima de forma desesperada, o brinquedo pareceu que ia tombar, uma multidão que estava na fila para andar no brinquedo saiu correndo aos gritos; pais e mães carregando seus filhos e filhas, tios e tias com seus sobrinho e sobrinhas; adolescentes e jovens. Todos correram como se uma bomba relógio estivesse para explodir.

Aqueles que estavam em outras partes do parque ouviram o som dos gritos de terror e pararam o que faziam para averiguar o que estava acontecendo. Alguém chamou o corpo de bombeiros, alguém chamou a segurança do parque, alguém chamou a polícia.

Mas o pânico e a tensão ficou ainda maior quando notaram que uma menina fora arremessada para fora do brinquedo e por um milagre jazia presa pela correia de segurança sabe-se lá como; já seu pai ao vê-la sair voando com o solavanco da monstruosa roda, tentou de todas as formas possíveis soltar a correia que o prendia, mas não estava conseguindo; a pressa, o terror de ver a filha de onze anos sendo arremessada para a morte e todas as emoções que podem passar pela mente de uma pessoa o atrapalhavam.

Ingrid, a menina, chorava e soluçava presa à correia que por sua vez já estava se partindo e não suportaria mais do que alguns segundos; nenhum resgate do mundo ia chegar em tempo.

_A menina vai cair!

_Ai meu Deus do céu!

A multidão tentava pensar em algo, mas já estavam acostumados com a idéia de não poder ajudá-la, até que...

...Um homem apareceu saindo rápido da gaiola imediatamente atrás daquela de onde Ingrid pendia para fora.

_ Filha! Filha!Ingrid!_ O pai gritava sem acreditar no que tinha visto; não podia crer que perderia a filha a quem amava tanto.

A menina berrava incontrolavelmente, pois o cinto rasgava rápido.

_Mãe!... Mamãe...Socorro!

Outras pessoas desmaiaram no solo.

O homem se movia rápido agarrado aos ferros da roda gigante, era possível ver que ventava bastante lá no alto do brinquedo porque as roupas do rapaz esvoaçavam bastante. A menina Ingrid o viu se aproximando e estendeu-lhe a mão num ato desesperado, mas ele ainda estava longe.

_ Olhe pra mim! _ gritou ele.

_ Eu vou cair!

_ Não vai! Olha pra mim! Não olha pra baixo!

_ Eu vou cair!_ insistia ela.

No chão as pessoas viam a tentativa heróica do jovem e torciam para que nada de ruim acontecesse.

_ Ela vai cair._ disse alguém.

Outro concordava:

_Não tem tempo, ele não vai chegar.

Uma mulher no meio da multidão comentou:

_Ele vai chegar sim.

As opiniões discordavam e todos estavam falando uns para os outros debilmente; um grupo em especial tentava reanimar a mãe de Ingrid que desmaiou ao vê-la ser jogada para fora de sua gaiola; a própria mãe não tinha ido ao brinquedo por ter medo de altura, a criança insistiu muito.

Os aplausos subiram até os céus quando todos viram o rapaz se arremessar de um ferro para outro e finalmente segurar a jovenzinha com uma das mãos.

_ Jesus; Ele conseguiu! Conseguiu!

A felicidade tomou conta dos corações de todos ao ver o homem alcançar a menina.

_ Agarra meu pescoço._ pediu para ela, e continuou._ Meu nome e Ângelo; qual é o seu?

Ingrid chorava em torrentes, não conseguia falar. Segurou tão firme que Ângelo perdeu o fôlego por alguns instantes.

O operador do brinquedo tentava em vão fazer com que ele voltasse a funcionar, uma espécie de pane mecânica e elétrica tinha causado todo aquele problema, o que era muitíssimo estranho porque o brinquedo havia passado por uma revisão completa dois dias antes.

Ângelo conversava com Ingrid para tentar acalmá-la:

_ Vai dar tudo certo, ouviu, vamos descer.

A multidão começou a gritar palavras como:

_Herói!

_Bravo!

Pessoas que vinham de outros cantos do parque queriam saber do ocorrido e eram informadas da seguinte forma:

_ O cara pulou de um ferro para outro, lá em cima, e agarrou a menina.

E outro:

_ Parecia cena de filme de Hollywood.

Ângelo e Ingrid começaram uma descida devagar; finalmente o pai, em prantos surgiu pelo vão de sua gaiola, e, sem acreditar gritava o nome da filha o tempo todo.

O herói e a menina foram passo a passo recebendo os aplausos da multidão em êxtase; aplausos, assobios, gritos de incentivo e toda sorte de elogios que um homem pode receber.

As pessoas das outras gaiolas também incentivavam admiradas pela bravura daquele homem em expor a vida para salvar a menina e diziam coisas do tipo:

_ Mais que coragem!

_ Ele é um anjo.

Ângelo chegou ao solo são e salvo com a menina presa ao pescoço e foi só o que as pessoas estavam esperando para ovacioná-lo ainda mais. Minutos depois, quando os bombeiros já estavam no local, ele foi cumprimentado por praticamente todas as pessoas que ali estavam e eram muitas, os pais da menina fizeram questão de agradecer pelo ato de heroísmo, mesmo sem saber ao certo como; o dono do parque queria lhe recompensar com dinheiro, mas Ângelo não aceitou, as pessoas ali presentes fizeram um abaixo assinado para que uma placa de bronze fosse feita e colocada no parque de forma a imortalizar aquele ato; Ângelo disse que não era preciso nada daquilo, porém, não teve jeito, ficou acertado que seria feita a placa e colocada num lugar próximo da roda gigante para que todas as pessoas um dia soubessem do salvamento sensacional que aconteceu naquele parque um certo dia de um certo ano.

Todos que ali estiveram e presenciaram o acontecido de repente se pegaram orgulhosos de ter estado naquele lugar naquele momento, sentiam-se como se eles também tivessem ajudado com sua torcida e seu pensamento positivo. Para muitos deles foi o melhor dia de suas vidas até então. E para Ingrid e sua família foi como nascer de novo.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 26/03/2009
Código do texto: T1507977
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.