A ALMA QUE NÃO NASCEU

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Recontando Contos Populares

Era uma vez um advogado muito velhaco e sabido como não havia outro. Ninguém o enganava e ele gabava-se de haver "engazopado" toda a gente com quem tinha negócios.

Era já sabido, naquela época, que alma de advogado não entrava no céu. Mas como o causídico era fino como um rato e não havia notícia de jamais haver perdido uma demanda, quando morreu foi bater à porta de S. Pedro.

O santo mal abriu à porta e deu de cara com ele, recuou espantado da tamanha ousadia.

— Não se espante, meu Santo, quero entrar no céu. Estou arrependido, venho suplicar a sua misericórdia.

— Impossível, respondeu São Pedro. Siga o teu destino, já que foi o maior velhaco de tua região.

Mas, o advogado tanto fez e aconteceu que o santo lhe dirigiu a seguinte proposta:

— Permito que entre no "quarto" das almas, às escuras, e da lá me traga a alma de Adão. Se conseguir, visto que é esperto, entrará no céu.

Assim se fez. E daí a pouco voltou o advogado com a alma de Adão.

São Pedro que queria apenas brincar com ele, ficou muito admirado daquele feito, e exclamou:

— Mas como conseguiu descobrir essa alma em meio de milhões de outras!?

O bacharel respondeu:

— É que não sou tolo, meu Santo. Estando todas as almas nuas, fui apalpando e quando encontrei a que não tinha umbigo, já sabia ser de Adão que, como reza a Sagrada Escritura, não nasceu. Não podia, por isso, ter umbigo.

São Pedro, nada tendo de responder, deixou o advogado entrar no céu. E foi assim que, pela primeira vez, entrou no céu uma alma de advogado (¹). ®Sérgio.

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(1) Este conto foi parafraseado de uma lenda que corre em variantes na França, na Espanha, em Portugal e, em outros países da Europa.

Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 17/04/2009
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T1545186
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