Um Animal de Estimação

Um dia, meu pai chegou de viagem trazendo um sagüi. Uma espécie pequena de primata, de cauda longa conhecido também, como sonhinho, miquinho. Um filhote ainda. Quando meu pai o encontrou, chorava pela mãe morta a poucos metros do corpo. Com certa dificuldade conseguiu pegá-lo. Seu primeiro pensamento foi o de conservá-lo vivo, e depois, trazê-lo para casa, pois sabia que sozinho, no meio do mato, o bichinho acabaria morrendo de fome e sede ou então, serviria de comida para algum predador faminto.

Ao chegar, estava muito assustado. Por isso, nos primeiros dias tentou várias vezes fugir, obrigando-nos a amarrá-lo pela cintura. Com o tempo foi se acostumando e logo, se adaptou ao novo sistema de vida, não precisando mais ficar amarrado. Aprendeu também a se alimentar sozinho. As frutas eram suas comidas preferidas.

Tinha pêlos negros e macios e uma cauda comprida com listras marrons e dentes pequenos e afiados com os quais tentava, insistentemente, nos morder. No entanto, isto não nos impediu de, imediatamente, gostar e cuidar dele como se fosse um tesouro.

E assim foi crescendo... e ficou forte e esperto. Corria e pulava, subia e descia das árvores do quintal da nossa casa, onde fazia acrobacias, pendurando-se pelo rabo nos galhos, encantando a todos..

Com o tempo, apegou-se a todos da nossa casa e todos nos apegamos a ele, passando a ser um novo membro da família. Quando desaparecia, em viagens de exploração pelo quintal, deixava-nos preocupados. Mas bastava assobiar, para que ele aparecesse, pulando e emitindo sons agudos, próprios da sua espécie.

Era também amigo do nosso cão, com quem brincava e se divertia o dia todo, sem nunca se estranharem. Como uma pessoa da família, brincava e aprontava com todos nós.

A má notícia chegou na hora do almoço. À mesa, meu pai comia em silêncio e a minha mãe, que era professora, contava um caso que acontecera na escola, quando ouvimos alguém gritar desesperado à porta da casa. Era minha prima que berrava:

--“Venham todos! O cachorro da minha tia matou o sonhinho”.

Naquele instante, tudo ficou imóvel. Meu pai parou de comer e a minha mãe ficou esperando que ele falasse alguma coisa. Nós não esperamos, saímos correndo com a esperança de encontrá-lo ainda com vida e tentar salvá-lo.

Mas, o quadro que encontramos, era terrivelmente triste e difícil de aceitar. O animalzinho estava lá, de barriga para cima, enrijecido, o pescoço dilacerado, ensangüentado... morto. Morrera não fazia muito tempo. Sob o pêlo macio ainda podia-se sentir um resto de calor. A boca entreaberta mostrava seus dentes afiados e seus olhos estavam abertos e lacrimejantes. De qualquer forma não havia mais nada que pudéssemos fazer por ele, a não ser chorar o nosso choro de criança.

O cachorro, de longe, olhava sua atrocidade covarde, como que se vangloriando do trabalho rápido e bem feito, fazendo crescer dentro de nós uma sensação de revolta e tristeza. Unanimemente juramos vingança.

Foi o fim de quem, durante cinco anos, viveu ao nosso lado nos divertindo, recebendo e dando carinho. A amizade com nosso cachorro não lhe deixava motivo para temer outros animais. Por isso não teve medo.

Enterramos nosso bichinho de estimação no fundo do quintal da nossa casa, debaixo de uma mangueira frondosa, onde a terra era macia. O corpo desceu para dentro do buraco numa caixa de sapato. Cobrimo-lo com terra, numa lentidão dolorida. Por muito tempo nossa casa ficou triste e vazia, sentindo a sua ausência.