APOSTA PERDIDA

Turica de Olegário era frequentador assíduo do bilhar de Tota Medrado e gabava-se de ser o melhor taco da região.

Todo ano quando terminava o período de chuvas, Tota Medrado organizava um torneio. Durante uma semana das seis e meia até as dez da noite, os homens se reuniam para jogar e assistir aos outros jogando.

Havia uma bolsa oficial de apostas e outras apostas eram feitas entre si pelos jogadores mais exaltados.

O Cel. Isidoro, confiando no neto mais velho, apostou e perdeu o touro girolando que era o xodó de sua fazenda. Reprodutorzão de primeira que valia mais de meio milhão de reais.

- eu aposto com quem quiser que meu neto vence qualquer um desses jogadores.

Turica de Olegário sentado num banco alto junto ao balcão estava ouvindo as novidades contadas por Marcolino. Quando ouviu o desafio, nem pestanejou.

- eu aceito a aposta!

- o que o senhor tem para apostar?

- meu canário de briga, vale uns 30 contos.

- pois está apostado. Partida de quatro tempos, na mesa da sinuca.

Macaco velho, Turica deixou o neto do coronel, (apelidado de Isinho, por ter o mesmo nome do avô) ganhar a primeira. Ganhou fácil a segunda, perdeu a terceira e ganhou a quarta.

Foram para a partida de desempate. O coronel estava que não cabia em si. Queria apostar com todo mundo que o neto dele seria o campeão.

- eu dobro a aposta! Como é bando de cabras frouxos?

- eu aposto os bois do meu carro. Baralho e Relancim. Não tem melhor parelha em muitas léguas.

-pois eu arredondo para duzentos mil.

Surpresa geral. Isinho entusiasmado pelo crédito do avô parecia um profissional, mas Turica conhecia aquela mesa como ninguém.

No sorteio a saída ficou com Isinho.

Quando as bolas pararam, Turica de Olegário estudou com toda calma as posições e disse.

- vou colocar as sete bolas nas caçapas com uma, no máximo duas, tacadas.

- eu aposto Majestoso como você não consegue.

- o senhor vai perder seu touro coronel...

- se eu ganhar, o que você tem para me dar?

- minha moto vale cinco mil contos.

- está apostado.

O silencio era compacto, tridimensional. Turica andando em volta da mesa, passando o giz no taco.

Parou na quina onde a bola branca, quase em sinuca de bico, era um desafio para qualquer mestre.

Longos segundo se arrastaram até que, com uma única tacada, as bolas foram caindo, uma a uma nas caçapas como que atraídas por algo magnético. A bola branca parou quase no meio da mesa.

Turica colocou o taco no canto da parede e virou-se para o balcão.

- Marcolino, bote duas cachaças. Uma para mim e outra para o coronel. Eu pago. Eu agora sou o dono do melhor reprodutor de Pernambuco.