O SORRISO DA DESGRAÇA

causo contado em Correntina década 60

O Sorriso da Desgraça é mais um dos causos que se contava em minha época de menino, na cidade de Correntina - BA. Esses causos tinham por finalidade mostrar exemplos, supostamente verdadeiros, de fatos que ocorreram com outras pessoas; que se portaram de forma semelhante aquele e foram punidos, conforme o causo contado a queima roupa. Lá em casa essa função era da Mãe Dinda . (Capa do livro: Conto mais um ponto) em outras, seriam as mães, ou irmãs mais velhas, ou alguma baba, que não eram chamadas de babas.

As crianças da era do carro-de-boi, do carrinho de pau, da máquina de datilografia, das ondas do rádio e do raro cinema em 16mm; acrecitavam em tudo e tudo era possível, porque criam. Mãe Dinda

era tremendamente contra, matar passarinhos, lagartixas, ou qualquer outra coisa, apenas pelo divertimento, por isso seus casos também eram ecológicos, no anseio de salvar os pequeninos e indefesos bichinhos. Era chegar em casa com um bichinho matado, que ela tinha um causo pra contar sobre aquela ação. Depois de uma seção de causos, contados geralmente na cozinha, a beira do fogão de lenha, ainda quente do jantar ou café, tomado na hora de dormir; dava vontade de ressuscita as tantas rolinhas e bem-ti-vis; as tantas lagartixas e calangos que matei por matar, lá no velho sítio do Padre André. Quantas vezes, no meio de uma caçada, com estilingue pronto, bastava soltar o açoite, e aquele bichinho de peninhas coloridas certamente soltaria um grito e caía ao chão... Eu desistia e não soltava a pelota de barro cozinho ou bola de gude, mas sabia, que se aquele bichinho estivesse na mira de Bibita de Cinza ou Shuite de Luizinho, não teria a mesma clemência. Eles não tinham uma Dinda que cuidasse deles.!

...

O Sorriso da Desgraça, era outro causo que Dinda costumava contar, nele falava sobre um rapaz que xingava sempre, por mais banal que fosse o motivo, ele escancarava uma “desgraça” que estremecia o chão. Bastava um dia de mal-criação, brigas nas rua, palavrões na porta de casa... E a noite lá vinha Dinda para cabeceira da cama, ou na beira do fogão, quando não nos reunia em seu quarto, para contar causos ou dar conselhos.

Até hoje ainda não me acostumei com enterros e olhar mortos no caixão... Dinda deixou-me com um trauma que me segue desde menino, tem noites que os pesadelos me fazem acordar assustado, as vezes gritando e sendo sacudido por minha esposa e só Jesus na causa, é quem dele está me libertando desta herança do medo! Também pudera, fomos ninados com o Boi da Cara Preta, que tinha uma cara de careta, e pegava menino que não dormia; os causos eram cheios de fantasmas, assombrações e em todas essas cantigas de ninas, só o coitado do gato se dava mau, ao levar uma paulada de nós a ponto de Dona Chica se admirar, como o gato não morreu. que levou uma vinha pegar se não. Geração do medo !

Mesmo com tudo isso, aqueles sim, foram anos dourados da sociedade correntinense, quando Aldegundes desfilava o terno das pastorinhas, pela cidade, em épocas natalinas, Lino e seu Boi era um fenômeno que arrastava multidões; os presépios de natal coloriam os lares e das centenas de presépios, destacavam-se Linda de Petrônio, as Dioras, Diolira, Iôzinho, Safina, Enriqueta de Marcelino, dona Mariquinha e sua filha Sisi, Vandinha de seo Ismael! Foi uma Correntina que jamais se repetira na história, ela passou, não existe mais que fragmentos de lembranças!

A juventude exibia seus talentos em bandas, quartetos e quintetos musicais. Correntina respirava cultura.

Contava Dinda: Um jovem de nome Bento Paixão tinha uma boca maldita e por mais banal que fosse o motivo que o aborrecesse, ele escancarava a voz a xingar uma desgraça maior que a rua onde estava. Fosse um café mal adoçado; o chute errado na bola, uma cachaça ardendo pela garganta; Ah! Desgraçada! desgraça! seguidamente desgraças e mais desgraças. Parecia que o chão se abriria ao meio, na escumugação de Bento. Sua velha mãe já havia esgotado os recursos para corrigi-lo do hábito tão feio. Por fim passou a preveni-lo de que Ela, a Desgraça! acabaria um dia por lhe aparecer; já que ele tanto chamava por ela.

Uma pausa no causo, olhava nos olhos de cada um, continuava Dinda o causo, fazendo as vozes dos personagens do causo..

- Isto é coisa ruim meu filho! É coisa do demo! o inimigo de Deus !

- Eu tenho lá medo do demo! da desgraça!

Respondia o malcriado rapaz! Ele era sempre assim, respondão, mal educado, parecia ter um coração ruim, mas não tinha não.

Um dia, quando já era um rapazinho e saída do mundo dos sonhos para encarar a realidade da vida, andava Bento pela rua das mulheres livres, lá na casa das “Flores Belas; era uma noite, escura, nem Canô nem a lua estavam na rua. A cidade era um só silêncio! Total solidão, apenas o vento frio nas folhas dos flamboyant da praça; nem bêbados perambulavam as ruas; a cidade parecia um grande vazio e lá vinha Bento, cambaleando, bêbado feito um gambá bêbado. Tomou fôlego na esquina da casa de Seo Anjo e depois de uns minutos segurando a esquina, na incerteza se seguia a direita ou se voltava ou se tomava atalho pelo beco da igreja e mercado municipal, quando ouviu um choro de criança, não muito longe, uma criança chorava perto dele, mas ele não viu no primeiro momento, onde estava a criança que chorava na praça. Parou por uns instantes olhou para um lado, outro, prá trás... nada percebeu e desabafou.

- Fica aí desgraça! Não vem não !

O choro continuou ecoando na praça escura, as luzes do hotel de Vivi estavam apagadas e mal Bento deu dois passos para seguir adiante, a criança de novo chorou e Bento a viu assentada na calçada da garagem do Lécheu da Prefeitura; ele já estava ficando arrepiado, mas quando viu a criança, sossegou e foi em sua direção; segurou-a sua mão, alisou seus cabelos e numa atitude de quem não acreditava no que estava acontecendo, passou as mãos sobre seus olhos, já com gesto de raiva e ...

- Tô ruim mesmo! Eu pensei que esse menino tava dentro de uma casa ! Tá na rua mesmo... tá qui no meu braço!

A criança aparentava 4 ou 5 anos de idade, estava só. Bento e respirou aliviado ao ver a aparência angelical da criança, mas logo explodiu-se em ira:

- Issso é queee é ser uma mãe desgraçadaaa! Onde já see viuu deixar uma criança desta idadade, deste tamanhoo, sozinho naaa rua a esta hora da noite! frio ! Mãe desgraçada !!! Vem meu fiu, Biluú, vem cá senta aqui!

Sentaram juntos na calçada da garagem do Lechéu, Bento olhava para todos os lados, esperando talvez, que fosse surgir alguém para pegar o menino, mas nem uma porta aberta, na praça, nem um raio de luz, indicava que alguém estivesse acordado dentro de casa!. Foi até a porta da garagem do lechéu, quem sabe o motorista estivesse dormindo na boléia do carro e espiou pelas frestas.

- Oh! seu Arnaldo ? Liozirio ? Tem alguém aí dentro.

Nenhuma resposta e Bento retorna a esquina onde o menino ainda chorava um choro resmungado e o toma nos braços.

- Que desgraça fria é essa menino! Você tava tomando banho no gelo?

Bento tenta refletir por um instante no que está acontecendo, sacode a cabeça e prefere não continuar imaginando, o que lhe passou pela mente, foi um pensamento terrível. Passa a mão sobre o braço, depois sobre o outro, assentando os cabelos arrepiados, nem parecia mais o mesmo bêbado de minutos atrás.

- Quem será você menino? de quem você é? Docilmente volta-se para o menino e tenta obter dele alguma pista. Cadê sua mamãezinha menino! Não chore ! vamos procurar por ela.

- Buuuaa! Buuuaaáá!

-Ah! que desgraça! Se eu te essa mãe desnaturada!

Murmura como se quisesse evitar que o menino lhe ouvisse os pensamentos!

- Você é filho de puta menino? Não! Não é essas mulheres podem ser o que for, mas tem amor por suas crias! Desgraçada! três vezes desgraça !!

Bento perdeu o controle, não mais falava, gritava, talvez no propósito de acordar alguém que viesse ajuda-lo a socorrer naquele momento, com o menino perdido na noite.

- Não fique com medo, meu fio! vou achar sua mãe.

- Meu dente está doendo!

- Seu o QUÊ! Dente! Você já tem dente doendo! Ai, ai ai ai digo eu agora! Onde você mora diz que’u ti levo pra casa ?

-É lá!...

O garoto aponta em direção a casa das mariposas, Bento, que de lá havia vindo minutos atrás, esqueceu de quem eram os vizinhos das meninas e teve mais uma crise de fúria.

- Tu é mesmo filho de alguma puta ! Puta vagabunda e desgraçada para largar um menino desta idade no meio da noite escura.

-Ai meu dente! Buuuuaaáá!

Chorava irritantemente o pequeno menino.

A postura da voz de Mãe Dinda nos transportava ao local dos fatos, na exata hora em que acontecia. Com os cabelos arrepiados, eu e Javan encostavamos em Henrique o que mais tranquilo ficava, quando Dinda contava esses causos mal assombrados. É que Henrique dormia no quanto com Dinda e eu e Javan em outro. Com os olhos arregalados e nos transportando até o cenário dos fatos, Dinda nos causava calafrios ao narrar suas histórias. Ela sabia os limites de seus meninos, conhecia bem cada um de nós; conhecia a indiferença do Henrique, para com esses casos do além. A coisa era tão levada a sério, que por vezes eu tinha pesadelos, sendo o personagens do causo, perseguido. Mamãe por vezes intervia e alertava a Dinda.

- Maria, Maria, pare de contar essas histórias Tonho tem pesadelos !

- Você não reparou Lú que nenhum deles fala mais palavrão !

Realmente dava medo, mas fascinava muito aquelas histórias e a aquela altura, não importava a opinião de mamãe, queríamos mesmo ouvir o final história. É como vê um filme de terror, dá medo, mas agente insiste em vê, não eu, pois com isso nunca perdi o medo e não assisto, até hoje, nenhum filme que tenha cenas fortes de violência ou terror, principalmente.

E ela continou o causo:

- Buaáá´! Buááá´!!!

Chorava Mãe Dinda, feito o menino abandonado na noite escura e provocava risadas em todos, que por instantes relaxavam Mãe-Dinda, incorporava os personagens de suas histórias, com falas e gestos.

- Abre a boquinha deixe eu vê o dentinho.

-É EssTTeee! aaaaqUUIimmm Ah! Ah! Ah! Uuuuuaaahhhh!

O choro do pequeno menino, de hora para outra transformou-se num sorriso macabro, diabólico, metálico, sinistro. Sua voz não era mais a voz de criança, mas uma voz oscilante entre voz de homem e demônio!...

- Ai! Meu Deus! Meu Deus! Socorro Padre André... Socorro...! isso é a des...gra... éé !

Gritou Bento cheio de pavor e desceu correndo o beco da igreja gritando o nome de Padre André, como se ele estivesse alí no templo e fosse sair em seu socorro. Não olhava para trás, pois tinha certeza de que o menino, ou homem, ou bicho, estava em sua cola. Ao sair do outro lado do beco, na praça da matriz, deu de cara com a estátua de Santo André, viu com os peixes e os pães nas mãos, lembrou-se da homenagem feita a Pa. André, quis parar, mas a voz do menino cão se repetia em sua mente e seu dente crescendo boca afora...

Adrenalina queimou o álcool que corria nas veias em fração de segundos, somente o bafo denunciava que havia bebido. Bento voltava-se para trás temendo a perseguição. Olhou na esquina de Dona Marcolina e viu o vulto de uma pessoa conhecida...

- Aquele homem na esquina de Quinca de Dona Marcolina, só pode ser seu Pedro Guerra, é ele é Seo Pedrinho! O homem de sobretudo escuro, chapéu de massa levemente caído sobre os olhos, paletó cinza, não se movera um dedo, não esboçara uma palavra, apenas ouvia o desabafo ofegante do rapaz, que dele se aproximou dizendo:

- Seo Pe... pe.. drinho! Aconteceu uma des...graça ou desculpe, uma coisa, comigo! Eu entrava no be..be...co da igreja, quando encontrei um meni..ninho chorando, sem pai, nem mãe, choravava com dor de dente... pedi para me mostrar o dente... Seu Pedrinho... ele me mostrou um dentão do tamanho deste tamanho!.

O homem que estava imóvel, calado, limpou a garganta e Bento então levantou os olhos para ele e percebeu com um tremendo calafrio que aquele homem não era Seo Pedrinho o chapéu estava caído sobre os olhos; aquilo era postura de malandro. mas era tarde para Bento! O homem empurrou a aba do chapéu, para trás e sacou um sorriso sarcástico, cínico... Perguntou com a mesma voz do menino do beco da igreja...

- Era maior que este!!! AH! ahah! ah! ah...

O dente do homem saiu boca afora e sua gagalhada ecoou na praça... Outra vez Bento se viu sem pernas pra correr ... Toda a sensação de minutos atrás se repetira! Na lembrança veio a tona as palavras de sua mãe:

- Você chama muito esta coisa e um dia ela vai lhe aparecer!

Bento estava diante da “desgraça!”... A voz de Dinda era assombrosa como o frio que certamente corria pela espinha de Bento, que atônito queria entender o que se passava, mas não tinha tempo para isso, tinha que achar as pernas para correr... correr para longe dalí, e foi o que fez quando suas pernas reagiram; ele partiu em disparada rumo ao mercado municipal, ao dobrar a esquina se esbarrou no velho Moacir que voltava da beira do rio com o velho João de Margarida. O velho Moacir numa ágil manobra agarrou-se com o rapaz, até mesmo por um reflexo de equilíbrio, e gritou:

- Calma! clama rapaz!

Os olhos de Bento estavam petrificados, não piscavam e pareciam querer sair da órbita ocular! Bento gritava pavorosamente e clamava perdão!

- Valei-me Nossa Senhora da Glória, Nosso Senhor dos Passos!!

Socorro Padre André! Eu quero minha mãeeee! Valei-me Jesus, Socorro Padre André! Mãeeeeee!

O Velho Moacir não consegue conter o rapaz diante de seu desespero, ele volta a correr desesperado rumo ao canteiro de obras da barragem. Eles apreciavam a recém inaugurada obra do Mercado Municipal, onde geralmente costumaram tomar o banho noturno,tanto seu Moacir como outros cidadãos da época, com João de Margarida, o fiscal Odilon, até Seo Anjo Brarbosa, havia alterado suas rotinas nos banhos noturno e matutinos, pois alí no cais do mercado o banho não só havia se tornado movimentado, como também iluminado pelos belos postes e lustres fixado sobre o caís, no mais, logo logo se abria o mercado e então tomava-se aquele café saboroso e quente, com beiju, cuscuz, pão-de-leite e bolo de milho frito de Dona Milú e Dona Mariquinha.

-Viu isso João?

-O rapaz parece que viu o capêta Moacir!!!

-Você tem dúvida ? Não viu em seus olhos a expressão de terror e medo. Ele viu sim o Capeta!

Caminharam até a esquina dos fundos da casa de Seo Quinça de Marcolina e viram na calçada o rastro molhado, não era sangue! Era urina humana, seguiram o rastro de urina até a outra esquina, na frente da casa, quando o velho Moacir puxa Seo João de Margarida pela mão, no momento em que ele ia subir a calçada...

- Volte aqui João, volte!

- Você me assustou Moacir

- Alguma coisa aconteceu aqui! E sinto uma estranha vibração...-

Está sentido o cheiro de chifre queimado João?

- Também enxofre!

Os dois fizeram o sinal da cruz, enquanto Seo Moacir iniciava um ritual nunca visto por João de Margarida; falava palavras estranhas, parecidas com dialetos africanos ou latim... João tentou falar alguma coisa e Moacir levantou a mão rumo a sua boca. Assustado João de Margarida sentiu sua boca paralisar ao comando da mão de Moacir. Não sabia ele, até aquele dia, dos poderes estranhos de Moacir, que novamente levanta a mão na direção da boca de Seo João e ....

- Que é isso Moacir ? O que você está acontecendo ?

- O tinhoso esta aqui olhando pra nós!

- Aparição?

- Me descobre quem era aquele rapaz João

- É filho de um operário da barragem que suicidou-se!

- Perturbação maligna!

Enquanto isso Bento seguia em uma só carreira rumo ao portão da Barragem, onde um guarda controlava a passagem de pedestre e automóveis, mas Bento passou pelo portão como um facho de vento, mal Seo Joaquim Santana e João Bode, que trocavam de turno, tiveram tempo para identificar quem era o rapaz; mesmo assim, correram até o portão para fecha-lo, supondo que o perseguidor do rapaz seria o próximo a passar. Não viram nada! Ninguém... Apenas um vento frio passou por eles, arrepiando-lhes os cabelos.

Bento chegou em sua casa e desesperado batia a porta, acordando a vizinhança

- Mãeee! abrrreee a porta! Meu Deus! Mãeeeee!

- Bento! Bento! Meu filho o que aconteceu!

- Abre a poorrtaaaa! Me ajuda! Socorro Padre Andréé!

Na esquina de Seo Quinca de Marcolina, Seo Moacyr e João de Margarida continuam a luta espirutial. Moacir começa falar dialeto estranho.

- Tá falando latim Moacir.

O misterioso Moacir faz aceno com as mãos em seguida cospe no chão de uma sobe uma nuvem de fumaça...

- Meu Deus! Meu Deus... Creio em Deus pai Todo poderoso, criador do céus e da terra, Crio em Jesus Cristo...

- Calma João, calma! Ele se foi !

Finalmente a porta é aberta para Bento. Dona Zenilda tenta aparar o filho que se lança sala adentro caindo no cimento azulado da sala, encolhendo-se no chão, de olhos esbugalhados para porta. Dona Zenilda não havia ainda dado conta do que ocorrera, apenas ouvia o filho com gemidos inexprimíveis tentando se explicar:

- Fe.feche a po.portata ! Fe..che ela tá vindo atrás de mim! Fe.feeche!

- Ela quem Bento! não estou lhe entendendo! Você bebeu! você bebeu! se envolveu com mulher casada?

Ao fechar a porta sua mãe aproveita e dá uma espiada na rua e também nada vê que se explique!

- Ela.. ela! Aquela coisa, aaqquuele nome! Aquela coisa! Vai me pegar!

Não sei por quanto tempo este causo foi contado e quantas se fizeram de Dinda, para contar a seus protegidos. Dinda, no inicio dos anos 80 foi morar com a tia Mirian e Jesulino e com certeza, fez a diferença na criação dos filhos da tia, Cristiano, Rodrigo e Rogério.

Dinda vivia rodeada de rapazes e moças, que por horas se assentavam num cantinho da cozinha de nossa casa e cochichavam... cochichavam... até que as lágrimas dessem, era o início de uma aceitação, ou entendimento entre um jovem casal de namorados.

Dezenas de mães batiam a porta, com seus filhos desfalecidos nos braços. Dinda corria até o quintal de onde retornava com alguns ramos ou folhas de plantas e iniciava as orações de quebra de encanto, ou “quebranto”, mau olhado, que tirava as crianças daquele quadro de apatia... tristeza... e de uma hora para outra, retornavam o seu sorriso nos braços da mãe.

Dinda fora morar com mamãe por volta de 1949, quando nasceu a primeira filha do casal, Lanúsia, a vó, Mãe Aninha, mandou Dinda morar com minha mãe, para ajuda-la cuidar dos filhos e aí vieram depois Diana, Javan, Eu, Henrique, Italo e Weden, todos assistidos por Dinda e por ela, também educados. Dinda não tomava dever de casa, mas estava constantemente cobrando. – Já fez o dever da escola ?

Na década de 80 mudou-se para Goiânia, com Jesulino e Miriam, retornou por volta do final dos anos 90, quando passou a viver sob os cuidados do seu filho mais velho Dr. Vando e do seu caçula Dr. Weden di Sordi. Foi acomodada em uma casa devidamente mobiliada, com uma as vezes duas secretárias, embora ela continuasse até no dia anterior a sua partida, fazendo sua comida e suas necessidades pessoais.

Em junho de 2002, ela acordou, tomou seu banho e voltou para o quarto, o que não era habitual. O silêncio incomodou sua auxiliar, que havia tomado as providências de rotina para o café, mas Dinda não saiu do quarto. Estranhando aquela atitude Maria, a empregada, foi até o quarto para vê o que acontecia e se Dinda estava bem, assustou¬-se ao vê-la sentada em sua cadeira habitual, com o rosário a lhe escapulir das mãos... Chamou-a: – Dinda! Dinda!,

Sem resposta saiu correndo para avisar ao Mano Weden. Dinda havia partido, realmente em paz, sem sofrimento, sem tristezas...como dizem, partiu como os passarinhos, que ela tanto defendeu, pois ela era um deles.

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 19/06/2009
Reeditado em 19/06/2009
Código do texto: T1656623
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