Pra não dizer que não fui feliz (Um)

Capítulo I (pelos idos de 1.958)

A gente pode ser pobre de dinheiro, só até quando quiser. Mas de idéia, essa não pode faltar. Minha mãe dizia... “Ainda compro uma máquina de costura pra fazer roupas pra esse menino, aproveito e faço as minhas ”.

Morávamos num sítio modesto, era uma parte de herança deixada pelo meu avô materno. Avô, desses que nem sabia ao certo o quanto era ou que poderia ser abastado! Meu pai, ainda lembro bem, era um homem muito trabalhador, tinha uma mão boa pra plantar... Colhia fartura de tudo que semeava no chão, a gente podia esperar, era abundância na certa. Mesmo com a terra seca ele dizia – dez de outubro meu filho, o milho você já pode plantar, pode o chão estar no pó. Eu ficava observando o tempo, mesmo sem muito acreditar. Mas não é de ver, dava em abastamento.

Fez um roçado, desse que não podemos mais fazer, plantou arroz, melancia, pepino e outras plantações. O arrozal veio estrelado de tão verde, bordou o chão. Ele dizia pra minha mãe – esse ano você pode preparar, vamos comprar sua máquina de fazer roupas, você vai ver. O arrozal cresceu, cacheou tanto que chegava virar pro chão. E meu pai todo contente, chamou os vizinhos pra colher, foi fartura só.

A viagem já estava marcada no calendário da minha mãe, pois meu pai, só sabia desenhar o nome. Não teve oportunidade de estudar, teve que trabalhar ainda criança, pra ajudar no sustento da família. Eu não via a hora de conhecer uma cidade grande, diziam que lá nas cidades grandes tinha muitos carros, que ficavam indo e vindo o dia inteiro. E eu ficava todo eufórico, fazia minha mãe mostrar na “folhinha” o dia da viagem. Ela tentava me explicar quanto tempo ainda ia levar pra gente viajar. Queria ver meus primos, ver os carros que tanto falavam e chupar muitos picolés.

Enfim, chegou o dia... Fomos muito cedo pra cidade mais próxima, de lá saia “jardineira” que nos levaria até o destino desejado. Lá chegamos, meu pai logo tratou de chamar um “charreteiro”, desses que ficam ali mesmo, nas imediações das rodoviárias esperando seus fregueses.

Foi um festejo ao chegarmos à casa do meu padrinho e tio, pois minha mãe muito prendada adorava agradar minha tia e os sobrinhos, a toda meninada. Era queijo, doce de leite, quitandas e muitas vezes até uma linguicinha de porco, era uma festa.

Por lá ficamos uma semana ou mais...

Continua no Capítulo II

Juares Moraes
Enviado por Juares Moraes em 29/04/2009
Reeditado em 30/04/2009
Código do texto: T1566877
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