Pra não dizer que não fui feliz (Quatro)

Capítulo IV

Dei jeito na minha pressa, mesmo depois sendo subida, decidi pela travessia do córrego. De morro acima ele poderia desistir, mas foi engano meu, ele estava determinado em me apanhar de qualquer forma. Por certo minha mãe já espantada lá da janela esperava resultado.

Eu ia correndo e imaginando “Êta rodinhas danadas, não foi meu dia”

Meu tio tinha o costume de deixar daquele lado, as vacas paridas de novo e, vaca parida de novo quando vê menino é pior quando vê cachorro, investe mesmo. Mas nem me lembrei desse detalhe, ou o medo era tanto que fiquei corajoso.

- “Peraí” menino, gritava meu pai!

Mesmo na subida, podia “jogar baralho na minha camisa”. Mas é aí que a gente engana, a força tava pra acabar. Nunca tinha corrido tanto na minha vida. Tinha um frondoso pé de cedro a beira da estrada, quase fazia sombras no rego d’água que servia a casa do tio. Pensei comigo, vai ser ali mesmo... Subi o barranco da estrada e no capim verde me joguei. Meu pai quando ficava nervoso chegava dar gagueira. Chegou bem próximo, me olhou no chão, ali estendido e disse: - "Le... le... levanta ô... ô... o menino, e... e... e toma o caminho na minha fre ... fre... frente, vamos pra casa!" Pus-me de pé ainda meio sem fôlego e fui chorando... e ele: - “E... e... e não é pra cho... cho... chorar”

Estrada afora, eu na frente e ele atrás, foram uns vinte minutos ou mais pra chegar de volta em casa.

Eu só pensando no que iria dar a cena final. Apertei os passos, quando apontei na porteira, já avistei minha mãe... indagando sobre o resultado dos fatos.

Ambos, perguntaram-me qual era meu intento e eu disse: - "Só queria fazer as rodinhas rodarem'. Não entendi nada, imaginei que seria a maior "surra" da minha vida.

Lembrei-me dos carrinhos de “lôbeiras”. A gente com duas frutas grandes fazia duas rodas, fincava ambas em um só eixo. Uma em cada extremidade e uma forquilha fazia o cabo, que servia como volante “eram as rodinhas” dali saia um carrinho imaginário. Não precisava de peias de gado, nem de cachorro para fazê-las deslizar chão afora... Hoje fico imaginando... Pra não dizer que não fui feliz!

De tudo, só me restam quatro coisas: o banco de madeira, a caixa da máquina de costura com sinal da queda, o sítio e minhas recordações!

Juares Moraes
Enviado por Juares Moraes em 30/04/2009
Reeditado em 01/05/2009
Código do texto: T1568564
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