Machão Nordestino II

Para melhor compreensão, reporto-me ao caso anterior, em que narro a estória de um casamento “na marra”, resultante de um desvirginamento de uma jovem filha de um valentão lá das bandas do meu sertão. Agora, o caso ainda é mais interessante, porque nem houve a consumação do ato e o rapaz quase ia entrando pelo cano (da espingarda, é claro).

O rapaz, metido a civilizado, com maior tempo de vivência na capital, pouco entendia dos costumes daquele sertão. Como é natural, as moças ficam mais afoitas para quem é de fora, querendo mostrar prestígio, até provocando um ciumezinho aos seus conterrâneos, os matutos daquele lugar. Deve ter sido um desses enciumados que resolveu dedurar a bela jovem ao seu pai, quase gerando uma tragédia. Disse-lhe ter visto sua filha em companhia de um rapaz, num determinado caminho, onde havia algumas plantações, que bem poderiam servir de esconderijo, se o casal quisesse praticar algum ato mais íntimo. O pai, admitindo a esperteza do rapaz, já foi logo pensando que ele havia aproveitado de sua filha, tirando-lhe o cabaço. De imediato, reuniu alguns dos seus capangas e já lhes determinou que liquidasse o rapaz, como forma de vingança. Por sorte, uma pessoa mais bem esclarecida, que se dizia amigo do rapaz e do pai da moça, encontrou com os capangas já a caminho da casa do rapaz, com o objetivo de cumprir a ordem do patrão.

Entendendo a iminência de uma tragédia, resolveu convencer aos capangas de que desistissem daquele ideia, argumentando que estava exatamente a caminho da casa de seu patrão, a fim de encontrar uma solução pacífica.

Por certo devem ter feito um bom acordo, que resultou na melhor festa de casamento que já fui numa fazenda, onde comida e bebida havia com muita fartura. Tal qual a feira de Caruaru, havia bode, carneiro e porco, pato, guiné, galinha, só não encontrei o cururu. E, como no outro caso, o casamento ainda perdura. E, pelo que me parece, uma família muito feliz. Na hora certa, os capangas foram interceptados por aquele anjo que transformou uma iminente tragédia num mar de felicidades.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 08/09/2009
Reeditado em 08/09/2009
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