A Lenda de Izé (um causo meio verídico)

Reza a lenda, que em meados dos anos 60, na pacata cidade de São João Del Rei, vivia um simpático casal de namorados, Seu Izé e Dona Maria José Figueiredo. Eram exemplo na cidade. Ele, vindo de humilde família do município vizinho de São Gonçalo do Amarante, e ela, filha de Jacinto Honório Figueiredo, pequeno comerciante local. Conta-se que em uma tradicional noite de quermesse, durante um habitual “rala-coxa” realizado no salão da venda de Seu Nicolas, foi que houve o maior fuxico já visto por aquelas bandas. Durante a festança regada a muita cachaça e leitão a pururuca, apareceu nada mais, nada menos que Juca “Salaminho”, conhecido capanga e homem de confiança do Coronel Teodorico dos Reis, senhor das terras daquela região. Junto a ele, acompanhavam mais três comparsas. E ao chegar foi logo se engraçando com, ainda naquela época, inocente e tímida Maria José. Apeou-se ao lado dela, lhe convidando para dançar, aproveitando um momento ao qual o nosso herói, Izé, havia se ausentado para tomar um “limpa-guela” com seus compadres e contar a boa nova que lhe esperava, sua mulher estava grávida. A moça, como era de se esperar, negou o pedido do fanfarrão. Mas este, como era conhecido por não suportar um não de uma mulher, logo lhe agarrou pelo braço e forçou-a a ir em direção ao forró. Nisto, a moça gritou, e logo seus gritos chamaram a atenção de Izé, que “correu o olho” em volta do local e ao perceber o que acontecia ali, não pensou duas vezes e sacou a “pexera” que se encontrava na sua cintura e foi logo indo na direção de Juca “Salaminho”. Logo, os comparsas do malfeitor se puseram na frente do pobre homem. Mas o desfecho daquela noite foi cheio de tristeza. Tudo foi muito rápido. Izé como um relâmpago derrubou dois e deixou sua “pexera” enterrada no peito do terceiro infeliz. Ficara apenas ele e Juca “Salaminho”. Este sacou uma navalha e abriu seu sorriso amarelo, com dentes estragados pelo fumo. Izé se encontrava desarmado, mas nem por isto se mostrou menos confiante em si mesmo. E em uma investida de Juca “Salaminho”, ele se esquivou com maestria e aproveitando o descuido da guarda aberta do outro, ele logo lhe tomou a navalha e rasgou o olho esquerdo fazendo com que o homem urrasse de dor e saísse pela porta do estabelecimento jurando se vingar. Então os olhos de Izé se voltaram para o rosto de Maria José, e nele ele viu estampado o terror de toda aquela noite. Aos poucos, voltando a si, ele viu em sua mão a lâmina pingando sangue e apesar de ter defendido a honra de sua amada e a criança que carregava em seu ventre, ele teve que cumprir a lei dos homens. No dia seguinte pelos quatro cantos da cidade se ouviu o badalar do sino da igreja anunciando o velório. Um dos capangas que acompanhavam Juca “Salaminho”, não agüentou o ferimento da faca e faleceu. Mas neste momento, Izé já via o sol nascer entre as grades. E assim ele viu o sol por alguns anos, até que cumpriu sua sentença e conquistou sua liberdade. Logo ao "botar" os pés para fora da sela, o que mais desejava era ver sua Maria e sua filha já crescida, de nome Alcione. Porém, o que encontrou lhe deu desgosto. Juca “Salaminho” havia alguns anos raptado a agora não tão jovem Maria José, em sinal de vingança. Alcione, a filha de Izé, havia ficado aos cuidados da avó materna. Mas os anos se passaram, e neste tempo na cadeia, Izé conheceu um novo mundo. E ficou determinado a achar a mãe de sua querida Alcione. Logo o bom e velho homem, se tornou um andante sem rumo, um cão farejador, determinado a andar no encalço de Juca “Salaminho” e recuperar sua amada. Nas andanças que fez pelo mundo afora, ele conheceu um destemido caminhoneiro, que mais tarde se tornaria seu companheiro de jornadas. Seu nome: Edivane. Formado no “Instituto Universal Brasileiro” modalidade caminhoneiro. Homem capaz de derrubar aviões apenas com um olhar, na cidade onde redizia. Mas esta já é uma outra história.