Brincadeira é coisa séria

1– A ida

Estava tudo combinado. A bagunça seria mais uma grande aventura para ser relembrada quando já estivesse com cinqüenta ou mais, e riríamos muito. E foi isso que aconteceu com meu amigo. Ele me contou com lágrimas nos olhos, já rindo por dentro . Eu também já estava rindo, dele, não da história. Acho que o ano era um mil novecentos e sessenta e seis e João e sua turma compraram passagens para brincar o carnaval numa cidade do interior de Minas, próxima a Juiz de Fora. A empresa de ônibus privilegiada com a escolha foi a do Sr. Ferreira, não porque fosse a melhor, mas,por que era a única. A empresa eram dois ônibus, um indo e outro vindo; quem perdesse um deles teria que esperar doze horas pelo outro. Na rodoviária a lei era seguida. Nada de passageiros de pé, mas, depois da terceira rua, num lugar previamente sabido, vários passageiros embarcavam. E lá ia o ônibus catando passageiros. Numa das paradas o Sr. Ferreira, que estava no Ônibus se dirigiu ao João, por indicação dos amigos que sabiam o quanto valia essa alma cristã, disse. – Você é o João? – Sim, sou o João, seu Ferreira. O que o Senhor Deseja? – É que na próxima parada vai entrar uma freirinha e eu gostaria de pedir que você, sendo mais jovem, cedesse seu assento para ela. Vi a cena. João rindo mais com os olhos do que com a boca e respondendo com aquela calma mineira. Seu Ferreira. O Senhor Sabe pra onde estou indo e, fazer o que?. Vou brincar quatro noites de carnaval, me esbaldar em três matinês, sair de mestre-sala num bloco de sujo e, ainda, cair na gandaia num baile gay. O Senhor Acha justo eu ceder meu lugar pra uma freirinha que vai fazer retiro e passar todo esse tempo sentada contando as bolinhas do terço? Nem **####**!!!(soletrado), digo, nem a pau Juvenal. Riu e encerrou a conversa apanhando pelo gargalo uma garrafa que voava por perto enquanto a turma rolava de rir.

2- A volta

Eu nem falei que a estrada entre as duas cidades era de terra batida, falei? Era. E estava enlameada pois chovera na noite anterior a do retorno. João e sua turma eram foliões sérios e trabalhavam, tinham hora, quer dizer, mais ou menos. E o ônibus partiu, escorregando daqui, derrapando dali, com mais solavancos que na ida. Mas quem se importava? Estavam mortos, cada um na sua poltrona. João sonhava, ria e falava dormindo. Mas o idílio com a poltrona não durou muito. João acordou com um dedo cutucando seu peito e uma voz arranhada dizendo: - Atolou, tem que empurrar. – Hem? Quem atolou? – O ônibus, João. Temos que empurrar. – Hem?. - Pó, João. Levanta aí pra ajudar a empurrar essa p... Tenho que pegar no serviço às oito. – Ham?! As oito? Eu só pego ao meio dia. Empurra lá. E abraçou a poltrona.

Em tempo: A história é verdadeira. Eu só retorci um tiquinho de nada