TEODORA

Na estância do coronel Lindório, enquanto os peões saiam para as lidas, e as mulheres ficavam nos afazeres, a piazada fazia as suas traquinagens. Se enbretavam nos capões de mato, ou atazanavam os animais presos nas cocheiras.

Certa feita o Tiãozinho, filho do sota-capataz, colocou um carrapicho na traseira do petiço baio e levou um coice daqueles. Não foi nada grave, contudo o fazendeiro preocupou-se e imediatamente contratou a Teodora para a função de ama-seca. No primeiro dia, o patrão ordenou: “Mulher, olho na meninada. Presta atenção no Tiãozinho, que é o mais tinhoso de todos”.

Quando algum guri sumia, a visão de lince da matrona identificava o fugitivo. Era o que bastava para trazer o desgarrado de volta.

Naquele dia, a criançada brincava no pátio da casa, bem em frente ao avarandado. Foi quando o Tiâozinho, meio envergonhado, veio e avisou.

- Dona Teodora, preciso ir lá.

- Onde, guri?

- Fazer o que ninguém pode fazer por mim – disse, esfregando a barriga.

- Pois vá! – concordou a mulher.

E lá se foi o piá ao encontro das suas necessidades. Passado algum tempo, a Maricotinha avisou:

- Dona Teodora, o Tiãozinho ainda não voltou!

Campeando em volta a matrona viu que o traquinas não estava por ali. E, levantando um pouco a saia comprida, partiu célere em direção à casinha, onde certamente o guri estaria se aliviando. À porta, gritou:

- Tiãozinho!

De dentro ninguém respondeu.

- O que tu tá fazendo? O cheiro tá muito forte.

Não recebeu resposta.

- Limpa bem a bundinha e depois lava as mãos na sanga.

Silêncio total.

- Tu não vai limpar a bundinha?

- Vou! – respondeu uma voz de trovão, enquanto o negro Malaquias saía da patente, abotoando a braguilha.

A mulher caiu sentada de susto. E olhando para o lado viu o Tiãozinho saindo do capão de mato, também abotoando a bombachinhas.