A Caça e o Caçador

A caça e o Caçador.

Entardecia, o céu de verão entrelaça-se em nuvens brancas como algodão e se distinguem do azul celeste que ocupa a abobada. O sol que insiste em iluminar aquela parte esquecida do planeta emite raios que ao atingir o riacho dá um tom multicolorido às águas e até nos faz sentir ter a vida um verdadeiro sentido de amor... Mais entre a floresta aberta e o límpido céu, a musica do riacho a rolar sobre as pedras, o canto dos pássaros que se despedem do dia e o perfume que torna mágico esse momento... Ele, que desde a noite passada espreita escondido entre as folhagens os passos lentos do alce que se dirige ao rio para a ultima e refrescante bebida antes da longa noite, sem saber que não poderá sorver a água porque um tiro certeiro não se lhe matará a sede, mais irá lhe interromper o próprio ciclo da vida... Um grande estrondo se fez ouvir na floresta, tirando a paz e colocando pássaros em revoada e outros animais em resoluta disparada à busca de abrigo, segurança. O alce caiu há poucos metros do riacho, o seu sangue tingiu de vermelho lúgubre as águas cristalinas criando um cenário de horror.

O caçador abandonou o seu esconderijo, caminhou até a presa que jazia inerte ainda com os olhos abertos como se insistisse em viver. Um sorriso de satisfação foi esboçado mais logo uma preocupação sobreveio-lhe. A presa era maior que ele julgara e o mesmo não poderíamos transportá-la, implicando que a noite vinha e um trabalho grande como retirar couro e separar as melhores partes da carne não era nada animador ante o cansaço da noite mal dormida e os perigos trazidos pela escuridão que fizeram até os habitantes mais primitivos de nossa raça a formarem as primeiras comunidades. Mais, a caçada estava concluída, ele nem necessitava do repasto, mais da gloria, sim! De levar em um alforje a cabeça do animal como troféu e comer a sua carne com os amigos e contara mais uma história...

Há poucos kms dali uma pequena cidade vivia o terror de ter um leão à solta e todos se trancaram em suas casas. Afinal, a fera em plena apresentação do Circo Vida, rebelou-se contra seu domador arrancando-lhe o braço e consequentemente a vida, saindo em fuga. Alguns homens haviam se reunido e armados deliberaram que a caça à fera se daria ao amanhecer. O leão mesmo tendo vivido os últimos anos de sua vida em cativeiro, agora experimentara a liberdade e, como predador que é, procuraria os rios e mananciais de águas para caçar, saciar a sede, assim cumprir-se-ia a sua função precípua de vida, aguçada pelo seu instinto selvagem, ele que durante anos foi enjaulado e privado da liberdade, bebeu água poluída, conviveu com seus próprios excrementos e comeu restos assim como as hienas, agora voltara a ser rei e como majestade nada melhor que alimentar-se de carne fresca com o sangue ainda a correr, uma presa viva que ele a abatesse com violência e dela se deliciasse calmamente.

Guiado pelo seu instinto natural, embrenhou-se floresta adentro, farejando as veredas, logo estava na trilha que levava a água de cuja margem se encontrava o caçador esquartejando o alce que havia abatido. Como um localizador de satélite o leão vislumbrou o caçador, as suas narinas se encheram pelo aguçado aroma de sangue e sentira próxima em muitos anos uma alimentação fresca, viva, com abundancia de sangue a escorrer-lhe pelas presas e até já poderia ter atacado, entrementes, agora ele era livre, rei e forte, anunciou a sua presença com um enorme rugido, ele não seria covarde como o caçador que ante a surpresa nem conseguiu empunhar a arma e sentiu a morte de forma horrível, sendo devorado, tendo o corpo dilacerado e ainda vivo tornara-se a presa de um animal inferior em inteligência mais poderoso na astúcia e que havia se tornado o seu maior pesadelo, e no ultimo lampejo de vida ainda conseguiu ver o riacho tinto de sangue outra vez, só que agora com o seu próprio...

Assim é a vida e os que hoje caçam não muito distante passaram a caça, de predadores dos quais eles jamais imaginaram ser. Tanto na sociedade quanto na política essa cena se repete, agora, o amanhã é hoje... E você?